Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
12 outubro 2006
Quelimane
Quelimane, cidade-coco, os palmares encostam-na ao céu, o casario vetusto alfineta-a no passado, as bicicletas originalizam-na. A cidade dos machuabo e das donas e das sinháras, ponto arquimédico de culturas de todos os azimutes, dos segredos nocturnos, dos amores sem fronteiras, dos rostos femininos de uma beleza secreta e mestiça espreitando em janelas fantásticas de casas paradas no tempo. Sorvo o cheiro quente do Rio dos Bons Sinais, encosto-me visualmente a Inhassunge na outra margem. Banho-me no século XIX, sinto-me lento, mas alegre, namorado pela sura e subitamente sorvido pela babilónia do compra-tudo-vende-tudo-desenrasca sempre do mercado Brandão. Desisto da gloriosa aventura de ir de chapa-bicicleta até Nhamacurra. Como mucapata e galinha à zambeziana, o piripiri é mesmo bom, definitivamente sacana.
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