Brasileirando a alma (12) (continua)

Aqui, nesta imensa cidade, São Paulo, as noites são sempre dias. E eu adoro estudar as almas destas noites-dias. Ali, aquele jovem esperava ansioso possibilidade de furar o mar de viaturas, oscilando em seu skate na faixa para pedestres. E conseguiu furar. Rápido, cavaleiro andante, em corrida vertiginosa, lá foi descendo a avenida, bamboleando seus sonhos na faixa divisória amarelo-vivo, escoltado por viaturas em ambos os sentidos, em permanente risco. A viatura do lixo. O lixo em sacos plásticos, negros e brancos. E lá saem da viatura, em disparada, três apanhadores, corrida louca, gritando, tecendo justas de corrida e heroicidade, roçando pessoas e carros. Jovem do skate, apanhadores de lixo, todos são coágulos de luta na modernidade, rebeldes, subvertores do tempo das aldeias e do futuro sempre igual ao passado.