04 maio 2006

A unidade do comportamento humano

O difícil na vida não está em aceitarmos a alteridade, mas, antes, a unidade do comportamento humano. Por exemplo, para ilustrar quão diferentes são as tradições culturais e quanto a esse respeito podemos correr erros, o falecido Raymond Aron observou que não só o sorriso dos Japoneses é diferente do dos Franceses, quanto eles exprimem o apreço pela comida comendo pouco, ao contrário dos Franceses, que o fazem comendo muito- veja Aron, Raymond, Leçons sur l'histoire. Paris: Éditions de Fallois, 1989, pp. 200-201. Seria possível multiplicar os exemplos e, até, mostrar que há unhas que diferem doutras não apenas anatomicamente, mas, também, devido ao tratamento cultural a que as sujeitamos. E por aí fora. Porém, a bem falar, não há nada nos Japoneses, nem mesmo o sorriso, que seja diferente do que podemos encontrar nos Moçambicanos, nos Espanhóis ou em qualquer outro povo. Se após uma refeição no Japão a polidez exige que se coma o mínimo para mostrar que se gostou da comida e que na França se faz o contrário, isso mostra, também e talvez sobretudo, que Japoneses e Franceses rodeiam a mesma tradição de comer com formas diferentes de apreciar o valor dos pratos. Claro que podemos cometer erros sérios se esquecermos essas coisas. Mas não cometemos erros menores, erros trágicos afinal, se esquecemos que todos os homens têm de comer. O que, em última análise, pode fazer a verdadeira diferença entre X e Y, não é que X ria à Japonesa e Y à Francesa, mas que um possa rir e outro não, que um possa comer e o outro não, que um seja protegido e o outro não, que um possa estudar e o outro não, etc., etc. Aqui como em tantas outras questões, tudo depende de muita e vária coisa.

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