28 outubro 2010

Graça, Marcelino e Rebelo: a frente crítica (4)

Mais um pouco deste série, tendo em conta o sumário proposto, com mais algumas ideias, algumas hipóteses.
1. As causas do espanto (continuidade do ponto). Primeira pergunta: por que nos espantamos em geral com as críticas de Graça, Marcelino e Rebelo? Segunda pergunta: por que achamos em particular que os três são falsos críticos? Vou avançar algumas hipóteses. Primeira: o culto da unanimidade e do secretismo. Muitos de nós fomos educados a pensar numa só direcção, a silenciar as bifurcações, a punir na alma os demónios da dúvida e da diferença. Mais: fomos educados no secretismo, a esconder a crítica frontal, os olhos-nos-olhos. Divergir e, ainda por cima, fazê-lo publicamente, pode ser entendido como falta de respeito, como procedimento não africano. Segunda hipótese: culto do patriotismo do sim conveniente em geral, do sim politicamente conveniente em particular, estimulado e pregado aos mais variados níveis pelos evangelizadores políticos oficiosos e pelos polícias ideológicos como sendo o verdadeiro patriotismo. O não, o patriotismo que envereda pelo não no sentido de melhorar coisas, veredas e situações, é considerado heresia, ultrage, antipatriotismo. Terceira hipótese: culto da fidelidade partidária com uma só linha de pensamento. Este é um culto tão mais forte em suas exigências quanto mais amplo for o campo de luta interpartidária (a Assembleia da República é, em meu entender, a este nível, um exemplo paradigmático). Quarta hipótese: culto da crença na venalidade de qualquer acto produzido por um partido no poder. Qualquer produto, pequeno ou grande, modesto ou imponente, de um dado partido no poder, é, por inteiro, considerado como uma característica irremediável de cada um dos seus militantes, como um ADN irrecusável de todos os membros desse partido. Quinta hipótese: o culto do pecado. Falhas, faltas, fissuras comportamentais, pecados cometidos segundo a métrica dos nossos sistemas morais, são transfronteiriços: acompanham os supostos autores toda a vida. Sexta hipótese, espécie de súmula das hipóteses anteriores: culto do sagrado em geral, do sagrado político em particular. O sagrado não se discute, aceita-se. Discutir o sagrado é impugnar gravemente a divindade ab initio. Este ponto não está terminado, prossigo-o brevemente.
(continua)

3 comentários:

ricardo disse...

A vida dá lições que só se dão uma vez (Winston Churchill)


Parece haver aqui um problema de simetrias...

Sera que essas hipoteses aplicam-se a NOS ou a entourage da TROIKA? Todas caracteristicas descritas nelas correspondem taxativamente ao HOMO FRELIMISTICUS, que pulula na Funcao Publica, Media e Academias. E tudo isto, porque se instalou em Mocambique o sindrome "PRI".

Mas Abdul Karim sistematizou bem a questao:

1-Marcelino contra, porque tem visao Marxista -> concordo;
2-Graca contra, porque tem visao mercantilista -> concordo;
3-Rebelo contra, porque tem visao Marxista-Liberal -> concordo.

Mas se lhes perguntassemos o que proporiam para reverter o status-quo? A resposta seria obvia: Centralismo Democratico!

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Sindrome "PRI" ?

ricardo disse...

O que e Sindrome "PRI" ?

E a "ditadura perfeita".

http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/07/03/o-partido-revolucionario-institucional-prepara-sua-volta-ao-poder-no-mexico.jhtm

Ressurgida das cinzas, tal como fenix...