04 abril 2007

O Homo Sibindycus



O presidente do Pademo, Wehia Ripua, era simplesmente fascinante quando, bom circense, aparecia na televisão com uma cana de pesca a dizer que estava a pescar a corrupção da Frelimo. Até que um dia decidiu que era melhor regressar à casa paterna e, como belamente dizemos, "prontos", Ripua começou a vituperar a oposição à qual pertenceu e da qual se cansou. E assim desapareceu da visibilidade o Homo Ripuensis.
Mas bem mais interessante do que Ripua é o turbantoso Yá-Qub Sibindy, expulso de Renamo em 2000, que, após ter mudado de nome e de religião, convertendo-se ao islamismo, fundou o PIMO, partido no qual quis inicialmente injectar um alma islâmica agressiva e um estatuto jurídico respeitável.
Mal sucedido na operação, o charmoso político dos turbantes e das capulanas iniciou, então, uma carreira de crítico leonino da Frelimo, tentou a chance nas presidenciais e na legislativas, mas nada resultou. O milhafre descobriu logo a fragilidade do pardal sibindyano.
Tendo verificado que a estrada que usava não chegava a lado algum, optou por um picada mais remuneradora e, então, juntou ao uso do vistoso cajado com o qual por vezes se passeia nas ruas de Maputo (colado à postura de ermita pensador), a criação de uma pomposa Fundação de Luta contra a Pobreza para a qual, afirma com regularidade, tem conseguido trazer financiamentos árabes.
De rádio em rádio, de televisão em televisão, de jornal em jornal (especialmente na sua guarida clássica, o "Notícias"), o bem-amado Sibindy decidiu, então, amar a Frelimo. Amar a Frelimo e desgastar a oposição, especialmente a Renamo e, aqui, seu tio, Afonso Dhlakama.
Por outras palavras, o itinerário do nosso Homo Sibindycus é bem mais consistente do que o de Ripua.
A estrutura de ariete assumida pelo presidente do PIMO foi logo recompensada com o convite para estar presente no último congresso da Frelimo, realizado o ano passado em Quelimane.
A fechar a abóboda, o turbantoso Sibindy decidiu, agora, meter queixa em tribunal contra o presidente da Renamo, acusando-o de discurso castrense, poupando à Frelimo as acções directas. E ontem foi recebido pelo presidente da República, Armando Guebuza.
O presidente do PIMO não tem qualquer hipótese de obter um eleitorado, mínimo que seja, que lhe permita chegar à Assembleia da República. E tentar chegar a embaixador ou a ministro, nem pensar, teriam primeiro as galinhas dentes do que ele chances.
O sibindysmo é, portanto, a via mais inteligente para alcançar duas coisas com o apoio firme da Frelimo: corroer a oposição - tentando decapitar a força da Renamo atingindo o seu presidente(que a Frelimo teme) - e, como prémio, assegurar uma renda ao nível de um lugar na Assembleia da República como Calibão que, porque reconhecido ao seu Ariel, decidiu não mais protestar e dizer impropérios, comendo os restos da comida que a Frelimo lhe dá e lhe poderá continuar a dar. Na Assembleia poderá, então, fazer duas coisas: louvar o partido no poder e exibir o seu fascinante guarda-roupa.
Assim se parecem cumprir, interligadamente, três regras básicas do xadrez político:
1. Se queres destruir a oposição dá-lhe um líder
2. Se a cidade inimiga é forte, evita as bombas e prefere os aliados internos
2. Se o adversário é vigoroso, torna-te capacho.

8 comentários:

Cl@]\[d€$Ti]\[®™ disse...

Muito bem escrito!!!
Sem sombra de dúvidas, o texto, deveria estar em todos jornais do país.

ninozaza disse...

Infelizmente a blogoesfera não se encontra acessivel para todos, este texto seria muito bom para ajudar as pessoas a perceber as atitudes deste político.
Já agora Professor porque não o envia a Imprensa?

Carlos Serra disse...

Pode ser que algum jornal o aproveite, pois já jornalistas que frequentam este portal.

Egidio Vaz disse...

Mas atenção: a trajectória traçada pelo Professor não é imune de imprevistos.
Ya Qub Sibindy pode por essa via fragilizar a Renamo. E fragilizar-se também, como homem da Oposição. Ao demarcar-se da "Oposição", criando a sua Oposição Construtiva" Sibindy pode estar a dar sinais que muitos precisam para melhor comprender o ambeinte político em Moçambique: o fechamento no acesso a meios de reprodução política, nomeadamente recursos financeiros, humanos e patrimoniais e a relação patrimonial das instituições do Estado com os partidos da oposição. Voltarei p dar continuidade

Carlos Serra disse...

Prossiga, Egídio, precisamos compreender o lugar aparentemente crescente do sibindysmo no cenário político nacional.A propósito: tanto pode fragiliar como ampliar a Renamo. O problema é que Sibindy joga na cidade de Maputo e os votos ganham-se na savana.

Anónimo disse...

Hey Prof,

To plenamente de acordo comsigo!

A pseudo-politica ou politiquisse adoptada pelo sr. Simbindy e companhia demonstra claramente que o seu majestoso ‘Bloco da Oposicao Construtiva’, que de construtivo nada tem, distanciou-se virtiginosamente dos propositos que ditaram o seu surgimento. Bloco sem ideias e, por seguinte, sem nenhuma visao diferente do partido mãe, o dos camaradas! O sr Simbindy e sua pomposa cúpula, grande parte deles desertores, há muito que suicidaram-se politicamente.

O fenomeno Simbinismo, galvanizado com o congresso de Quelimane, me parece bastante passageiro. Os Moçambicanos divertem-se as gargalhadas quando o vem falar porque há muito que perceberam que se trata de algo instrumentalizado, apenas para desviar as atençoes.

Água vem....Água vai.................

Egidio Vaz disse...

"Os votoc ganham-se na savana"...
Eu digo, não só, também da carteira endinheirada, da boca dos jornalistas e da "comunidade internacional" que aparentemente sanciona a justeza ou não das iniciativas política snacionais.
Portanto, a trajectória por si traçada lança Sibindy para o Parlamento no próximo ano; o que é verosímil. Todavia, pode também ser outra coisa. Por hora, não se sabe bem o preço com vendeu a a sua alma. Será mesmo a cadeira da Assembleia da República? A bancarização (financiamentos, acesso á creditos ou mesmo donativos financeiros e ou esquemas de participação em empresas)da sua Fundação Contra a Pobreza?
De uma perspectiva meramente patrimonialista, o assento parlamentar pode ser algo difícil de assegurar dado a imprevisibilidade do que amanhã poderá acontecer: o melhoramento do esquema de fiscalização, reportagem e denúncia das ocorrências aquando dos próximos pleitos eleitorais por parte da Oposição pode tirar sono tanto à Frelimo como a Sibindy. Devemos considerar outras opções que jogam a favor ou contra ele.
Estará a Frelimo interessada em cooptar Sibindy? Ou é ele que se entrega à troco da sua visibilidade?
Estará Sibindy interessado sobre o seu futuro político no País ou, à semelhança de Máximo Dias, também caminha para a ONGenização do PIMO? E o Parlamento Sombra? Que sabemos nós sobre ele? Os seus componentes estão dispostos a ver Sibindy sozinho na AR? Qual a moeda de troca desse sacrifício?
AInda volto. Vou beber água.

Carlos Serra disse...

Quem sabe, Egídio? A tal bancarização...