Dei-me de repente conta de que Maputo está literalmente transformada numa cidade de carros 4x4. Esta manhã, junto a um semáforo da Julius Nyerere, o meu pequeno e velho carro estava quase cercado por dez a-todo-o-terreno. Símbolos de prestígio, ícones de poder, ocupadores enormes de espaço, viaturas de estradas difíceis transformadas em artifícios urbanos. Nota de humor: qualquer dia, o lobolo incluirá não apenas o celular último modelo, mas, também, um doce 4x4 para o pai da noiva.
25 comentários:
e o Professor reparou que 6 dos 10 4x4 eram de marca ou fabrico chinês? os chineses não estão faceis, meus amigos.
Professor, 4x4 eh simbolo ou sinonimo de poder e abundanca! Essas pessoas que conduzem esses carros ou nao pagam o combustivel (senhas) ou sao ricos! E estao pouco se lixando para a emissao de gases e o aquecimento global! Serah que saberao o que eh o aquecimento global?
Essa da modernização do lobolo é extremamente interessante. Professor, por acaso sabe quantos meticais nos (jovens) são exigidos para o lobolo, na cidade de maputo, actualmente? Muito mas muito dinheiro
Jorge: quis o destino que ao longo dos últimos anos eu tenha sido convidado a participar na elaboração de pelo menos dois "ranchos" lobolares e julgo saber um pouco do quem esses ranchos podem conter e do quanto isso custa.
:-)Sim, esta "modernização" me parece um cenario bastante interessante, ja ate' o visualizo:
- A "doce" "fobaina" (como lhe chama a malta jovem),de preferencia ja com o tanque cheio, ladeada (dentre outros items) do pilão, ralador, das peneiras, etc,etc, e claro, dos garrafoes tintól, pra abastecer outras necessidades ...
V.I
Ilustres,
Há algum mal em andar em 4X4? É que, por necessidade, conduzo um que com facilidade me leva para a minha Manjacaze querida e me ajuda a enfrentar as difíceis estradas difíceis de Maputo que, quase, escangalhavam o meu carapau que foi depois destruido por um 4x4 de um ilustre professor...
Para além disso, ir a Singatela de carapau (onde está a minha futura cabana) não era fácil...
Não me foi oferecido, nem o ganhei do serviço. Ao contrário de outros que o Anónimo 2 conhece, tenho que pagar combustível etc.
Há algum mal nisso?
Eu acho que não. Se calhar ande há meses a ofender gente...
Só para acrescentar,
Tenho alguns amigos que vivem em Laulane, Guava, Singatela, Nkobe (zona da "presidência"), etc., que por causa das condições difíceis das estradas para aquelas bandas tiveram que abdicar de carapaus, citi golfs etc, e optar por carros que facilmente se embrenhem por aquelas estradas.
Não vejo nisso ostentação, como alguns sugerem por aqui, vejo nisso necessidade.
Não vejo nenhum mal no uso desses carros mesmo por aqueles que vivem na cidade. São opções e têm a ver com a capacidade de cada um. Não vou querer andar num V1o ou qualquer carro tipicamente americano se não tenho capacidade.
Não sei com base em quê se dá, a esses carros, simbolismo diferente dos demais mas que são úteis nas condições das nossas estradas lá isso são.
Reclamarão os que vivem na cidade de cimento onde as estradas estão a ser reabilitadas mas, os que passam na carne as dificuldades com estradas em guava, kongolote, laulane, nkobe etc ficarão a dizer "perdoai-lhes pai não sabem o que dizem"
Aguardo com total estima e consideracao que a cidade de Maputo e seus arredores nao se transforme de um covil de carros 4x4. Nao tarda que esses mesmos carros comessem a auxiliar na Revolucao Verde ou Esverdeada e no Combate a Riqueza Absoluta.
Não sou contra os caros 4x4, até porque dão muito jeito tendo em conta as nossas lindas estradas que perderam as suas caracteristicas típicas e passaram a ser obras de arte autenticas, esculpidas pela falta de manutenção.
Mas, no entanto, esta moda de 4x4, também se faz sentir em quase todos ministérios.....o que de certo modo dificulta a política de redução dos gastos em combustível, se é que existe. E infelizmente todos nós pagamos por isso.
