02 outubro 2011

Sobre a qualidade do ensino em Moçambique (14)

"Eu mesmo tenho frequentemente lembrado que, se existe uma verdade, é que a verdade é um lugar de lutas." (Pierre Bourdieu)
Avanço na série, mantendo-me no segundo ponto do sumário proposto, rigorosamente apenas lançando ideias e hipóteses que carecem de pesquisa.
2. Qualidade e ensino: o problema das definições.  O sentido político do ensino pode ser encontrado nos três fenómenos que propus no número anterior. Assim, disciplinas como a História e a Geografia são os campos por excelência de exaltação dos feitos nacionais e/ou partidários. Mas esse campo nivelador, generalista, vincadamente nacional, não esconde a reprodução das diferenças sociais através da proliferação de estabelecimentos privados de todo o tipo (oferecendo condições de estudo bem superiores às do ensino público). É na mercantilização do ensino que toma curso o que chamo nobre mentira de Platão. Mas não só, há ainda uma outra, subtil coisa.
Prossigo mais tarde. Crédito da imagem aqui.
(continua)

5 comentários:

BMatsombe disse...

Por estas bandas o ensino privado abunda nos elevados preços para elites.

ricardo disse...

A questao que deveria ser BEM colocada aqui, era saber por que razoes se teve de recorrer a solucoes privadas? Onde e que tudo comecou a falhar?

Para exemplificar. O que sucedeu ao patrimonio, ateliers e excelentes laboratorios da Josina Machel? Ou aos da Francisco Manyanga? Quando por la passei (Josina) ainda tive aulas laboratoriais de Fisica neles com professores socialistas cubanos. Mas quando cheguei a Manyanga em 1988 ja periodo da nossa perestroika pos-Machel, li um aviso que dizia "ENTRADA NO LABORATORIO RESTRITA A DOCENTES". Tambem nunca os vi a entrar la. E o mais importante, nunca tive uma unica aula laboratorial nos dois anos em que fui aluno daquele estabelecimento. Diziam-nos alguns responsaveis pedagogicos de entao "Isto e ensino Geral...se alguem quiser pratica, que se matricule no Instituto Industrial..."

Mas porque passou a ser assim, isso, ate hoje nunca percebi...

Salvador Langa disse...

O negócio...de Platão.

Xiluva/SARA disse...

Este 'encino'....

ricardo disse...

Num outro prisma, numa outra latitude. O problema do ensino na Coreia do Sul e a contribuição do sector privado nos seus bons e maus momentos:

http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,2094427,00.html

Americanizar o sistema de estudo local, eis a questão que hoje se coloca. Mesmo percebendo que uma vez globalizados, os coreanos nunca serão americanos. Da mesma maneira que os moçambicanos, nunca serão chineses. Mas ao que parece, em tempo de crise financeira internacional, estudar muito também passou a ser "crime"...

Admirável mundo novo.