27 outubro 2010

Graça, Marcelino e Rebelo: a frente crítica (3)

Vamos lá a mais um pouco deste série, tendo em conta o sumário proposto no número anterior.
1. As causas do espanto. Permitam-me começar pelo espanto mais comezinho, o espanto em si. Na verdade, aos mais variados níveis, as afirmações de Graça Machel, de Marcelino dos Santos e de Jorge Rebelo têm causado espanto. Espanto porque eles dizem coisas que - julgo que muitos pensam da forma que segue - lhes deviam estar vedadas. Vedadas por quê? Eis exemplos de respostas que, creio, fazem sentido: porque são membros do Partido Frelimo, porque têm responsabilidades acrescidas, porque não deviam ser como os críticos fáceis, porque deviam colocar os problemas em círculos partidários internos, porque estão a fazer o jogo da oposição, etc. O ideal seria fazerem como os camaradas da Assembleia da República: o culto absoluto do seguidismo genuflexivo. Mas permitam-me considerar uma segunda modalidade de espanto, o espanto do espanto. Na verdade, o espanto pode ser visto num segundo prisma, aquele que situa os três críticos numa frente cúmplice com o seu partido. Então, nesse nível, espantam-se alguns com o espanto do geral dos outros. Por quê? Por que ninguém se devia espantar com o facto de a Frelimo - velha matreira que é, ajuíza-se - querer simular um falso jogo democrático, colocando em aparente disfunção três engenhos de ludíbrio. Por outras palavras: os três críticos são falsos críticos. Este ponto do sumário ainda não terminou.
(continua)

7 comentários:

ricardo disse...

Bem caro Professor,

Como ja disse, a sua analise e academicamente coerente. Mas eu, testemunhei, um dialogo franco e aberto, em que um dos membros da Troika comentava com seus correlegionarios, que na sua visao, a FRELIMO deveria cooperar com Deviz Simango na governacao autarquica da Beira, ao inves de hostiliza-lo. Isto foi mais ou menos, na epoca em que rebentou o escandalo Bulha, portanto antes das ultimas eleicoes. E dizia ele, que havia insistentemente passado essa mensagem para a cupula do Partido, sem sucesso, como se viu depois e ate hoje, como o vemos quotidianamente. Nao lhe retiro a razao. Objectivamente, Deviz cresceu e o MDM tambem, logo, o pressentimento desta velha raposa estava politicamente correcto.

Todavia, ja em campanha eleitoral, foi um dos mais ferozes criticos do MDM e Deviz Simango. Quando perguntado sobre a RENAMO respondia que a mesma ja era um nado politico morto.

Caca as Bruxas & Purga. Tal como ensinam os manuais dos seus grandes mestres. Como analisar esta evidente contradicao entre o que se diz em privado e o que se faz em publico? Evidentemente, nao e pelo espanto do espanto. Indubitavelmente, e com a interpretacao do jogo politico do cata-vento, que muda conforme a tempestade se levanta. Salvo seja, quando ha vento. Porque, ate agora, o ultimo sopro fora ate 1994.

Como ja disse, no fundo, o que poe a Troika de cabelos em pe e isto: http://www.adelinotorres.com/africa/Fernando%20Bessa%20Ribeiro_A%20quest%C3%A3o%20fundi%C3%A1ria%20em%20Mo%C3%A7ambique.pdf

Porque sabem, que uma vez esclarecido este assunto, o seu poder vai-se esvair por todos os lados. E tudo indica que ja comecou ser aceite a ideia da privatizacao. Alias, como aqui nos demonstrou um Causidico especialista no assunto, na pratica e o que ja sucede.

Tambem, nao adianta minimizar, porque o escandalo MBS foi um dos golpes mais profundos na FRELIMO nos 35 anos de independencia. Com repercursoes bem maiores que as dos casos BCM, Pinto & Tandane. Porque desta feita as consequencias politicas estenderam-se ate a capital do Imperio. E fez desmoronar a crenca do prospero clima economico em que viviamos. Podera, inclusivamente, ter determinado a reforma politica antecipada de Guebuza. E pessoalmente, foi uma das maiores desilusoes da Troika, que ate ja se conformara naturalmente com a mudanca do escopo na FRELIMO, da alianca operario-camponesa, para uma vertente mais burguesa e liberal, que endossaram, e serve tambem os seus proprios interesses. Como se atestam em declaracoes publicas registadas nos arquivos de varios media, que seria tambem bom recordar.