De facto há muitos casos de mero capricho, onde se procura comprar um caro com esse perfil como forma de se afirmar. No entanto, a aquisição destes 4x4 é uma resposta aos seguintes pontos fracos:
1. Falta de vias de acesso.
2. Falta de uma política de transporte clara, consistente e sustentável.
3. Falta de uma política de urbanização clara. A título de exemplo, a ampliação da cidade, se podemos dar esse nome, foi e está a ser feita de uma maneira desregrada. Os novos bairros que surgem não tem sistemas de saneamento nem vias de acesso.
4.....
Levanto estes pontos, não apenas para justificar a "existência racional" dos 4x4, mas para alertar que esses cars deixariam de ser necessários. Ainda mais, se tivessemos um sistema de transporte sério, não teriamos tanto caro particular nas estradas.
Em suma, se "estes pontos e mais alguns" fossem satisfeitos, não teriamos "nem capapau" nem 4x4 a "puluirem" a cidade. Andariamos de "chapa" e gastavamos menos.
Relativamente ao lobolo, as modalidades usadas ultimamente nem tem que ver com a modernização, mas sim com POBREZA.
Mawe escreveu e disse os 4x4 sao o rosto de uma serie de problemas enormes. Os do Estado, e dos respectivos dirigentes, entao e so ve-los sempre reluzentes de so andarem em alcatrao (viaturas de estradas difíceis transformadas em artifícios urbanos). Existem solucoes e solucoes, se as escadas do predio estao com problemas, construamos outras do lado exterior do predio, no lugar de repararmos a escada que la esta, he he he...
Caríssimo Sr.Mawe
A respeito do uso dos transportes o Sr. tem toda a razão.
Mas, vou mostrar-lhe outro cenário.
Porto - Portugal.
2ª metrópole do País.
Boas estradas, muito razoáveis transportes públicos...
4 x 4 não faltam, também.
E os arredores do Porto têm todos acessos alcatroados.
O pormenor é o "status", a ostentação, a vaidade...O PODER, na sua jeepância mostração.
E adoro ver um condutor com cerca de 1,50 m de altura, sair do seu "bruto" Range Rover, ou Jeep Cherokee...todo inchado, para compensar…
Que me perdoem os baixinhos. É hilariante.
Tudo isto para mostrar outra vertente dos 4 x 4 – O Poder, sua ostentação.
E sua imitação.
Factor a ter em conta.
Mutisse, gostei do teu argumento honesto. Para quem vive na periferia das cidades pode justificar-se o "sacrificio" de incorrer em custos elevados elevados de combustivel na preservacao do carro! No entanto, acho que a luta deve ser em busca de melhores estradas e nao o contrario. No entanto, vejo um esforco dos TPM em melhor o transporte publica, se calhar poderas deixar o teu 4x4 em casa dentro em breve. Lamento um ilustre professor tenha destruido o teu carapau!
No meu Fiat sei bem avaliar quem está em cima no Pagero. Aguardem a fábrica de montagen dos Pageros chineses.
"Aguardem a fábrica de montagen dos Pageros chineses"
...E' capaz de se tornarem talvez bem mais acessives.. Uma grande ajuda, caso o cenario que o Prof. traçou se torne realidade...
Ficara' bem mais facil incluir um 4x4 na lista dos "ranchos lobolares" como lhe chamou :-)
V.I
Leopoldo,
Sabes que estamos longe do ideal em termos de serviço público de transporte urbano em Maputo. Logo, mesmo que não sejam 4x4, continuaremos a ver a assistir ao acréscimo de carros particulares a inundarem ainda mais o centro da cidade.
Ouvi, há tempos, que a Cidade de Maputo precisaria de um mínimo de 500 autocarros para ter um sistema de transporte eficiente. Se calhar seja real. Mas será que esses carros entrarão em Mahoche e outros bairros em criação em que o que de mais precioso existe é a vontade das pessoas em melhorar as suas condições de vida construíndo habitação própria? Duvido.
