09 dezembro 2007

Mortos e feridos na tentativa de libertação de um curandeiro

Dois mortos e seis feridos graves é o balanço de uma tentativa de assalto com objectos contundentes ao comando distrital da polícia, levada a cabo por habitantes do distrito de Metuge, província de Cabo Delgado, que tentaram libertar um curandeiro detido ("Diário de Moçambique" de 07/12/07, p. 2, informação de Fátima via celular).
Parece agravar-se a situação em Cabo Delgado no tocante a um conflito que há dias aqui reportei.
Quando as comunidades locais recusam as instâncias formais de resolução de conflitos do Estado e recorrem aos curandeiros para limpeza dos problemas sociais, é porque, por hipótese, um curto-circuito existe.
Entretanto, recorde-se que também na província de Cabo delgado, distrito de Muidumbe, 18 pessoas foram linchadas entre Junho de 2002 e Maio de 2003, acusadas de comandarem magicamente sete leões que comeram 46 habitantes. Todavia, os principais acusados de comandarem os leões à distância eram pessoas bem distintas: o administrador distrital, os régulos, membros do partido no poder, um comerciante, etc.

8 comentários:

Eugénio Chimbutane disse...

Estórias da nossa terra!

Prof., ainda sobre o ranking do BCI, poderia me enviar o download dos critérios de classificação dos bancos. Não consigo baixar...

esalvchimbu@hotmail.com

Obrigado!

Anónimo disse...

Professor, gostaria de discutir a hipótese de curto-circuito, colocando uma outra hipótese. Vastas regiões do nosso país, do norte a sul, nunca tiveram um estado formal, no entendimento moderno da palavra. Inclusivamente os portugueses não cnseguiram extender o Estado a todas as regiões de Moçambique.

Os régulos, os curandeiros, algumas seitas "espiritistas" e outros entes funcionaram sempre, lá nesses locais, como os principais intermediários na harmonização de conflitos.

A tentativa de extender o Estado moderno para esses lugares, mais ainda sem a musculatura adequada em termos de recursos a vários níveis, há-de necessariamente provocar diferentes tipos de resistências.

Afinal, os tais agentes do "Estado Modernos" que se pretende ampliar são exógenos a muitas dessas comunidades. E têm um grande potencial de provocar desequlíbrios de poder em instituições que o exerceram durante séculos.

Muitos fenómenos que estamos a testemunhar, hoje, resultam desse esforço de extender o Estado a entidades sociais e políticas que nunca o conheceram e, sobretudo, nunca precisaram dele.

Aliás, o que é que, de novidade, para além da desputa do poder aí estabelecido, o tal Estado leva àquelas comunidades?

Obed L. Khan

Anónimo disse...

O maior problema, penso de que, e quando o Estado presta maus servicos e nao considera o poder anterior existente, ou ainda presta servicos que vao contra os interesses locais.

Carlos Serra disse...

Eugénio: o download é como lhe expliquei há dias em comentário. Tentarei, no entanto, regressar, à postagem e ver o que se pode fazer.

Carlos Serra disse...

Obede: creio que é excelente a sua hipótese, algo como recuperar Pierre Clastres. Em tempo devido darei conta de um trabalho que se fará no próximo ano tendo como uma das referências os linchamentos por acusação de feitiçaria.

Reflectindo disse...

Obed, colocas uma boa questão e um problema que Eduardo Mondlane conhecia bem e se calhar alguns dos nossos nacionalistas com uma boa informacão, basta ler o lutar por Mocambique.

Agora o que temos que reflectir é sobre os entraves à constituicão e ao funcionamento de um "estado moderno".

Ora, a ideia dos grupos dinamizadores era "excelente" se não se tivesse partidarizado/comunizado, isto é se se definisse como um órgão do estado. Os régulos podiam ter livremente continuado a existir como uma estrutura tradicional. Aliás, alguns ou muitos dos régulos actuais não são enquadrados numa estruturada propriamente tradicional, mas por uma concepcão colonial.

A outra falha surge pela recuperacão desta estrutura tradicional, mas com um intuíto de aproveitamento político. A Renamo aproveitou-se dela e a Frelimo pretendeu/pretende aproveitar-se desta. Como partidos, não acho nada de mal, mas quando se é governo há que se ser consequente. Portanto, na minha opinião, devia haver uma separacão clara entre a estrutura tradicional e a do Estado.

Ivone Soares disse...

Aguardo, ansiosa, os resultados desse trabalho que a UDS fará em 2008. Força,
Ivone

Anónimo disse...

Creio que comeca a surgir um "problema" nestas noticias...

Qnd lemos POLICIA foi atacada ou algo parecido vemos isso de imediato isso como um crime ou algo impensável...Mas para quem conhece o minimo da nossa realidade sabe que a maioria dos policias deste país infelizmente de policia nao tem nada para alem da farda e akm...
Todos os desmandos causados pelos mesmos e todos os abusos geralmente ficam sem resposta. Nao sera o caso da populacao se ter cansado ?
Quantos casos de policias embriagados já se reportou que em plenas barracas usam a sua arma para causa disturbios?qnts casos de abuso de poder...

Nao sei, é só uma hipotese, mas para mim a palavra Policia já nao me desperta o respeito necessário que me leve a considerar automaticamente que atacar a policia esteja completamente errado, penso que precisavamos de mais informacao sobre o caso para tal...

Isso mesmo sendo contra a violencia, ainda por cima numa guerra desigual, enxadas Vs AKM... Só podia dar nisso, derrota dos "enxadeiros". Mas que mudancas acontecem sem mártires? Ou às tantas foi tudo sem sentido nenhum...

Pensem Nisso
Tsin