15 abril 2007

Sérgio Vieira, o fino castrense


Na sua habitual crónica no semanário "Domingo" de hoje e a propósito da tragédia de Malhazine e da exigência popular de demissão do ministro da Defesa, Sérgio Vieira ocupou duas enormes colunas a vituperar o que intitulou "cultura do bode expiatório". Isso é muito mau, escreveu Vieira. Por quê? Porque, afinal, há "uma responsabilidade colectiva" (sic) em relação à tragédia de Malhazine. E qual é a posição certa? Claro que a dele, assim enunciada: "Na minha cultura de responsabilidade permanece-se no posto, trabalha-se com afinco para reparar os danos, confortar as vítimas e verificar que nada de similar venha a ocorrer, exigindo para tal os meios adequados. Castiguem-se os negligentes, mas há uma responsabilidade colectiva". Por isso, o meu conterrâneo Sérgio opõe-se vivamente a que "uma parte da sociedade se tente erigir na consciência moral dos moçambicanos". Isto, depois de revelar que, quando das explosões de 1985 no paiol de Malhazine, participou com o general Lagos Lidimo num relatório no qual pediu responsabilidades para a negligência de então.
E Sérgio termina desta maneira a sua ternurenta crónica: "Solidarizo-me e abraço as vítimas da nossa demissão colectiva".
Ora, ele escreve depois que a comissão de inquérito nomeada pelo presidente da República deu conta de negligência "constante e acentuada de quem tinha a responsabilidade de guardar todo aquele arsenal bélico de enorme potencialidade mortífera" (editorial do "Domingo" de hoje).
Mas porque conhece Schmitt, Giap e Mao, em palavras castrenses de coronel na reserva, embutidas em veemente filosofia militar, esquecendo sem esquecer que o tempo é de paz e que certas palavras a ferem, Sérgio tenta convencer-nos de que o fundamental é saber que "há que ganhar a guerra, mesmo se algumas batalhas se perdem. Não se muda de comandante quando se perde uma batalha e ignoram-se as causas da derrota".
O meu conterrâneo Sérgio Vieira, que imputa a todos os Moçambicanos responsabilidade e demisssão colectivas (chiça, que descaro, que descaro! Vá dizer isso às vítimas mortas e vivas da tragédia, vá!) não devia, em certas alturas, fazer prosa tal como o Senhor Jourdain fazia: sem o saber.
A luta continua, coronel na reserva Sérgio Vieira, por um contínuo e patriótico alargamento da consciência moral dos Moçambicanos.
__________________________

1 comentário:

Anónimo disse...