Os bairros de expansão estão a crescer mas falta tudo desde vias de acesso até aos mais básicos serviços públicos. Logo:
» se o meu carapau enterrava a cada vez que fosse ver o desenvolvimento da minha cabana;
» se não se vislumbram planos de melhoramento da via que me conduz ao meu futuro bairro residencial;
» se...
» se...
O que me resta é, individualmente, resolver os problemas com que me debato e, o problema relativo a transporte/vias de acesso, no meu caso, só se podia resover com um carro desses, que depois tenho que trazer a cidade que é aqui onde ganho pão. Ao trazê-lo a cidade causo espanto ao professor e... surge o debate generalizador de que todos que andam em 4x4 querem ostentar.
A propósito, Johanesburg tem um sistema de transporte melhor que Maputo mas tenho alguns amigos que andam em 4x4 por lá...
Numa situação ideal 4x4's não são "para" as cidades. Um Mayor de Londres já achava aqueles que conduzem esses veículos nas cidades uns “Idiotas."
É que lhe parecia "razoável que um agricultor conduza um 4x4 numa região de estradas péssimas. Mas esse tipo de veículo não deveria circular em Londres”, afirmou Ken Livingstone numa entrevista.
Mas, meus caros, estamos a falar de Londres, Reino Unido onde, só se fala de estradas péssimas nas zonas rurais. Que diria disso o morador da Avenida Milagre Mabote, o morador do prolongamento da Avenida da Malhangalene e de outros buracos com um pouco de estrada que polulam pela cidade de Maputo?
Em cidades com serviços públicos e vias acesso funcionais e de qualidade, de facto, os 4x4 nada têm que fazer nas cidades, salvo ostentação de que o Umbelani dá aqui exemplo, mesmo aí discutível (por exemplo porque do alto dos meus 1.89 de altura me apertaria num Starlet se posso andar num carro mais espaçoso?).
Portanto, podemos visitar estudos feitos noutros cantos, proibições, restrições conhecidas desses cantos mas, temos que contextualizar isso a Moçambique. É uma pena que o Mutisse só tenha falado de Singatela, Guava, Mahoche e se tenha esquecido que bem aqui na cidade existe a Milagre Mabote, a Avenida da Malhangalene escangalhadas de todas as formas e com gente a ter que transitar por elas. Quem fala dessas pode falar de outras tantas aqui nesta cidade.
A vida é uma confusão, eu lobolei e casei a dois meses, não fui exigido nenhum valor monetario nem roupa e muito menos quinquilharia, por isso acredito que as exigencias dos pais da noiva podem (hipotese)estar relacionadas com pobreza (relativa).
Achei interessante o tema e acho que devia ser alvo de amplos debates, desde o conceito à sua importancia para a nossa sociedade.
Gostaria de intervir em dois aspectos.
1. Criação de novos bárrios
2. Lobolo
Relativamente aos novos bairros, concordo que os moçambicanos tem de ter esta cultura de construir as suas casas. Apenas fico preocupado porque alguns desses bairro perdem estética por falta de uma política séria de habitação. Apontaria alguns pontos que podem estar a influenciar essa tendência: a)Crédito de habitação pouco claro ou não sustentável para a maioria dos jovens; b)Planeamento dos báirros; c)Tecnologias de construção despendiosas; d)Atribuição dos terrenos, para não dizer venda, pouco clara.
e)...
Hoje em dia para se construir uma habitação é preciso ter uma remuneração muito alta.
No que refere ao lobolo, gostaria de apreender com os vossos comentários: " o lobolo deixou de ser uma recompensa (se é que podemos usar essa expressão) para as famílias e passou a ser uma forma de ganhar a vida..."
Ainda ninguém pediu 4X4 em lobolo? Deve ter sido falta de imaginação. Celular já vi pedir, quando elesestavam um pouquinho menos generalizados do que hoje. Devia ser para falar melhor com os antepassados, ao pahlhar o lobolo...
