
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
31 maio 2009
Índice de instabilidade 2009/2010

Disponível novo questionário
Tal como prometido, o antigo questionário foi há momentos substituído por um novo, a conferir do lado direito deste diário, com o título Desenvolvimento e riqueza (registo de percepções), logo a seguir ao mural de recados.A delinquência académica
Permitam-me convidar-vos, caros leitores, a ler uma entrevista dada em 1978 (acontece muitas vezes que os temas mais antigos são os mais actuais) à Folha de São Paulo, com o título em epígrafe, pelo Professor Maurício Tragtenberg, sempre irreverente e sempre jovem: "A universidade está em crise e isso ocorre porque a sociedade está em crise. O tema é amplo, abrangendo a relação entre dominação e saber, a relação entre o intelectual e universidade como instituição ligada à dominação, ou seja, a universidade anti-povo. A universidade não é uma instituição neutra, é uma instituição de classe onde as contradições de classe aparecem. Para obscurecer esses fatores ela desenvolve uma ideologia, um saber neutro, cientifico, quer dizer, a neutralidade cultural e o mito de um saber “objetivo” acima das contradições sociais. Isso se acirrou a partir de 1964, quando a Universidade foi praticamente apartada da realidade, se encastelou. Nesse momento surgiu a figura do intelectual burocrata, do funcionário intelectual, que mais reproduz do que produz conhecimento próprio. Hoje a universidade forma a mão-de-obra destinada a manter nas fábricas o despotismo do capital. Nos institutos de pesquisa cria aqueles que deformam dados econômicos em detrimento dos assalariados. Nas escolas de Direito forma os aplicadores de legislação de exceção. Nas escolas de Medicina aqueles que irão convertê-la numa medicina do capital ou utiliza-la repressivamente contra os deserdados do sistema. Em suma, trata-se de um “complô de belas almas” recheadas de títulos acadêmicos, de doutorismo substituindo o bacharelismo, de uma nova pedantocracia, da produção de um serviço do saber."Kumba Yalá agora Mohamed Yalá Embaló
Regressado à Guiné-Bissau, o ex-presidente e homem do barrete vermelho, Kumba Yalá, "exprimiu-se confiante na sua vitória nas eleições presidenciais antecipadas previstas para 28 de Junho próximo". Explicou por quê: não tem adversário político nesta "arte muito complexa" que é a política.Encher cofres em poucos instantes
Com o título (a seis colunas) "Ruínas e bairros da lata dão lugar a hotéis de luxo" e ocupando as centrais, o semanário "Domingo" tem hoje um trabalho da autoria de José Rungo. O projecto Arco Norte tem em vista injectar um bilião e duzentos milhões de dólares - vou citar o jornal - "na construção de hotéis e parques de diversão de alto padrão na cidade de Pemba e na Ilha do Ibo. Para Nampula e Niassa os valores são outros, mas também reconchudos. (...) Se o Arco Norte for materializado como está escrito nos documentos a que tivemos acesso, Pemba e Ibo vão virar zonas chiques de doer." Há vários candidatos - entre os quais a Fundação Joaquim Chissano -, interessados em transformar Pemba e Ibo - vou de novo citar - "em destinos turísticos de alto padrão e que possam gerar rendimentos de encher cofres em poucos instantes". Pormenor: "(...) cogita-se que quando esta máquina estiver afinada e a funcionar em pleno vai gerar receitas na ordem de 700 milhões de dólares anuais" (pp. 20-21, itálicos no original.30 maio 2009
Quénia: governo de luxo
No El Mundo espanhol de hoje a propósito do Quénia: "Um presidente, um vice-presidente, um primeiro-ministro, dois vice-primeiros-ministros, 42 ministros, 50 assistentes de ministros, outros tantos ajudantes, viaturas luxuosas, repastos para o ócio e um soldo mensal de até 24 mil euros - eis as credenciais do governo do Quénia, um dos mais caros do mundo apesar de mais de metade dos 40 milhões de habitantes do país viver com menos de dois dólares diários." Obrigado à AA pelo envio da referência. Se quer ler em outra língua, faça uso do tradutor situado no lado direito deste diário.Guebuza e Simango em comícios hoje
