Terceiro número da série. Propus no número anterior três formas de mexeriquismo político: o rotineiro de maldizer, o laboratorial de contrapropaganda e o astroturfing. O mexeriquismo político rotineiro de maldizer é como que um fenómeno natural, é como se cada sociedade fosse dicromata e tivesse necessidade de maldizer outrem para, juntamente com o bem-dizer, seguir em frente. Em particular, os partidos políticos, os seus porta-vozes, os seus intelectuais de plantão, os seus militantes, os seus simpatizantes, os seus jornais, os seus blogues e as suas páginas nas redes sociais digitais formam uma rede de castelos feudais permanentemente sem ponta levadiça, quer dizer, sem abertura para o exterior, sem contacto, sem partilha, sem permuta analítica, sem alianças. Dentro de cada castelo o mundo é encarado de forma maniqueísta, como tendo apenas dois lados: o lado dos bons no interior e o lado dos maus no exterior. Certos jornais do país são exemplares exercícios de mexeriquismo político rotineiro, nos quais o que está em causa é - apesar, aqui e acolá, de alguma pretensão científica - uma avaliação moral primária, não poucas vezes boçal. Nesses jornais o partido X é encarnação do bem e os restantes partidos são a encarnação do mal.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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