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Se tivesse ido às comemorações oficiais dos Acordos de Paz assinados em Roma em 1992, Dhlakama teria sido obrigado a fazer duas coisas: (1) reconhecer os donos do país, prestar-lhes contínua vassalagem; (2) ficar prisioneiro de um campo inimigo de luta política, sem possibilidades de fazer frente ao exército contrário presente em peso, sem recurso à emboscada política. Teria sido um soldado convencional integrado no exército contrário, fazendo os mesmos gestos convencionais que os soldados inimigos, disparando o mesmo tipo de tiros-cheios-de-abraços. Mantendo-se afastado, assinalando a efeméride em local por si escolhido, Dhlakama quis mostrar que tem força suficiente para se poupar a genuflexões e a pactos sem futuro. E quis especialmente mostrar que o Estado não é isento, que neste Estado tudo tem a mão da Frelimo. Recusando o sibindysmo, seguiu a via da guerrilha, foi oposição efectiva. Para modificar uma fórmula de Che Guevara, foi o jesuíta da oposição.
Mas o presidente da Renamo tinha ainda uma outra hipótese de luta: a do cavalo de Tróia em nova versão. Indo às cerimónias oficiais, poderia ter conjugado duas coisas: (1) infiltrar a Renamo em território inimigo, disseminando a força de um partido que também sabe lutar sem florestas e que sabe gerir as regras negociais de jogo da gravata: certamente teria ganho pontos no auditório nacional e apoios nos doadores internacionais; (2) manter o golpe rins da guerrilha, comemorando as cerimónias em território neutro por si escolhido. Desta maneira à Janus, teria morto dois coelhos de uma só cajadada ampliando o efeito da técnica de Epeu.
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O humor prazenteiro evita as úlceras, como sabeis. E foi com esse humor, escondido em sisudo rosto de Nietzsche, que um dia, quando instado a dar uma receita de como chegar a presidente de município de uma das nossas cidades, aconselhei dois graves e ansiosos senhores a lerem Maquiavel.
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