Depoimento de uma jovem dado a um dos meus assistentes a propósito de amor, do feitiço, das garrafas e de crenças sobre os poderes das pessoas do Centro: “Eu namorei com Kelesa durante dois anos, foi o melhor amor que tive. Cantámos juntos baladas de amor ao vento. Tínhamos grandes planos para o futuro. No ano passado, o meu ex-namorado apaixonou-se por uma jovem da Beira, que veio a Maputo para estudar. Largou-me para namorar com ela. Abertamente falando, sou mais formosa que ela e não sei porque Kelesa me abandonou, sabendo que ela tem um filho de um casamento falhado. Com o tempo, Kelesa descobriu que a mãe da namorada [jovem da Beira], é curandeira e que possivelmente ele estava na garrafa*. Kelesa, hoje está consternado, mas já é tarde, porque ela - namorada de Kelesa – está grávida e teme que a mãe da namorada – medicastra – faça alguma coisa, como fez com ex-marido dela. Eu só rezo para que alguma coisa não aconteça com Kelesa e comigo, pois essa gente de Sofala, masena, são bons nessas coisas de feitiço. Já ouvi falar muito, sobre o caso de mulheres que ficaram sem conceber porque se meteram com maridos que têm mulheres do Centro e Norte de Moçambique. Toda a mulher é capaz de tudo para ter um esposo. Quem não sabe que essas mulheres são capazes de tudo para ter um marido? Eu não quero isso para mim. Eu só rezo para não acontecer nada de pernicioso com Kelesa, porque apesar de tudo, ele é fecundo artisticamente e não gostava que ele perdesse essa qualidade, por causa de uma mulher oportunista” [Sara].
*Nota: "Meter na garrafa" é uma figura de estilo muita usada em Moçambique para designar o encarceramento espiritual de uma determinada pessoa, através do uso de um remédio tradicional, uma mandinga ou um bruxedo. De forma comum, o género feminino é que "mete na garrafa" o género masculino. Ou seja, são as mulheres que "metem na garrafa" os homens, para que estes possam obedecer de forma cega a todos os desejos das mulheres. Quando se trata de um casal, a esposa é que segura o seu esposo, metendo este na garrafa, para que ele não tenha outras mulheres ou para que o salário do esposo seja controlado por ela (esposa). De forma irónica diz-se que quando um homem está na garrafa, faz todos os trabalhos domésticos [lava a roupa, inclusive da mulher; confecciona alimentos, vai ao mercado, etc.], enquanto a mulher está de braços cruzados. Porém, num casal, quando o esposo faz tudo o que a sua mulher deseja, a sociedade, de forma satírica, diz: "aquele homem está na garrafa". Em casos extremos, é a mulher secundária que "mete na garrafa" um homem casado (principalmente se este homem é de posses), e este abandona a sua esposa principal, abandona a família, para ir se juntar com a segunda esposa."
*Nota: "Meter na garrafa" é uma figura de estilo muita usada em Moçambique para designar o encarceramento espiritual de uma determinada pessoa, através do uso de um remédio tradicional, uma mandinga ou um bruxedo. De forma comum, o género feminino é que "mete na garrafa" o género masculino. Ou seja, são as mulheres que "metem na garrafa" os homens, para que estes possam obedecer de forma cega a todos os desejos das mulheres. Quando se trata de um casal, a esposa é que segura o seu esposo, metendo este na garrafa, para que ele não tenha outras mulheres ou para que o salário do esposo seja controlado por ela (esposa). De forma irónica diz-se que quando um homem está na garrafa, faz todos os trabalhos domésticos [lava a roupa, inclusive da mulher; confecciona alimentos, vai ao mercado, etc.], enquanto a mulher está de braços cruzados. Porém, num casal, quando o esposo faz tudo o que a sua mulher deseja, a sociedade, de forma satírica, diz: "aquele homem está na garrafa". Em casos extremos, é a mulher secundária que "mete na garrafa" um homem casado (principalmente se este homem é de posses), e este abandona a sua esposa principal, abandona a família, para ir se juntar com a segunda esposa."
3 comentários:
Prof.
Há um fenónemo novo na cidade de Maputo há muito tempo que não se via muito lixo nas ruas parece que os camiões de lixo estão de greve.
PS.Bela reportagem da garrafa.
A espectaculosa(STV), deu nos Ontem um grande espectaculo está de parabens!!!!
Essa das mulheres do sul "faalarem mal" das do centro e norte ou vice-versa nao e um fenomeno novo.
Nao sei se os nossos cinetistas sociais ja determinaram quando este "processo" se iniciou mas posso confirmar desde muito que vinha ouvindo na cidade da Beira que as mulheres Mabazarutos (e assim que sao chamadas todas as as senhoras do sul de save) tinham por habito consultar curandeiros para manter seus lares. E que tambem tinham por costume elimina-los assim que achassem que ja a familia ja atingiu o estado de alguma estabilidade social - dai o grande numero de viuvas, dizia-se.
Uma vez em Maputo, de facto "descobri" que as mulheres du Sul tambem nao passavam uma imagem muito simpativa das do centro.
Mas com o andar dos tempos descobri que o assunto nao se circunscreve somente a "guerra de zonas". Mesmo entro das proprias zonas tambem se encontram referencias pejurativas a mulheres de outros grupos etnicos.
De tal modo que este assunto esta muito longe de ser novo...
Ou que me tem surpreendido e descobrir que mesmo pessoas com alguma formacao academica (diria mesmo boa) acabam embarcando nesse tipo de referencias. Como que justificando o peso das influenias socio-culturais em que creceram/vivem.
que c
Quero concordar com o anonimo a nossa cidade esta muito suja o que esta a acontece.
foi tornado publico que existem duas empressas a fazerem a recolha d lixo o k estara a acontecer com essas empressas(neoquimica,enviroserv)
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