08 maio 2006

Jean-Jacques Rousseau e, nós, os novos oráculos de Delfos

No século XVIII, a academia francesa de Dijon premiou o “Discurso sobre as Ciências e as Artes” (1749), um ensaio da autoria de Jean-Jacques Rousseau.
Uma das questões à qual Rousseau tentou responder, foi a de saber se o progresso das ciências e das artes tinha contribuído para a virtude e para a felicidade dos seres humanos. Nessa altura, havia a crença de que a ciência permitiria a construção de uma sociedade regida pela Razão.
Ora, Jean-Jacques Rousseau mostrou que a sociedade se baseava na desigualdade, que a cultura se encontrava ao serviço de uma aristocracia corrompida e que o seu luxo repousava na miséria popular. Por outras palavras, à opulência de uns, poucos, opunha-se a indigência de outros, muitos. A sua crítica não foi apenas contra a sociedade feudal, mas contra toda a sociedade fundada na desigualdade de rendimentos. Portanto, ciências e artes não tinham contribuído nem para a virtude nem para a felicidade dos seres humanos[*].
O manifesto de Rousseau continua actual, vivo.
Nós, cientistas sociais, aprendemos, século após século, a criar os nossos espaços fechados, institucionais, asseptizados, divorciados daqueles que, arrogantemente, estudamos, dissecamos, hipotecamos e congelamos em teses, em artigos publicados nas revistas especializadas, em seminários internacionais sempre concorridos. Profetizamos, não resolvemos nem ajudamos a resolver. Somos os novos oráculos de Delfos.
Queiramos ou não, nós estamos ao serviço daqueles que Rousseau denunciou, estamos ao serviço dos poderosos.
_________________________________
[*] Rousseau, Jean-Jacques, Discours sur les Sciences et les Arts. Paris: Seuil, 1971, Oeuvres Complètes, tome 2, pp. 52 e seq.

Sem comentários: