25 outubro 2008

O que "é" o lobolo? (3) (continua)


Vamos lá prosseguir a série, recuando ainda mais no tempo.
Para Henri Junod e independentemente das variações que foram ocorrendo com a generalização da economia monetária no que ele chamou tribo Tonga, o lobolo é uma troca entre as unidades colectivas que compõem um clã. Uma unidade adquire novo membro (mulher) e a unidade doadora exige a recomposição através de uma compensação que lhe permita adquirir outra mulher. Ainda que conserve o seu chibongo (nome do clã, termo de Junod), a mulher adquirida torna-se, porém, propriedade do grupo aquisidor. É agregada através de "cerimónias complicadas" do casamento, passando a pertencer à família aquisidora tanto ela quanto os filhos que tiver. Não é uma escrava, mas é uma propriedade (sic), não propriedade individual de um homem, mas propriedade colectiva de um grupo. Por isso:
* Toda a família da unidade aquisidora participa nas cerimónias do casamento. Todos os membros masculinos do grupo têm o direito de opinar sobre os bois oferecidos ou sobre o montante monetário versado.
* A mulher adquirida é "esposa presuntiva deles, embora lhes não seja permitido ter relações sexuais com ela (matlulana). Recebê-la-ão em herança se o marido dela morrer (..)"
* Os filhos pertencem ao pai. O direito patriarcal apoia-se no lobolo. Toda a criança de uma mulher "que não foi paga" pertence à família desta e vive na aldeia do tio materno.
O lobolo "nunca é uma compra feita pelo marido, e ainda menos um presente oferecido aos pais da mulher" - Junod, Henrique A., Usos e Costumes dos Bantos. Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, 1974, vol. 1, pp. 268-269 (a edição anterior data de 1913; os primeiros materiais do livro foram publicados em 1898).

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