08 fevereiro 2011

À mão a comida tem melhor gosto (5)

Mais um pouco desta série.
Escrevi no número inaugural que falta fazer a história dos hábitos, dos gostos, das maneiras,  dos processos de contacto, da gestão do corpo, das classificações comportamentais e das concepções de civilidade em Moçambique, eventualmente algo parecido com aquilo que foi feito por Norbert Elias. Todavia, o que vai seguir-se não é um subsídio directo nesse sentido.
A panela colectiva (de barro ou de ferro), o comer à mão acocorado e o diálogo colectivizado: eis três ingredientes da vida rural. De uma certa vida rural, aquela mais distante das cidades, mais agarrada a um certo passado. Ingredientes socialmente naturais e naturalizados. A esse nível, comer é bem mais do que comer: é ponte, é ser solidário, é ser o outro, é fazer com que o outro também coma. Afinal, à mão a solidariedade tem melhor gosto, ainda que - a dialéctica da vida é sempre resistente ao tacto - certos bocados de certas partes da comida pertençam por direito àqueles que lideram grupos ou comunidades.
Prossigo mais tarde. 
(continua)

1 comentário:

Xiluva disse...

A dialéctica da vida é sempre resistente ao tacto....ahahahahahah!!! Adoro esta comida!