Hoje, ao almoço, cheirou-me francamente a peixe, aquele cheiro forte, atacante, enjoativo, que detesto mesmo quando me delicio com o saboroso pende lá de Tete, minha terra. Mas que peixe me narinava? Postas, nada peixemente configurado, nada de escamas, apenas o ícone, milimetricamente cortado, postado. Assim é com muitas coisas. Compramos bife, memória distante do boi ou da vaca. Compramos pernas de galinha, coisas assim. Lembro-me de em 1982 ter ficado horas numa longa bicha (fila indiana) para, em Moscovo, visitar, por insistência do guia, um curral de porcos de múltiplos tamanhos. Perguntei ao guia por que está estávamos ali, em meio àquele chiqueiro sem fim. Resposta: a gente vem aqui porque queremos conhecer os porcos, deles apenas conhecemos a carne, os enchidos, perdemos as raízes rurais há muito.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
Prof., já começou a desforrar-se da Camila, ou foi só coincidência!
Mesmo com pende, nkolokolo, capenta, mulamba, txenga, xicoa, alguns nomes de peixes do nosso grande e mítico rio, o Zambeze, há mesmo assim gente a morrer à fome em Tete. Quando não é por causa da fome é divido a má-nutrição! Como pode isso estar a acontecer, tendo o Zambeze por perto???
Um abraço
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