A condição social dos habitantes da sociedade civil precarizada torna-os prisioneiros de um duplo constrangimento: por um lado, a vulnerabilidade perante os fenómenos da natureza e a insegurança do modo de vida catapulta-os para a interpretação emocional e antropomórfica da vida; por outro, esta visão reforça a vulnerabilidade e a insegurança. É isso que permite o extraordinário florescimento de certo tipo de organizações milagreiras e de consultórios cura-tudo.
Milhares de pessoas, regra geral de origem humilde, que acorrem aos cultos milagreiros e aos consultórios dos curandeiros cura-tudo, esperando que Deus e os bons espíritos ajudem a libertarem-se dos flagelos, criam novos espaços identitários, encontram um sentido para a vida, recebem solidariedade, é-lhes prometida uma recompensa celestial para os males terrenos ou o apoio revigorado dos espíritos propiciados e acalmados.
Mas no preciso momento em que isso acontece, ocorre a expulsão completa do projecto de modificação real das condições de vida.
Com efeito, ao aceitarem que todos os males são obra de entidades consideradas maléficas como os maus espíritos e o diabo, as pessoas acabam por ver transferida - com plena crença e adesão - para entidades sobre-humanas invisíveis a responsabilidade social na génese da miséria e da violência. Perdido o sentido crítico, trocado que é pelo sentido das crenças, evacuam o desafio humano de uma transformação social genuína. Aqui temos, afinal, um exercício de despersonalização trágica.
Milhares de pessoas, regra geral de origem humilde, que acorrem aos cultos milagreiros e aos consultórios dos curandeiros cura-tudo, esperando que Deus e os bons espíritos ajudem a libertarem-se dos flagelos, criam novos espaços identitários, encontram um sentido para a vida, recebem solidariedade, é-lhes prometida uma recompensa celestial para os males terrenos ou o apoio revigorado dos espíritos propiciados e acalmados.
Mas no preciso momento em que isso acontece, ocorre a expulsão completa do projecto de modificação real das condições de vida.
Com efeito, ao aceitarem que todos os males são obra de entidades consideradas maléficas como os maus espíritos e o diabo, as pessoas acabam por ver transferida - com plena crença e adesão - para entidades sobre-humanas invisíveis a responsabilidade social na génese da miséria e da violência. Perdido o sentido crítico, trocado que é pelo sentido das crenças, evacuam o desafio humano de uma transformação social genuína. Aqui temos, afinal, um exercício de despersonalização trágica.
1 comentário:
"Exigir que [o povo] renuncie às ilusões é exigir que renuncie a uma situação que precisa de ilusões." (Karl Marx in Crítica da Filosofia do Direito de Hegel
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