Minha resposta, indiscutivelmente discutível na sua emotiva indiscutibilidade: Paulina Chiziane. Claro, muitos me dirão: mas não, há outros romancistas bem melhores. Os mais rigorosos e kantianos perguntarão: oiça lá, quais são os seus critérios de avaliação?
Escutai, tenho para mim que na estrada do romance existem três tipos de escritores: os criadores de imagens, os criadores de tipos sociais e os criadores de personagens. Os primeiros criam conjuntos estéticos de palavras sem romance, os segundos criam personagens virtuais, de plástico (não há aqui romance com personagens reais salvo o prazer de um esquema intelectual e lúdico federador de marionetes, de personagens possíveis) e os terceiros, como Paulina, criam realmente romances, as personagens sentem-se aqui densamente, até ao tutano, são reais no emaranhado de um enredo também ele real, sem recurso ao excesso de estilo que disfarça a ausência do enredo e à estética turbo que auto-conforta e nos auto-convence de que existe o enredo que, afinal, não existe, são como que personagens e história que dispensam quem as criou (fenómeno raríssimo em Moçambique). Naturalmente que me coibo de falar dos maus escritores que se convenceram de que são bons escritores, a fauna é bué.
Quando leio Paulina, sinto tactilmente o que ela escreve, tal como sinto quando leio, entre outros, Cesar Pavese ou Italo Calvino ou James Joyce ou José Saramago ou Cardoso Pires (o melhor romancista português, para mim) ou Garcia Marquez ou Dostoievsky ou Guimarães Rosa.
É muito discutível o que escrevi? Evidentemente que é. Mas o que há de mais indiscutível do que o que discutivelmente indiscutimos por mais nada podermos fazer senão dar vazão às emoções indiscutíveis e organizar a vida em função de escalas e qualidades?
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"Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance (Balada de Amor ao Vento, 1990), mas eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte. Nasci em 1955 em Manjacaze. Frequentei estudos superiores que não concluí. Actualmente vivo e trabalho na Zambézia." - Paulina Chiziane
3 comentários:
professor, mas do que uma escritora de grande nivel, ela tem uma vida fantastica, quem ja conviveu "ao vivo" a conversa da paulina, conversa-se com prazer e letras a mocambicana.uma mulher de "muitas lutas" como ela diz.
Sim, sei um pouco disso...Adoro Paulina, adoro o que escreve.
Deixou-me curioso. Vou tentar arranjar o "ventos do apocalipse" ou "o sétimo juramento" que sei que estão publicados em Portugal pela Caminho. Terei todo o prazer em deixar aqui um comentário. Pessoalmente sou um devorador do Mia Couto. Adoro a forma ternurenta, digna, mágica e surreal como retrata as angústias e a vida quotidiana. Consegue mexer verdadeiramente comigo.
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