07 fevereiro 2011

O fim dos silêncios, dos segredos e das distâncias (4)

O chefe deve regulamentar as conversas da aldeia (provérbio congolês)
Coisas novas têm acontecido muito rapidamente. Tal como Lucky Luke dispara mais rápido do que a sua própria sombra, essas coisas novas surgem mais rapidamente do que o próprio novo.
Isso, a propósito de dois fenómenos: o WikiLeaks e os sismos sociais no Norte de África e no Médio Oriente, um e outro amplamente descritos e analisados neste diário.
Prosseguindo a série e tendo em conta o roteiro proposto no número inaugural, vou escrever agora um pouco sobre a distância. 
No contexto deste trabalho, a distância é menos a medida de separação entre duas coisas do que o conjunto de avisos e interditos, visíveis e invisíveis, externos e internos, erguidos a cada momento pelos dominantes diante dos dominados. Cada dominado aprende, desde que nasce, a conhecer e a temer os dominantes e suas práticas, os gestores do poder político e seus símbolos. Os césares habitam locais situados a cautelosa distância dos dominados, resguardados e vigiados em permanência. Contudo, o mais decisivo dos interditos não é o símbolo físico - a casa especial, o castelo, o palácio, a muralha, o aviso escrito, os membros da segurança, a etiqueta sinalizadora - mas o conjunto interiorizado e rotinizado de reverências e de medos, o conjunto de muros psicológicos que habitam os dominados, tornados hábitos desde a mais tenra idade. A distância está especialmente dentro dos dominados, são estes, afinal, que a produzem e reproduzem.
Crédito da imagem aqui.
(continua)

3 comentários:

Xiluva disse...

"A distância está especialmente dentro dos dominados, são estes, afinal, que a produzem e reproduzem." - uau!!!

Salvador Langa disse...

Qualidade de temas sempre melhorando. Cinco estrelas!!!

Abdul Karim disse...

Xiluva e Langa,

Eu tambem "saboreei" e ainda "saboreio" a "agilidade intelectual" do Professor,

So ja esgotei as palavras que descrevem a minha admiracao e "curticao" no sentido positivo,

Eu rendi ha muito tempo ja.

Ate ja decidi que quero ser como ele.

O Mestre esta demais, acho que 'e do ano sabatico ( 'e assim que se diz ?? sabatico ?? ), esta de facto em crescente.

Ihh, nao vale a pena, ele esta "partir a loica", ja esta noutro level, em linguagem vulgar "esta escafiar", "esta escangalhar" o pensamento mediocre reinante, com uma classe rarissima, talvez unica ou unica mesmo em Mocambique.

Ultrapassou a fasquia de Professor Catedratico, Sociologo, essas "denominacoes todas" esta entrar, em "viagem" pra "orbita" de Filosofo Mocambicano, como disse o Langa, ou O Sabio Mocambicano, denominacao que tambem fica bem e funciona pro Mestre.