05 abril 2013

Poder de falar

Falar parece ser regalia de qualquer pessoa. Claro que é. Mas falar com intenção de estabelecer a verdade ou uma certa verdade de forma definitiva não é regalia de qualquer pessoa, é definitivamente regalia de apenas algumas pessoas. Estas pessoas são portadoras de uma coisa chamada poder. Poder é a possibilidade relacional de induzir condutas, de crença em certos casos, de conduta obrigatória em outros. Gerir poder significa várias coisas, entre as quais gerir espaços, traje e palavras de um certo tipo. Gerir espaços significa que o poder da palavra depende da demarcação clara da verticalidade social. Assim, um palanque, um estrado, qualquer coisa, enfim, que coloque o proprietário da palavra majestática em lugar de destaque, o que é suposto tornar definitivo e visível o proprietário do poder da palavra sagrada. Mas o traje também é fundamental. Quando mais solene, distintivo, melhor, mais propício ao convencimento e à adesão. No caso científico, por exemplo, as veste talares, de origem religiosa, são de regra obrigatória em cerimónias especiais de fala e desfile. Finalmente, temos a palavra apurada, distante do linguajar popular, plena de altitude soberana, de comedimento, de rigor científico.
Estais, então, a ver como são interessantes aqueles seres que gostam de proclamar objectividade nas coisas que, convenientemente, lhes são convenientes nos momentos convenientes.