Tenho para mim que uma parte do nosso povo é triplamente mestiça em suas crenças: acredita ao mesmo tempo no médico, no pastor e no curandeiro. Se algo é suposto falhar num, há reservas à espera. Isso é especialmente visível nas doenças, encaradas num espectro inflexível que vai do mosquito ao desajuste de um mau espírito, passando, dada a crescente influência das igrejas evangélicas salvacionistas, pelo diabo. Do paracetemol à mezinha que é suposta blindar corpo e alma, habita a infinita crença na vida, crença em vaivém permanente entre o hospital, o consultório e o templo.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
4 comentários:
De acordo consigo Professor. Quanto mais pobreza mais as pessoas procuram consolo.
Isso também faz a fortuna de muitos malandros que exploram as crenças.
Como aqui e em muitos outros países.
Nao ha mesticagem. Ha desespero e desnorte de um povo que nunca foi ensinado (porque ninguem o deseja) a saber quem ele e, e o que dele espera o seu pais. Mesmo hoje, ainda assoma a janela, gesticulando para todos os lados, e gritando para ser ouvido por alguem mais velho. E um povo que se libertou das amarras coloniais, mas que todavia, ainda nao se libertou das amarras mentais dos lideres que escolheu.
Outros povos, questionariam. Interpelariam. Estudariam. Exigiriam. Mudariam esses lideres!
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