17 abril 2013

Pensamos por eles

Contra os epistemólogos demiúrgicos e “fagocitantes” que implacavelmente substituem o pensamento dos outros pelo seu próprio pensamento e o hipostasiam nos seus prejuízos, tentaremos provar que os actores sociais das autarquias nas quais trabalhámos têm concepções muito claras sobre as eleições independentemente da origem geográfica, da idade, do sexo, do estado civil, da escolaridade, da profissão e da religião. Pretender que eles não votaram “porque” não lhes fornecemos doses suficientes de educação cívica, por exemplo, é dar provas de presunção imperial e, ao mesmo tempo, de desqualificação: presunção imperial, porque nos convencemos de que estamos em condições de compreender os Outros; desqualificação, porque recusamos aquilo que esses Outros de nós pensam ou de nós esperam. Não lhes vamos perguntar o que eles pensam, desejam ou criticam: pensamos por eles, canibalizamo-los com os nossos orgulhosos egos político-cognitivos – Serra, Carlos (Dir.), Pressupostos, resultados e conclusões, in Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, p. 54.