Para mim, eles sao politicos-peregrinos, que aparecem providencialmente a culpabilizar PESSOAS para eximir o SISTEMA. Mas e por causa do SISTEMA que hoje temos aquelas pessoas!

E nada mais.

Anónimo disse...

o PARTIDÂO neste momento está muito fragilizado, a seu parasitismo e simbiose com o governo/estado, onde até hoje ainda não percebeu nem soube separar Estado, Governo e Partido alcançou um ponto onde quase que já não há retorno limpo, sob pena de deitar muita coisa a perder, daí que tenha que recorrer a estes falsos críticos e lança-los em campo para fazerem retórica ao que o povo já há muito tempo opinava.
Agora porquê que estas palavras devem ser ouvidas quando vindas destes senhores e não de um Deviz, um Ismael Mussá, Um Salomão Moiana, etc? como outrora estes ilustres pensadores da pátria já o fizeram?
Só depois do 1 e 2 de Setembro é que se fez luz na FRELIMO? estes senhores ficaram muito tempo sem descer para os subúrbios para verem in loko o que o povo sofre e pensa ou como se sente

Abraço

Ismed

Anónimo disse...

Bem, mamã Graça fala, fala, mas é cega ao seu envolvimenmto, e da sua prole, em negócios onde o tráfico de influências é mais do que vísivel, escancarado! Mais puros, mantêm-se, efectivamente, Marcelino e Rebelo: estes, com os pequenos "pecados" que todos temos o direito de ter, sim, têm moral para falar.

Roberta

Reflectindo disse...

É um tema interessante e o Ricardo a dar saber alguma coisas.

Mas eu questiono a semelhança entre os três. Quanto muito, eu acredito no Jorge Rebelo que pelo menos disse recentemente que o multiparidarismo era o mal menor. Para quem escutou Marcelino dos Santos nos últimos dias, por exemplo na celebração do dia da Organização dos Continuadores de Moçambique e antes em que chamou os partidos da oposição por quinquilharias pode concluir que a ideia dele é de pôr Moçambique num abismo, tal igual aconteceu com a Frelimo nos finais dos anos e o país nos primeiros anos de independência. Também podemos questionar a Marcelino dos Santos quando ao que disse sobre Armando Guebuza em 2005. Afinal, ele não havia dito que Moçambique já havia voltado a ter presidente do povo? Será que Marcelino dos Santos não sabia que Guebuza era um super-empresário?
Quanto à Graça Machel, não vejo lá muita diferença em relação a Armando Guebuza. Ela é tanto empresária como Guebuza, por um lado. Por outro lado, nunca a vi como quem tenha se adoptado ao sistema vigente – o multipartidarismo. Lembro-me da sua organização, uma vez com o falso papel de educação cívica, foi fazer propagandas partidárias. Não me lembro de um discurso dela sobre o sistema multipartidarismo. Aí fica pior, pois vale a pena Marcelino dos Santos que claramente assume o anti-mulpartidarismo e se declara comunista com todas as consequências que conhecemos. Portanto, na minha opinião, Graça Machel, faz em parte o que faz por obrigação moral. Enquanto estiver a viver com Nelson Mandela, ela deve se sentir a fazer no mínimo o que está fazendo. E agora, fa ela o que faz para perpetuar a Frelimo no poder, custa o que custar.

Posso estar enganado, mas para mim, Jorge Rebelo é diferente dos dois, até que nos seus discursos faz referência a moçambicanos que nos inspiram, para além de que está sempre numa arena de diversidade de ideias.

ricardo disse...

Abdul Karim,

E curioso como a questao do emagrecimento do governo ainda nao despertou a atencao de ninguem neste blog e nos outros. Deve ser um assunto de somenos importancia para Mocambique. Ja se ve.

