Com o título (a seis colunas) "Ruínas e bairros da lata dão lugar a hotéis de luxo" e ocupando as centrais, o semanário "Domingo" tem hoje um trabalho da autoria de José Rungo. O projecto Arco Norte tem em vista injectar um bilião e duzentos milhões de dólares - vou citar o jornal - "na construção de hotéis e parques de diversão de alto padrão na cidade de Pemba e na Ilha do Ibo. Para Nampula e Niassa os valores são outros, mas também reconchudos. (...) Se o Arco Norte for materializado como está escrito nos documentos a que tivemos acesso, Pemba e Ibo vão virar zonas chiques de doer." Há vários candidatos - entre os quais a Fundação Joaquim Chissano -, interessados em transformar Pemba e Ibo - vou de novo citar - "em destinos turísticos de alto padrão e que possam gerar rendimentos de encher cofres em poucos instantes". Pormenor: "(...) cogita-se que quando esta máquina estiver afinada e a funcionar em pleno vai gerar receitas na ordem de 700 milhões de dólares anuais" (pp. 20-21, itálicos no original.
Adenda 1: se no tocante ao avanço do projecto tudo correr também em poucos instantes, gente (pescadores, simples habitantes, gente pobre da terra) vai ter de sair dos locais onde as construções do turismo de luxo vão surgir, tema abordado pelo jornalista Rungo. E sair em não menos instantes.
Adenda 2 às 11:56: a reportagem é omissa sobre quantas pessoas terão de ser desalojadas, ainda que o jornalista tivesse escrito que "há que tomar muitas precauções para evitar tumultos sociais resultantes do descontentamento associado às indemnizações" (p. 20). Mas a reportagem é prolífica em dados do género: "A robustez dos números abarca ainda a quantidade de turistas esperados que, segundo dados em nosso poder, vão ascender os 500 mil por ano, ou simplesmente 41 mil turistas por mês". Ou: "(...) só no bairro Chuíba vão nascer 14 hotéis com um total de 2000 quartos e apartamentos individuais com 1000 quartos, todos eles dotados de espaços que vão desde cinco a 25 hectares". Etc.
7 comentários:
You have indicated that persons, living in the zones where the resorts will be constructed, will have to move out.
Are there reliable estimates on how many are they ?
Please read new adenda.
Encher cofres de quem?
De onde virao esses 500 mil turistas? Do maputo?
Da pra rir...
Mas a reportagem é prolífica em dados do género: "A robustez dos números abarca ainda a quantidade de turistas esperados que, segundo dados em nosso poder, vão ascender os 500 mil por ano, ou simplesmente 41 mil turistas por mês".(Hoje no diario da oficina)
Estimado amigo: 41000 turistas por mes ? Estes numeros parecem-me mirabolantes. Acho que vale a pena investigar a fundo esses empreendimentos turisticos.
Esperemos que os empresarios tenham feito estudos de mercado durante os ultimos seis meses. É que aqui nos jornais tenho lido que os franceses (por exemplo) estao a passar as suas cada vez + curtas ferias, ao pé de casa(França, paises Uniao Europeia, paises francofonos da Africa do Norte). Suponho que o mesmo esteja a acontecer com os outros turistas europeus.
Uma coisa é certa, ha sempre assuntos deveras interessantes para os jornalistas MOZ investigarem. Eles que centrem bem os holofotes...
RC
É indubitável que o futuro do país passa pelo turismo. Sempre defendi aqui que o país deve fazer a diferença com coisas boas e nossas, o artesanato, a nossa mobília, as nossas praias, as nossas cidades, enfim, a nossa generosidade deve ser mostrada a quem dela quiser aprender. A ideia de que se fala só será boa, unicamente boa, se a lei for cumprida e desde que sejam respeitados os interesses do povo. O povo em primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto lugares, depois o resto. Caso contrário, o aproveitamento a custa do povo é crime e deve ser, caso se verifiquem estes actos, punidos e repudiados veementemente.
Um abraço
1. Mais importante do que as Ruínas e Bairros de Lata darem lugar a hotéis de luxo, é que a população que vive nesses locais venha a ser compensada e tenha benefícios no presente e a prazo. Por hipótese, da forma seguinte:
A. Direito a serem transferidas para zonas devidamente infra-estruturadas, com água, electricidade, acessos, transportes de e para a cidade/localidade mais próxima das zonas cedidas.
B. Identificação das pessoas deslocadas da zona que irá ser ocupada por cada projecto específico (p.e. Hotel A, B, C, etc).
Constituição de uma entidade jurídica, Associação do ex-moradores da área do projecto, A, B, C, etc., p.e.
C. Direito dessas Associações terem uma participação no capital social do empreendimento a edificar nas áreas que cederam. Participação inicial, ou qualquer aumento de capital, a realizar em 100% pelo Investidor/ ocupante.
D. Cada Associação/ seus membros não poderiam vender as suas participações por um período de, p.e. 20 anos, incluindo os herdeiros, para que pudessem beneficiar de facto dos resultados do empreendimento e não optassem rapidamente pela venda dos seus direitos (… questões a aprofundar).
E. Desta forma, a população a deslocar veria suas condições de habitação melhoradas no curto prazo e teria direito a uma mais valia futura, na forma de dividendo, em função dos lucros do empreendimento.
Se não se optar por uma solução deste tipo, e se seguir o que a reportagem do Domingo relata, o Governo vai cometer Barbaridades sobre as populações a deslocar.
Não se deve ignorar que elas, cedendo seus direitos, são uma componente essencial para a viabilização deste tipo de projectos.
A sua comparticipação, ao cederem as zonas para a implantação das diferentes unidades económicas, é bem maior do que o custo dos materiais de construção e alguns trocos “amendoins” mais, para construírem sua casa longe da vista dos futuros turistas.
2. Luísa Diogo na sua recente visita à Dinamarca referiu que Moçambique está a ressentir-se na crise internacional, destacando: (i) quebra de exportações em quantidade e preço unitário;
(ii) quebra de receitas de turismo, da ordem dos 20 a 25%; (iii) quebra nas viagens aéreas da ordem também dos 20 a 25%;
(iv) maior esforço do Governo para a colocação de dólares no mercado interno, com reflexos nas reservas líquidas em moeda externa, para evitar maior desvalorização do metical e aumento da inflação.
Perante este cenário, é provável que, não obstante o grande interesse dos INTERMEDIÁRIOS indicados na reportagem; o Grupo VIP-Hoteis; a Fundação Joaquim Chissano, a Anfrin e outros, tenham que “pacientar” largo tempo, até que a situação internacional melhore, para arrecadarem suas comissões/participações: O sistema financeiro internacional fechou mesmo os cordões à bolsa.
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PS: A Hotelaria e Agências de Viagens são, tradicionalmente, veículos para a lavagem de dinheiro, cada vez mais atraentes com a vulgarização do dinheiro electrónico. Daí, também, a razão de tanta apetência!
Os nossos governantes pensam TÃO GRANDE... que esquecem o direito ao bem estar dos PEQUENOS.
" A economia não se limita simplesmente ao dinheiro, como é opinião do vulgo, mas abrange todos os nossos recursos psico-físicos. É, em rigor, o científico governo da nossa personalidade, e a acertada aplicação do nosso tempo, do nosso trabalho e do nosso dinheiro" (ROOSEVELT).
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