A quimera da transição controlada, um trabalho do jornalista João Carlos Barradas que termina com o tema patrimonialismo e contestação: "Washington e por arrasto a União Europeia apostam num processo de transição controlado pelas forças armadas para a realização de eleições presidenciais no Egipto, mas uma real democratização implica o desmantelamento do actual sistema de poder." Leia, ainda, As pragas do Egipto, artigo anterior aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
É erro grave pensar que a saída do presidente e do vice quebrou as regras do regime e do patrimonialismo como diz o Barradas. E pior agora com os militares.
Mas e um detalhe importante. Tendo em conta o caracter autocratico destes regimes...
Depende dos egipcios vigiarem a sua transicao para a democracia. Os passos estao sendo dados. O calendario, ao que sei, esta a ser rigorosamente cumprido por ambas as partes (exercito, manifestantes). Hoje mesmo, foi esvaziada a praca Tahiri de alguns anarquistas. Acto continuo, o exercito apresentou o plano de revisao constitucional as forcas da oposicao para pos proximos 2 meses. Nem ao Exercito interessa ser engolido no vortice da politica. E uma instituicao centenaria e com prestigio junto da populacao, justamente por causa da sua equidistancia na interpretacao dos acontecimentos recentes e do passado. Sendo certo que todos os presidentes egipcios da era moderna foram militares, nao deixa de ser verdade que exerceram o seu cargo sem ostentarem aqueles titulos. Por isso, so podemos desejar que o processo resulte em algo bom naquela regiao. Mas nem tudo serao rosas, e para isso, estao os 80 milhoes de egipcios ja mentalizados. O que aquele povo augura e que lho deixem trabalhar, em liberdade!
Diria mesmo que vejo muito maiores hipoteses de sucesso no Egipto do que na Tunisia. Como alias me da razao o exodo de levas de tunisinos para a Europa apos a queda de Ben Ali, que ja obrigou a Italia a proclamar estado de emergencia em Lampedusa e a ida da chefe dos negocios estrangeiros da UE a Tunis. Quanto ao que diz o jornalista Barradas, acho normal esse tipo de analise aos olhos de um europeu.Por exemplo, aos olhos de um europeu, a Libia (http://en.wikipedia.org/wiki/Libya) deveria estar ja a ferro e fogo. ESQUECEM-SE contudo os analistas que o regime de Kadhaffi e socialista e arabe. Na Libia, ha 30% da populacao desempregada. Mas tambem, ha subsidios estatais impensaveis em qualquer parte do mundo. Por exemplo, para alem de saude, educacao e assistencia social gratuitos, o regime oferece uma casa mobilada tipo 3, viatura e subsidio de instalacao/treinamento profissional por um ano, a todos os casais jovens recem-casados. As receitas do petroleo o possibilitam, para uma populacao que nao chega aos 7 milhoes de habitantes. Nestas condicoes, o que ha para contestar socialmente la? Em resumo, antes dos acontecimentos no Egipto, toda a imprensa Portuguesa vaticinava um Estado islamico no Cairo e muitas outras coisas. Enganou-se, e ficou perdida nas carambolas dos velhos do Restelo.
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