Neste momento e na sequência da sua visita à cidade de Maputo, o presidente Armando Guebuza orienta um comício no Bairro de Magoanine C, periferia da cidade. Às 14:30, deverá ser a vez de Deviz Simango, presidente do MDM, no Bairro de Mafalala, após ter inaugurado a sede do partido na cidade de Maputo (a Rádio Moçambique - RM - referiu ambos os fenómenos hoje, no noticiário das 12:3o).Emails, sms e blogs: armas políticas no Irão
No Observatório da Imprensa: "Jovens iranianos estão sendo bombardeados com mensagens de texto via celular e e-mails incentivando o comparecimento às urnas no dia 12/6, a fim de evitar que o presidente Mahmoud Ahmadinejad seja reeleito, noticia Parisa Hafezi [Reuters, 27/5/09]. "Se você planeja não votar, pense apenas no dia 13/6, quando ouvir que Ahmadinejad foi reeleito", dizia uma das mensagens SMS. "Vote por [Mirhossein] Mousavi e envie este texto para dez outras pessoas, ou você terá pesadelos", brincava outra. Pela primeira vez, e-mails e blogs estão desempenhando um papel fundamental em um país mais acostumado a receber mensagens políticas por meio de carros com alto-falantes, cartazes e comícios. O governo, cujos centros de apoio se localizam nas áreas rurais e pobres, está contra-atacando, enviando também e-mails e SMS – só que elogiando as realizações de Ahmadinejad." A propósito do papel da internet na campanha presidencial de 2008 nos Estados Unidos, leia aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio das referências.Homo Sibindycus
Pela voz do bem-amado Homo Sibindycus e através do "Notícias" de hoje, ficamos a conhecer o manifesto eleitoral do partido PIMO, dito "bloco de orientação construtiva". É um manifesto cheio de ideias originais, do género: terra e mulher constituem pólos de luta contra a pobreza, necessidade de reservar água com barragens e diques, três campanhas agrícolas anuais, atracção do capital financeiro, etc. Mídia e relações políticas (1)
"E se você tiver cursado boas escolas, como eu cursei e você também, a sua história foi sendo moldada para a obediência. Para a maioria da população, a educação é uma forma de colocá-la no seu nicho na sociedade e de fazer com que elas não causem problema. De fazer essas pessoas prestarem atenção em outra coisa - esporte, moda, comédias, mas não nos perturbe. Por exemplo, o fenômeno Bill Gates e seus planos para a Internet. Se as pessoas estiverem sentadas na frente de seus computadores, apertando botões para satisfazer formas artificialmente criativas, você não precisa se preocupar." - Noam ChomskyNa nossa sabedoria espontânea, a mídia é fundamentalmente apenas um conjunto de três coisas: informação, crítica e recreação. Como consumidores, dedicamos bastante tempo a avaliar se a informação é ou não isenta e se a recreação é ou não adequada. Porém, a mídia é também, de forma exemplar, directa e/ou indirectamente, um conjunto permanente de fenómenos que nos permite, através das múltiplas janelas que abre, entrever o funcionamento das relações políticas numa dada sociedade. O que quero dizer com isso? Quero dizer com isso que a informação veiculada pela mídia permite-nos, como num laboratório, estudar as relações Estado/cidadãos a quatro níveis:
1. Instâncias de sistemas e de regras de vida
2. Instâncias de conformismo
29 maio 2009
"Savana" moderniza-se
O semanário moderniza-se e multiplica os campos de contacto: testa a Rádio Savana (frequência de 100.2 em FM) e está agora também no facebook. Entretanto, leia a edição desta semana aqui.Sobre os sete milhões na Catembe


Cultura africana na pintura
A "hora do fecho" no "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, para já dois aperitivos:28 maio 2009
Polícia e liberdade da imprensa: alvos da AI 2009 sobre Moçambique
