Segue-se um texto por mim escrito em 2011:
Segundo o "Diário de Moçambique", entre Janeiro e Novembro 16 mulheres idosas foram assassinadas no distrito de Marromeu acusadas de feitiçaria: "(...) quando um jovem não logra sucesso na sua vida, como a falta de emprego, a primeira culpada que encontra por isso é a idosa, como lhe tendo amaldiçoado." Aqui.
Comentário: o que se faz depois? Depois prendem-se os criminosos, presta-se assistência multilateral às vítimas, protesta-se, fazem-se discursos veementes, organizam-se marchas urbanas, etc. Por outras palavras: enfrenta-se a superfície de uma pequena parte do problema, mantendo-se porém intacto o conjunto de relações de produção que produz e reproduz a crença na feitiçaria, procura-se curar o cancro com aspirinas. Estado e organizações de cidadãos deveriam ter a iniciativa e a coragem de organizarem uma séria reunião nacional sobre o tema, procurando encontrar os mecanismos e os métodos mais adequados para fazer face ao fenómeno. Multiplicam-se as sessões e as reuniões sobre o HIV/SIDA, mas não sobre a feitiçaria. Diremos que é um problema cultural, que no fundo todos acreditamos nos feitiços, que isso é coisa de africanos, etc. Pois é, mas culturalmente morrem todos os anos dezenas, se não centenas de pessoas, designadamente mulheres, acusadas de feitiçaria. Feitiçaria não é especificamente africana, não é uma substância intrinsecamente africana, mas um produto de determinados modos de produção, distribuição e interpretação da vida cuja mecânica e cuja reprodução importa conhecer. A impossibilidade de solução do fenómeno está contida nas premissas erradas com que o analisamos. Saibamos, então, encontrar outras premissas.
Adenda às 8:17: a propósito da feitiçaria e dos linchamentos por acusação de feitiçaria, sugiro a leitura do livro com a capa abaixo:
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