02 dezembro 2008

Que lógicas funcionam nas "cabeças" dos eleitores? (10)


E termino esta série. Propus seis factores a ter em conta quando votamos em Moçambique:
1. Avaliação do governo
2. Perfil do candidato
3. Exequibilidade do programa proposto
4. Potencial persuasório da engenharia política
5. Extras identitários
6. Forças de compulsão.
Ora, o voto voto é irrigado também pelas forças de compulsão, todas aquelas múltiplas - e muitas vezes subtis - forças que, directa ou indirectamente, impõem uma determinada direcção ao nosso voto.
Quanto menor for a escolaridade e mais forte o peso das tradições e da palavra dos guardiões do pensamento local, mais forte é em nós a tendência para seguir o que nos dizem ou nos impõem.
Chefes comunitários, caciques políticos e curandeiros podem jogar um papel fundamental nesse campo. A patronagem, as redes de lealdades, a ameça e o medo não podem ser excluídos da análise dos factores que influenciam e muitas vezes determinam o lado que escolhemos, mesmo a nível urbano, onde a gestão dos recursos de poder é uma arma eficaz para monitorar e assegurar lealdades.
Finalmente, zonas de que foram epicentros de conflito armado podem fazer a balança das preferências inclinar-se para um dado rumo, em função de lealdades castrenses consolidadas, da memória de sevícias sofridas, do registo magnificado de epopeias heróicas, etc.
Em qualquer dos casos, uma pessoa pode ser o mero veículo de determinações que subjugam e ultrapassam a sua independência.
(fim)

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de dizer que estes factores variam de província para província e de distrito para distrito de acordo com as características etnolinguisticas de cada povo. Sendo assim estas ultimas eleições os votos da Frelimo no centro e Norte foram a custa de "Forças de compulsão" ou pelas minhas próprias palavras "de estratégias de ameaças e intimidações" que levaram por um lado as elevadas abstenções e por outro lado ao voto forcado neste partido. No sul predominou o factor "Extras identitários": a maior parte das pessoas naturais de Maputo, Gaza e Inhambane acredita que a Frelimo e deles e não há razão para votar em "partidos de chingonos". Ha aqui, naturalmente, algumas excepções, sobretudo, algumas pessoas "mais atentas" ao trabalho pouco convincente que a Frelimo tem prestado ao pais nestes anos da sua "Hegemonia", estes dão cartão vermelho a Frelimo(maioritariamente na cidade de Maputo). Por ultimo, temos os eleitores do município da Beira que votam de acordo com a "Exequibilidade do programa proposto".

Carlos Serra disse...

Tem razão quanto às possíveis variações.