19 agosto 2008

Nkomo: mau espírito do GUN no Zimbabwe (2) (continua)


Prossigo um pouco mais a série.
Continuamos sem "governo de unidade nacional" no Zimbabwe. O mediador negocial entre ZANU-PF e o MDC de Morgan Tsvangirai (o grupo de Mutambara não tem qualquer significado político), Thabo Mbeki, presidente da África do Sul, tenta agora que pelo menos o parlamento zimbabweano funcione, por forma a permitir o encaixe legal da figura de primeiro-ministro.
Na verdade, não há governo legal no Zimbabwe após as eleições de Março.
Mas por que razão está difícil obter um GUN no Zimbabwe? Por uma razão mais simples do que a simplicidade: a elite que governa o Zimbabwe (um enquadramento bem mais lógico do que aquele que consiste em dar a Robert Mugabe - na foto à esquerda - a centralidade dos processos) não tem qualquer disposição em permitir que a nova elite oriunda do MDC possa dispor de governo efectivo.
Ancorada na luta armada, com seu passado de libertadora da pátria, crente de que tem por destino eterno governar o país, monitorada pelos serviços de segurança, a elite da ZANU-PF considera uma heresia permitir que a elite concorrente - civil, nascida não nas matas como a do falecido Joshua Nkomo (à direita na foto), mas nos sindicatos, na luta contra o regime e, claro, nas prisões - possa ter uma palavra a dizer na governação de um país que tem agora uma inflacção de onze milhões por cento, mas que tem, também, a segunda maior reserva de platina do mundo.
Ora, a elite da ZANU tudo fará para dar ao MDC o mesmo destino que deu à de Joshua Nkomo: o da decapitação política. Assim fazendo, procurará conservar os centros nevrálgicos do poder a nível político e económico.

1 comentário:

Matsinhe disse...

Ilustre Dr.

Não estará a ser bastante simplista na sua análise aos problemas que o Zim enfrenta? Achacar tudo ao passado guerrilheiro da ZANU (por acaso similar ao da Frelimo) não é fechar em demasia os possíveis focos de análise do problema zimbabweano?

O que é que está realmente em causa no Zimbabwe?

Suponhamos que o Zimbabwe fosse um grande supermercado, dos mais bem frequentados que existem e que Mugabe decide (com argumentos aceitáveis para aqueles que não tem acesso a esse Supermercado pelas mais diversas razões) tomar de assalto esse Supermercado (o que de imediato gera uma onda de protestos por parte dos que tinham acesso a esse Supermercado e, evidentemente, dos seus donos que, com a sua capacidade financeira mobilizam os media, os sindicatos internos e externos e todos os amigos possíveis). A campanha é tão bem sucedida que o Mugabe já está cercado; tem pouca chances de sobreviver na actual conjuntura. Já há reféns que é o povo que sofre como resultado de todo o que foi acontecendo desde o assalto ao supermercado.

Nesta conjuntura será que a explicação se resumirá ao facto de a Elite da ZANU, "ancorada na luta armada, com seu passado de libertadores da pátria, crente de que tem por destino eterno governar o país, monitorada pelos serviços de segurança, considerar uma heresia permitir que a elite concorrente - civil, nascida não nas matas como a do falecido Joshua Nkomo (à direita na foto), mas nos sindicatos, na luta contra o regime e, claro, nas prisões - possa ter uma palavra a dizer na governação de um país que tem agora uma inflacção de onze milhões por cento, mas que tem, também, a segunda maior reserva de platina do mundo."

Não estaremos em face de uma tentativa de sair "ileso" do cerco? Não estaremos em face da "negociação" de imunidade? Mugabe sabe que está bloqueado. O Parlamento que ainda não está a funcionar tem a composição que se conhece. Por isso me custa pensar APENAS na teimosia de ex guerrilheiros. Há mais. MAs como desde o início há um simplismo reducionista sobre as questões zimbabweanas.

Parece que para nos heroicizarmos precisamos de dizer algo sobre o Zimbabwe e contra Mugabe. Mwanawassa (que Deus o tenha) virou heroi do ocidente quando, abertamente, criticou Mugabe. Hoje a imprensa mundial o apresenta como "um dos mais respeitáveis" líderes da região quando, antes daquela façanha, era tão discreto como o vice-do ambiente (a propósito quem ele é?).