A Amnistia Internacional (AI) divulgou hoje o seu mais recente relatório sobre direitos humanos no mundo. A organização é particularmente severa para com Moçambique no tocante ao comportamento da polícia e ao que considera ser cerceamento da liberdade de imprensa. Confira aqui e aqui, importe o relatório global aqui. Se quer ler em francês um aviso da AI sobre um eventual retorno das "greves de fome" em África, confira aqui no Le Monde.Sábado: Deviz comicia na Mafalala
De acordo com o portal do MDM, Deviz Simango, presidente desse partido, orienta depois de amanhã, sábado, às 14:30, um comício no Bairro da Mafalala, lá onde nasceram Eusébio e Craveirinha.2004: votaram apenas 43% dos eleitores potenciais

Campanhando duro
A campanha eleitoral ainda não começou e já começou - uma sensata fórmula heracleatana. Na verdade, formalmente ainda não é a altura das campanhas partidárias e presidenciais, mas no terreno, campanhando duro, andam os presidentes de três partidos, Frelimo, Renamo e MDM. No lado da Frelimo, Guebuza não pára, ontem em Tete, hoje em Maputo; do lado da Renamo, Dhlakama esteve no Mossuril, diz o "O País" que em comício concorrido; finalmente, do lado do MDM, aquele que deverá ser o seu candidato presidencial em Outubro, Deviz Simango, deve estar neste momento em comício no popular bairro da Mafalala, periferia da cidade de Maputo.O último editorial
No "Zambeze" desta semana: "Este é o último Editorial que esta direcção editorial do ZAMBEZE produz, porque também é a última edição que o director, Fernando Veloso, o editor, João Chamusse, e o sub-editor, Luís Nhachote, dirigem e produzem juntos ao abrigo do “Memorando de Entendimento” que desde Março de 2007 a «NovoMedia, S.A.R.L», empresa proprietária deste semanário, e a «Imprensa Livra-te, Limitada – IMPREL», proprietária do CANAL DE MOÇAMBIQUE, tinham a regular as suas relações inter-empresarias, em que à primeira cabia administrar a NovoMedia e o produto, e aos jornalistas da IMPREL dirigir e produzir editorialmente o Semanário Zambeze, em nome da «NovoMedia, Sarl», com a possibilidade da «NovoMedia» poder dispor de material editorial do Canal de Moçambique, sem custos adicionais."Mouzinho abre a presidência aberta
O jornalista Mouzinho de Albuquerque pegou na "presidência aberta" e decide vê-la pelo seguinte ângulo em Nampula: "Não sei se o Presidente da República, Armando Guebuza, sabe ou não, mas o que se tem assistido de forma continuada, apesar de protestos, é que das várias vezes que já visitou alguns distritos de Nampula, incluindo a capital provincial, tudo ficou parado, incluindo mercados e outros locais de interesse público, só porque se quer obrigar as pessoas a irem recebê-lo no aeroporto ou estarem presentes nos comícios que orienta. (...) Na recente visita do estadista moçambicano à província de Nampula, alguns pequenos e grandes comerciantes de um distrito considerado como um dos mais pobres da região e que por causa disso deveria desenvolver esforços para inverter o cenário, escalado pelo Chefe do Estado, ficaram revoltados devido ao facto de as suas barracas e lojas terem sido encerradas, porque alegadamente as pessoas tinham que ir obrigatoriamente ao comício."A morte banalizada
Quem estiver atento à secção das "ocorrências" do "Notícias", verificará a frequência alarmante com que surgem notícias como esta: "Um corpo sem vida e em estado avançado de decomposição foi encontrado nas primeiras horas de ontem no bairro de Luís Cabral, na cidade de Maputo. (...) presume-se que o malogrado tenha sido vítima de ofensas corporais, dado os ferimentos que o corpo apresentava".27 maio 2009
A propósito de peixe
Hoje, ao almoço, cheirou-me francamente a peixe, aquele cheiro forte, atacante, enjoativo, que detesto mesmo quando me delicio com o saboroso pende lá de Tete, minha terra. Mas que peixe me narinava? Postas, nada peixemente configurado, nada de escamas, apenas o ícone, milimetricamente cortado, postado. Assim é com muitas coisas. Compramos bife, memória distante do boi ou da vaca. Compramos pernas de galinha, coisas assim. Lembro-me de em 1982 ter ficado horas numa longa bicha (fila indiana) para, em Moscovo, visitar, por insistência do guia, um curral de porcos de múltiplos tamanhos. Perguntei ao guia por que está estávamos ali, em meio àquele chiqueiro sem fim. Resposta: a gente vem aqui porque queremos conhecer os porcos, deles apenas conhecemos a carne, os enchidos, perdemos as raízes rurais há muito.E nada de Anibalzinho

