10 outubro 2010

Causas e características das manifestações em Maputo e Matola (26)

-"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
-"(...) a opinião pensa mal, não pensa (...)" (Gaston Bachelard)
Mais um pouco da sériemais algumas hipóteses (penso em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano), o tratamento do ponto 4.5.3 do sumário.
4.5.3. Produção do sentido dos actos e dos fenómenos. Os actos e os fenómenos sociais podem ser estudados de duas maneiras: pela atribuição de causas (abordagem causal) e pela recolha do sentido (abordagem representacional) que os actores sociais dão a esses actos e fenómenos. A minha proposta assenta na combinação e no cruzamento de ambas as abordagens. As causas serão vistas a partir do ponto 4.5.5. Agora apenas estou preocupado com o sentido. Como anteriormente e de forma sistemática referi, os habitantes da periferia foram catalogados pelos membros que vivem ou que trabalham no centro urbano, foi a partir do centro que o sentido dos actos suburbanos (recorde a carta referida na segunda citação em epígrafe) foi generalizadamente construído. Raramente foi dada a palavra a esses suburbanos. O sentido produzido no centro sobre a periferia foi por inteiro alicerçado numa teoria do caos e da violência. Daí a importância da reconstituição das representações sociais feita pelos próprios suburbanos. Sugiro, desde já, uma combinação de entrevistas focais a vários tipos de actores (entre dirigentes, dirigidos e produtores de opinião, com variáveis a construir) e de escalas sociais (eventualmente de graduação ou combinadas com uma escala de Likert, com amostragem probabilística), destinadas estas a medir a intensidade das opiniões e das atitudes (foto reproduzida daqui).
(continua)

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