Mutisse, nao queria tornar este debate num dialogo. Mas todos convergimos no facto de que precisamos de estradas e de transportes publicos. Os novos bairros nascem sem as condicoes minimas de habitabilidade, servicos publicos, policia, escolas, centro de saude etc. As estradas (vias de acesso?) sao apenas um componente. Mas esse facto nao nos inibe de falar de uma cultura de 4x4 em Maputo, que por vezes passa por ostentacao, porque nao? Sabemos que esse nao eh o seu caso, mas que dizer de quem vive na Cidade e anda de 4x4 todos os dias. O Comiche ja reabilitou as principais estradas na Cidade. Johannesburg nao tem um eficiente sistema de transporte publico, razao pela qual estao a introduzir o sistema testado na America Latina, com faixas nas estradas dedicadas ao transporte publico (buses e taxis) e tambem o almejado underground metro, parcialmente operacional em 2010. O 4x4 serve para levar o mineiro (majhonijhoni) para a sua terra no fim do ano!
Já ouvi dizer que, em tempos, era comum o lobolo ser feito com dezena(s)de bovinos. As coisas mudaram, a minha avô foi lobolada por uma cesta de TIHAKA, a minha tia por 25 escudos, a minha prima por 12 000 mt em 1982, eu lobolei com 5000 meticais em 2003 (a única exigência foi: traga o que poderes que nós já estamos satisfeitos pela sua chegada à família), tenho amigos que pediram empréstimos para lobolar incluindo pagar multas por terem feito filhos antes do lobolo/casamento.
É um facto que nessa área, como em muitas outras, há especulação e, não vamos negar, a prática tem se adaptado aos nossos dias. Não me espanta por isso que os bois sejam substituidos por celulares ou outras coisas. Mal de nós se o nosso modo de agir e pensar, isto é a nossa cultura, permanecesse estática, presa às prática ancestrais que caracterizavam o lobolo nos finais do século xix e início do século XX quando Junod tão bem as estudou.
A evolução pode mesmo nos levar a que no pacote de lobolo das nossas filhas e irmãs sejam inclusos 4x4. Alguém tem a ideia de como era a sociedade quando Junod estudou os usos e costumes dos bantu? Alguém tem ideia da evolução até aos nossos dias?
Mais, não podemos tomar as práticas urbanas do lobolo como universais/generalisáveis. Sem negar que mesmo no campo haja especulação lobolária, este acto continua imbuido de um simbolismo que muitos aqui não podem imaginar ou porque nunca assistiram a uma cerimónia dessas para além dos murros da cidade, ou porque o lobolo é aquela coisa distante que apenas tomamos conta dela como mero objecto de estudo.
Quanto às 4x4, repito o que disse antes Em cidades com serviços públicos e vias acesso funcionais e de qualidade, de facto, os 4x4 nada têm que fazer nas cidades, salvo ostentação de que o Umbelani dá aqui exemplo, mesmo aí discutível. Como disse, porque do alto dos meus 1.89 de altura me apertaria num Starlet se posso andar num carro mais espaçoso? A medida do meu conforto é determinada por mim e pela profundidade do meu bolso. Se neste cabe um 4x4 why not? Porque alguns pensarão que estou a ostentar?
Acabei de colocar uma postagem sobre o lobolo.
"As coisas mudaram, a minha avô foi lobolada por uma cesta de TIHAKA, a minha tia por 25 escudos, a minha prima por 12 000 mt em 1982, eu lobolei com 5000 meticais em 2003"
É a inflação Matsinhe!
"(a única exigência foi: traga o que poderes que nós já estamos satisfeitos pela sua chegada à família)"
Bastante sensato da parte deles! Tomara muitas familias seguisses este exemplo...
V.I
Lobolo e' "business" pela forma como tem sido efectuado ultimamente! Reflecte a atitude "materialista" de algumas regioes e pessoas! Nao se trata de um "simbolismo" cerimonial, mas de uma "troca" puramente comercial. E o perigo disso, e' que o homem passa a ter um sentimento de "alienacao" completa da sua parceira, como uma "commodity" mesmo! Esses sao aspectos que nunca ninguem se preocupa depois em analisar as suas consequencias numa relacao que iniciou supostamente por "amor", mas que pode criar outro tipo de sentimentos pos-lobolo! (Estou a falar daqueles casos em que o homem se sente profundamente "estorquido").
O Matsinhe, por acaso foi "sortudo", mas esse "simbolismo" e' que devia ser a norma e nao a excepcao!
Talvez seja mesmo o problema da pobreza "absoluta"!
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