Boato
Garimpeiros contaminam rios de Manica

Coisas da vida
De um artigo assinado por Victorino Xavier: "Em Mabote, o Procurador substituiu a Polícia de Trânsito exigindo e algemando condutores sem carta em plena via pública. Em Mabote, alguns membros da PRM prendem e conduzem viaturas sem carta de condução e fazem “chapa” com a viatura apreendida. Ninguém é responsabilizado."26 maio 2009
São apenas 11 médicos - Ivo Garrido
Não são 40 (recorde aqui e aqui), mas apenas 11 médicos especialistas americanos, mas "nenhum vai trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, nenhum vai observar um Moçambicano quando estiver doente", são apenas para trabalhar em programas de saúde da embaixada americana, área do HIV/SIDA, já em Novembro eles estavam autorizados a trabalhar - ministro da Saúde, Ivo Garrido (na imagem), falando à margem de uma audiência parlamentar esta semana (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).Os heróis africanos de Manuel
Mais desastres
Portal bom, investidor atraído...
Parece que saber organizar informação nacional num bom portal é condição importante para atrair investidores. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.Luta pelo Oceano Índico
Nas próximas décadas, Estados Unidos, Índia e China disputarão as estratégicas águas do Oceano Índico. No que nos toca, é por ele que saem - e continuarão a sair -, por exemplo, a madeira e o carvão. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.Uma vez mais Renamo adia seu congresso
De acordo com a Rádio Moçambique e pela voz de Fernando Mazanga, o partido Renamo anunciou hoje em conferência de imprensa ter adiado o seu congresso para data indeterminada, congresso que estava previsto realizar-se em Nampula nos dias 1/2, onde o MDM também vai realizar o seu Congresso Nacional a partir do dia 6. O porta-voz afirmou que o adiamento tinha a ver com "manobras da Frelimo", ocupando instalações da cidade de Nampula justamente nos dias em que a Renamo deveria realizar o congresso, para supostamente realizar reuniões, deixando a Renamo sem possibilidades de se instalar. O porta-voz da Frelimo, Edson Macuácua, afirmou que era falso o que Mazanga tinha dito. O problema - disse - é que a Renamo não está em condições de realizar o congresso (noticiário das 12:30). Moçambicanos não sabem comer? (5)
Termino esta série.Leões, chuva, cólera e energia nociva: trajectórias de "guerreiros" (5)
Agora, o fim desta série.A saga dos sete milhões em Mutarara
A saga dos sete milhões - regularmente abordada neste diário - prossegue, com conteúdo crescentemente claro no que concerne aos meandros da alocação. Desta vez foi em Mutarara, província de Tete, quando da visita do presidente Guebuza: "Senhor Presidente, esta semana, várias pessoas deste distrito foram contactadas pelos membros do Conselho Consultivo no sentido de não falarmos nada sobre a gestão danosa dos sete milhões. Disseram-nos que caso falássemos pagaríamos muito caro pela nossa ousadia com agressões físicas e até nos ameaçaram de morte, mas isto não nos assusta. Formaram um clube de famílias e amigos e entre eles concedem-se empréstimos sem observância das regras”, disse Andrade, para depois acrescentar que “Nós, quando apresentamos projectos, os mesmos são simplesmente chumbados ou, então, no lugar de ser concedido o empréstimo pretendido, recebemos 5 a 10 por cento daquilo que solicitamos. Ajude-nos a combater a pobreza aqui em Mutarara”.O paradoxo
Na província da Zambézia, o governo defendeu que cumpriu o plano governamental, o governador argumentou mesmo que em 100%. Porém, o presidente Guebuza "verificou que os números apresentados não reflectem a realidade que encontrou nos distritos que visitou nos domínios social e económico. É um paradoxo."25 maio 2009
Refinaria de Nacala avança?