O Coronel, Professor Doutor, Investigador, já nem se dá ao trabalho de rever suas crónicas antes da publicação. Desta vez exagerou na demagogia, que é peculiar em si. Vejamos:
1. “… quando muitos assumem a ética e agem, sem fazer barulho, para que se mudem os maus hábitos adquiridos”.
 Coronel, segundo este seu critério, o Sr. é, seguramente, a pessoa com menos ética neste país: há lá quem mais “berre”, barafuste e faça algazarra por tudo e por nada, do que o Sr.?
 Com que então, para os outros, ética é ver, ouvir e calar?
2. “A reconciliação fez designar à cabeça da defesa quem não sabia distinguir a mão direita da esquerda; … “.
 Coronel, entende que era preferível manter a guerra civil. Acha mesmo que a reconciliação foi um erro? Quem esteve desde a 1ª hora da independência nacional na Presidência da Republica e a chefiar o governo, mesmo quando integrou os tais incapazes, no seu ponto de vista? Foi a Frelimo! Quando se é Poder, responde-se pelo bom e pelo mau!
3. “A manutenção correcta dum paiol custa dinheiro. …”.
 Coronel, não acha que com um pouquinho mais de organização, se poupa muito dinheiro; que os chefes “grudaram” ás secretárias e não acompanham as acções no terreno? Que gostam é de protocolos vistosos. Não acha que com um ligeiro corte nas despesas de representação, nas comitivas, etc., se encontravam os recursos suficientes para assegurar a manutenção do paiol? É tudo uma questão de definir prioridades, distinguir entre o supérfluo e o essencial. Entre nós, infelizmente, há uma enorme capacidade de prescindir do essencial para esbanjar no supérfluo, no vistoso: depois, dá no que dá; para o torto.
 Coronel, aqui para nós, se alguém se desloca no seu Vale do Zambeze com uma comitiva de meia dúzia de viaturas 4x4 modelos top, metade para seguranças e protocolos, não acha que está a esbanjar recursos? Não acha improdutivo e gastador a promoção de reuniões para a “estrutura”, o dirigente se ouvir”?
4. “Na minha cultura de responsabilidade permanece-se no posto, trabalha-se com afinco para reparar os danos confortar as vítimas e verificar que nada de similar venha a ocorrer …”
 Coronel, o Sr. diz que acompanhou directamente a explosão de 1985, que submeteu relatório sobre o assunto, “… com referência às responsabilidades de quem deveria assumi-las, cometeu nigligência e as medidas a tomar para se prevenirem novos acontecimentos”:
 Como se depreende da citação o Sr. diz que em 1985 houve negligência. Alguém foi punido ?
 Ao que parece, o Sr. também foi negligente, pois, contrariamente ao que defende, acabou por não “…verificar que nada de similar venha a ocorrer”. Entretanto, a situação repetiu-se e com muito mais gravidade. As medidas então tomadas foram, no mínimo, insuficientes.
 Coronel, deixe-se de demagogias: no governo há funções políticas e técnicas. As funções técnicas só devem ser desempenhadas por quem estiver devidamente habilitado. Já lá vai o tempo (ou devia ter ido) em que funções técnicas eram desempenhadas por inqualificados, da confiança política.
5. “Castiguem-se os negligentes, mas há uma responsabilidade colectiva”.
 Coronel, o que é isso de responsabilidade colectiva? Juridicamente quem representa o todo, o povo Moçambicano, tem nome: é o Estado. Fica-lhe muito bem esse sentido de responsabilidade moral, mas, aqui para nós, afecta o seu bem estar? Obviamente que não! Porém, Coronel, afecta, e de que maneira, o bem-estar, físico e psicológico de centenas de compatriotas, idosos, adultos, jovens e crianças.
6. Para concluir: Ao Coronel Sérgio Vieira, Camaradas do Partido e Governo, Membros de Organizações do tipo Ética e outras similares, sugiro que, com seriedade (sem a tentação de se enganarem a si próprios), respondam ao questionário seguinte:
1. Participa como sócio / accionista em mais do que duas empresas?
2. Tem consciência de que, na maior parte dos casos, senão em todos, a realização da sua participação foi feita de favor?
3. Tem consciência de ter obtido “facilidades tropicais” na aquisição de patrimónios do Estado de empresas a que, eventualmente, possa estar ligado? De pagamento, empréstimos concessionais, doantivos, etc.
4. Participa, com remuneração e outras mordomias, em mais de duas destas funções em empresas privadas ou outros organismos: Mesa da Assembleia; Administração; Conselho Fiscal; Director; Assessor?
5. Adquiriu mais de uma casa / apartamento ao Apie, a preço de banana ?
6. Conseguiu, à borla, algum terreno em zonas nobres da cidade, por compadrio político?
7. Conseguiu alguma facilidade excessiva na obtenção de crédito, como aval de algum organismo do Estado, por hipótese?
8. Na eventualidade de entretanto ter vendido algum património imobiliário, recebeu e não aplicou o seu valor no País; não declarou a mais valia ao fisco; se recebeu no exterior não declara esse rendimento?
9. Recebe alguma reforma do Estado inerente às funções de Director, Secretário de Estado, Ministro, Militar, outras?
10. Sente-se, efectivamente, um privilegiado, financeiramente confortável e “nas tintas” para os problemas reais Povo?
Classificação:
 Se respondeu SIM a três ou mais perguntas, é tempo de dar lugar aos mais novos, em cargos executivos de empresas e instituições do Estado ou com participação Estatal, ou em lugares de representação do Estado.
 Os senhores, provavelmente, já nem estão capazes de fazer uso e tirar proveito dos meios tecnológicos hoje disponíveis para uma gestão eficiente.
 Depois de quase 32 de independência política, tempo suficiente para se nascer, fazer estudos primários, secundários, universitários e até Doutoramentos (há Doutores nascidos depois da independência), ainda se refugiam na pesada herança e não se cansam de estender a mão a doadores.
 Se querem açambarcar tudo quanto é poder, político e económico, acabam por “castrar” os novos quadros e abrir-lhes as portas para outros mundos: depois criticam a fuga de cérebros.
Um abraço com alguma simpatia pelo Coronel,
Florêncio