14 outubro 2006

O homem/a mulher importante e o/a criado (a) de quarto

De onde bem a auréola do homem/da mulher importante? Vem dele (a) mesmo? Não, vem de nós, vem da nossa permanente sede de termos um deus homologador de um cada um dos nossos actos. Nós queremos do mais fundo de nós que o homem importante/a mulher importante guarde permanentemente aquela imagem do poder, do segredo, da distância que nos afasta e nos aproxima ao mesmo tempo. Dentro de nós há sempre um pedestal reverente, uma estrada para o divino e para a genuflexão. Claro, o homem importante/a mulher importante tenta impôr o poder, o segredo, a distância. Mas somos nós quem, em última análise, o/a dotamos com esses atributos e os reproduzimos. Ao amarmos a nossa pequenez damo-nos o supremo deleite de transferir para os deuses profanos a autoria da nossa felicidade em segunda mão.
Apenas há uma ovelha ranhosa nessa história, para dizer as coisas como Georg Simmel: o criado de quarto/a criada de quarto. Este/esta não tem heróis, conhece bem as comezinhas coisas humanas dos homens importantes/das mulheres importantes. Especialmente o cheiro da sua estupidez e da sua mediocridade.

2 comentários:

Marivone Vieira disse...

"não fui eu, mas meu 'eu' lírico". Bom resumo?

Carlos Serra disse...

Não, mau resumo...