Há dias o "Notícias" deu conta de que estava a ser difícil obter o financiamento para a construção da refinaria de petróleo de Nacala-a-Velha, avaliada em cinco biliões de dólares. Porém, Philip Harris, presidente da empresa americana financiadora, Ayr Logistics, assegurou que o projecto está em marcha.Moçambicanos não sabem comer? (4)
Ministriáveis e deputáveis (3)
Vamos lá a mais um pouquinho da série.As experiências democráticas em África
O balanço das duas últimas décadas de transições democráticas em África parece ser desolador: guerras civis, ditaduras e golpes de Estado continuam a fazer a primeira página dos jornais. Todavia, as sociedades africanas, plurais e abertas, apropriam-se das formas democráticas com uma linguagem e com uma prática que lhes são próprias, tal como explica Mamadou Diouf numa entrevista. Historiador senegalês, ele dirige o Institute for African Studies da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia (New York). O texto está em francês. Use o tradutor situado no lado direito deste diário para o converter em inglês ou em português. Obrigado ao Ricardo, meu dedicado correspondente em Paris, pelo envio da referência neste dia especial, Dia de África.Moçambicanos não sabem comer? (3)
Moçambicanos não sabem comer? (2)
Alertado por uma jornalista, fui ainda a tempo de ver, há bocado, um pouco, o programa da TV record referido no primeiro número desta série, retransmitido pela Miramar local. Com a inépcia que me é habitual, fiz dois curtos vídeos de cuja má qualidade peço sinceras e temperadas desculpas. Do lado direito, está a nutricionista Camila. Lamentavelmente não consegui registar passagens sobre o leite condensado (único leite usado, segundo a nutricionista), sobre a carne que é quase uso masculino ("Os homens não fazem nada") (recordem o cabeçalho do primeiro número), etc.:
(continua)
Moçambicanos não sabem comer? (1)
"Nas regiões de Moçambique que serão beneficiadas pelo programa do SESI-SP, o cardápio da população é composto, basicamente por cereais, como milho e arroz e frutas como coco e abacaxi. Detalhe: a polpa do coco é desprezada. Sem conhecimento, os moçambicanos aproveitam apenas a parte líquida da fruta. Outro alimento muito utilizado pela população local é uma folha amarga, servida crua, conhecida como cacana. “Carne é artigo raro por lá. E, quando chega à mesa, a tradição pede que apenas o homem coma. Se houver sobras, mulher e filhos, nessa ordem, podem se servir”, diz Camilla Augusto Martins, nutricionista do SESI-SP, enviada a Moçambique para desenvolver o programa. Em sua primeira viagem àquele país, em maio do ano passado, Camilla pesquisou e analisou, durante um mês, os hábitos alimentares da população. Entre os desafios encontrados, o principal deles foi criar receitas com pouquíssimos ingredientes. Outro empecilho foi a falta de energia elétrica e gás, que impede o preparo de pratos com a ajuda de eletrodomésticos como fogão, geladeira, liquidificador e batedeira. “A escassez de comida também reduz o número de refeições diárias que deveriam ser feitas e limita a quantidade e variedade de nutrientes essenciais à saúde”, diz Camilla. “ “A escassez de comida também reduz o número de refeições diárias que deveriam ser feitas e limita a quantidade e variedade de nutrientes essenciais à saúde”, diz Camilla. “Os moçambicanos só se alimentam ao entardecer. Jamais quando saem de casa para trabalhar ou ir à escola”.Que sociedade temos?
"A sociedade não é nossa, o país não é nosso, as coisas não são nossas, é simplesmente usa e deita fora. E não são só as populações em geral que fazem isso, mesmo pessoas com grande história, considerados heróis nacionais fazem coisas desse género. Nós vivemos de delapidação das florestas, etc., dos recursos naturais, esta luta por arrancar a terra, a água e os recursos do subsolo, etc., sem perspectiva de país.” - num programa do jornalista Boaventura Mandlate da Rádio Moçambique, o economista Castel-Branco fala da sociedade que temos, 20 anos após o início da reforma económica. A conferir no portal da Rádio Moçambique, aqui.





