24 abril 2008

Tsvangirai e Dhlakama: a prova do ovo de Colombo (1)

Vinte e sete dias depois das eleições de 29 de Março no Zimbábuè, os resultados oficiais ainda não saíram. Uma exemplar espera de Godot.
Há anos que a situação no Zimbábuè é bem mais do que um simples problema interno. Há anos que esse situação é também nossa, a vários níveis, na África Austral. E é também de outros, mais a norte.
Uma solidariedade militante (justa, diga-se de passagem), uma camaradagem produto das lutas de libertação tem constituído o cerne do que, oficialmente, se chama diplomacia silenciosa, diplomacia que é, afinal, a da compreensão, a da história, a do staus quo, a dos espíritos do passado. A cargo de quem? De uma aristocracia, a tal aristocracia referida num texto recente que traduzi para este diário, aristocracia dos libertadores que tem servido para caucionar o comportamento da ZANU e de Robert Mugabe, para dar ao presente o aval do passado, sejam quais forem os nós de estrangulamento político existentes no Zimbábuè.
Confrontada com os ataques do Ocidente, em especial da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, a rígida hierarquia dos libertadores - à testa da qual, pela idade, está Mugabe - regressou ao passado e naturalmente aceitou a visão mugabeana de um país vitimizado em permanência pelo neo-colonialismo, pela neo-arrogância. Prisioneiros da história e do passado, os líderes libertadores e dirigentes da SADC - claramente acima dos líderes júniores que não passaram por lutas de libertação - ficaram assim reféns da ZANU e de Mugabe. Reféns de tudo o que de politicamente perigoso se passou e se passa no Zimbábuè, reféns de uma situação social imputada à malevolência racista do Ocidente, reféns de um processo eleitoral instintivamente considerado credível, reféns de uma visão da oposição em termos de marionete, de joguete do exterior, de acidente negligenciável no leito sagrado das lutas de libertação.

1 comentário:

creativemind disse...

O que acho desta situação toda é que de todos os países da Africa Austral quem mais sai a perder é mesmo Moçambique. Vejamos:
- Em termos económicos: Moçambique ganha com o corredor da Beira, as importações e wexportações zimbabweanas pasam todas por lá.
- Em termos políticos: o enfraquecmento da democracia zimbabweana representa o nosso enfraquecimento democrático.
- Em termos sociais: Milhares de zimbabweanos fogem para o nosso país a procura de melhores condições de vida, degradando ainda mais as condições sociais de mtos moçambicanos.
- em termos estratégicos: ai ficamos mesmo a perder. A timidez de Moçambique significa perder a oportunidade de assumir um papel mais preponderante e um dos países com voz na africa austral. é lamentável que Moçambique fique por trás da bananeira quando se é para assumir posições firmes.