13 outubro 2010

Causas e características das manifestações em Maputo e Matola (27)

"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
-"(...) a opinião pensa mal, não pensa (...)" (Gaston Bachelard)
Mais um pouco da sériemais algumas hipóteses (penso em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano), o tratamento do ponto 4.5.4 do sumário.
4.5.4. Recursos de vida e poder. Existem múltiplas maneiras de criar uma estrutura analítica para estudo de um determinado fenómeno. Essa estrutura não está inscrita na natureza, não existe em si, não reside nos fenómenos, é produto dos interesses e da escolha de um pesquisador. Na sugestão que faço de uma estrutura de análise (a ela voltarei na continuidade do sumário), entra o que chamo recursos de vida e poder. O que são recursos de vida e poder? Formulação preliminar: recursos de vida e poder são mecanismos, meios, instrumentos e símbolos pelos quais podemos (1) produzir e reproduzir a nossa vida (nível primário) e (2) induzir a conduta de outrem (nível secundário). Exemplos de recursos de vida e poder: emprego, habitação, meios de transporte, formação escolar e universitária, assistência médica e medicamentosa, acesso à palavra pública, reconhecimento social, lazer, reforma, postos políticos de direcção, postos estatais de direcção, etc. Tenho por hipótese que toda a nossa vida gravita em torno da disputa desses recursos, aos mais variados níveis e com as mais variadas intensidades, sendo necessário criar uma escala de zonas e perfis conflituais. Os testemunhos apresentados pelos órgãos de informação mostram claramente que a desigualdade na distribuição de recursos de vida e poder atravessou por inteiro as exigências dos manifestantes de 1/3 de Setembro (foto reproduzida daqui).
(continua)

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