A convite do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane e para participar quer na divulgação dos resultados da pesquisa em curso - por mim dirigida - sobre linchamentos na periferia da cidade de Maputo a cargo da Unidade de Diagnóstico Social, quer no estudo de uma eventual publicação conjunta tomando também em conta a realidade brasileira, virá a Maputo, em data oportunamente a indicar, a socióloga brasileira Jacqueline Sinhoretto, que já estudou linchamentos em bairros de periferia de grandes cidades do Estado de São Paulo e trabalha actualmente no Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
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No seu informe anual à Assembleia da República, o procurador-geral da República, Joaquim Madeira, Madeira referiu, segundo o "O País", que "quanto aos linchamentos trata-se de uma prática que, para além de perigosa, tem dado imagem falsa de sermos uma sociedade violenta, desumana e quase primitiva, onde homens, mulheres e crianças participam na preparação requintada da morte do seu semelhante, que também festejam." É pena que, ao analisarmos fenómenos como os linchamentos, a visão moral eclipse a nossa capacidade para tentar compreender, com profundidade, de que maneira as margens podem tornar o rio violento.
2 comentários:
Prezado Professor,
1. As infra-estruturas urbanas de Maputo à data da Independência estavam projectadas para uma população inferior a 500 mil habitantes.
2. Nos últimos 30 anos a população da cidade e subúrbios quadruplicou. Entretanto, as infra-estruturas de base não cresceram proporcionalmente. Foram sujeitas a maior pressão e, sem adequada manutenção e conservação, degradaram-se aceleradamente.
3. O drama de hoje é estarmos perante uma cidade e subúrbios sem infra-estruturas para a pressão urbanística real. E, mais grave, sem ideias pragmáticas e sustentáveis para suster /inverter a situação.
4. O homem, como qualquer outro animal, precisa de espaço e é cioso do seu espaço. Os não racionais demarcam-no com a própria urina. O homem, com muros, arame farpado e/ou electrificado, segurança privada, etc.
5. Quando o Governo se “marimba” para o facto de cerca de 80% da população fazer da agricultura o seu modo de vida e se esquece de criar um mínimo de condições realistas de incentivo à produção, comercialização e circulação de pessoas e bens, para que o nível de bem estar no campo, no mínimo, não se degrade ano após ano, está, obviamente, a CHAMAR A POPULAÇÃO para os centros urbanos Ajudado /apoiado, pelas sofisticadas máquinas de apelo ao consumismo que inundam os meios de comunicação social, públicos e privados. O repto é: consome e ganha!
6. A população camponesa, sempre generosa, tem respondido ao CHAMAMENTO do Governo. Consequência: em três décadas a população activa nacional mais que duplicou e a produção agrícola, em quantidade, na maior parte dos casos, está muito abaixo dos níveis de 1974. Ou seja, a produtividade agrícola nacional, onde pulula 80% da população, degradou-se, caiu em flecha: os camponeses e a agricultura em geral, está menos competitiva que há 30 anos.
7. Ora, como o espaço infra-estruturado nos centros urbanos não é elástico, o bicho homem entra em conflito. Num ambiente onde o emprego é escasso, a subsistência cada vez mais difícil, o apelo ao consumo uma enormidade, a defesa e segurança publica quase uma utopia, VALE TUDO para assegurar a sobrevivência. Como na verdadeira Selva, “quem os seus inimigos poupa às mãos lhe cairá”, os que nesta “selva urbana” sentem o seu território e bens em risco … apressam-se a liquidar os invasores, sem olhar a meios.
Um abraço,
Florêncio.
Não me resta outra alternativa, Florêncio, senão ter em conta o que escreveu. Toda a equipa da UDS lerá isso. Obrigado.
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