03 fevereiro 2011

Da cólera nosológica à cólera social (6)

Mais um pouco desta série.
As reacções de desespero à cólera têm, na verdade, percursos mundiais.
Depois dos exemplos oitocentistas da Inglaterra e da França e dos exemplos actuais da Índia e do Hati, iniciei no número anterior um percurso pelo nosso país.
Se todos os anos surge a cólera nosológica, em quase todos os anos surge, também, a cólera social. Em províncias nortenhas, é costume popular atribuir a responsabilidade pela introdução da cólera a funcionários governamentais (designadamente da Saúde), extensionistas rurais, régulos, proprietários, etc. Água, pó, comprimidos, o escape das motas e dos carros, tudo isso é suposto conter cólera. Esta não é encarada como uma doença natural provocada pela falta de asseio, mas como uma doença objectiva e socialmente criada para matar gente local.  Acredita-se que os poderosos querem acabar com os pobres. Comunidades entram em convulsão, surgem ataques contra pessoas e bens, a polícia intervém, morre gente, o caos instala-se. Imagem reproduzida daqui.
Prossigo mais tarde.
(continua)

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Sempre se diz que devido a desinformaçao. Isso quer memso dizer o que?

Carlos Serra disse...

Se ciência fosse evidência...Leia um livro meu chamado "Cólera e catarse". Sabe, muitas vezes os informados andam mais desinformados do que os considerados desinformados.