Mas aqui tens a lista prometida dos principais paises doadores de Mocambique em funcao do respectivo numero de ministerios:

Canada - 12;
Holanda - 10;
Gra-Bretanha - 23;
Belgica - 15;
Australia -19;
Alemanha -16;
Dinamarca-19;
Suecia-24;
Noruega-18;
Finlandia-12;
Portugal-17;
Espanha-15;
Italia-25;
Japao-11;
China-28;
Brasil-32;
EUA-16;
Russia-17;

Em suma, temos 28 ministerios, tantos quanto a China e quase tantos como o Brasil, pequenos paises como o nosso...Que dizer entao, dos EUA, Russia e Holanda?!

Ate Portugal, nossa ex-metrople, consegue ter 17 ministerios. Ha momentos na vida em que o melhor a fazer e sorrir.

fenix disse...

Eu não creio que nenhum deles seja falso em relação ao que diz e faz, talvez cada um á sua maneira seja real e a sua preocupação genuinas, agora cada um deles talvez não corresponda á espectativa que os comentadores têm da democracia e dos sistemas multipartidarios.Em politica regra geral a retorica é uma arma(deveria ser farramenta) usada e abusada. A maior parte do povo Moçambicano votou na Frelimo(Frente de Libertação de Moçambique). Mas sera que a Frelimo hoje é uma frente de libertação, sera que as pessoas que votaram na frelimo sabem o que é hoje a Frelimo e sera que esta força sabe o que lhe é exigido hoje mediante os desafios do amanha. talvez as pessoas estejam a pensar na frelimo de agora com sentimentos antigos e talvez a frelimo ainda ela esteja a sair da luta armada, mas o povo não é burro sabe perfeitamente que a frelimo é a formação mais bem preparada para liderar a mudança de paradigma. mas tudo isto é irrelevante, cada um dos acima referidos tera de ser avaliado, 1 entrada na frelimo(em que dia como e porque), 2 valores e coerencia em relação(que politica, que estrategia e que postura em relação á luta e á nacionalidade) á participação activa na vida civica, dinamicas e politicas da frelimo,mediante o que defendem a postura que assumem e a realidade em relação ao seu pensamento filosofico e este parante a realidade estara uma ponta de verdade, eu acho que o Marcelino(já li poemas dele) é coerente ele não estara muito contente com a situação, não só em relação á realidade mas em relação ao partido as politicas atitudes e posturas , os outros tambem devem de ser verdadeiros e a sua postura genuina mediante o seu pensamento postura e atitudes, mas não os conheço.mas tudo isto è irrelevante 1º em relação ao terreno, 2º administração, 3º divisão territorial, organigrama e funcionalidade do sistema de administração e execução de Politicas e directivas fiscais,4ºredestribuição de forças de acção principalmente as militarizadas e de segurança.5º parcerias estrategicas, mas isto sou eu só a pensar do que vejo e das opsões que foram feitas desde a queda do muro e sem conhecer a realidade Moçambicana e influenciado pelo meu pensamento estrategico de dar dois passos atras (até 1895) para conseguir dar um em frente(pois o pais deveria avançar lenta e consistentemente em frente conjuntamente passado presente e futuro e ele esta estagnado em quando muito 1943 ou pior quando foi defenido o mapa cor de rosa, salvo as devidas diferenças e a liberdade que a frelimo conquistou para e em nome do povo Moçambicano.Neste momento o guebuza é presidente a frelimo mediante os acontecimentos mantem-no no poder o trio contesta e o povo ainda pasmado observa e os analistas teorizam a verdade é que foram mortas pessoas porque protestavam contra ao aumento do custo de vida em bens de consumo essenciais.

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Nos somos maiores que os doadores, pelo menos a gastar o dinheiro deles na curticao,

Somos estremamente eficientes e eficazes em nada fazer e so complicar,

E somos tao sabichoes, que porque ja sabemos tudo, ate nos damos ao luxo de virar surdos,

Nao temos o senso do ridiculo e nem consicencia dos resultados, nunca tivemos, fomos sempre escangalhadores com talento,

Corte de custos ? 'e coisa de pobres e quem esta mal da vida, nos somos os novos ricos, nos mandamos, os doadores que facam aquilo que quizerem,