23 julho 2008

Zimbabwe: o efeito tesoura

Quando uma empresa expande significativamente o nível de operações e de vendas, sem o devido suporte de recursos para financiar o decorrente aumento da necessidade do capital de giro, estamos perante o efeito tesoura em economia.
Tentemos agora transpôr o conceito para a política no caso do Zimbabwe: quando o Ocidente expande significativamente o nível de críticas e sanções, sem o devido suporte de recursos para prever os golpes de Estados de tipo novo e o capital de casamento político perverso, estamos perante o efeito tesoura.
O regime de Mugabe tem sido duramente criticado pela sua violência. Agora, Mugabe e Tsvangirai - líder trabalhista que há anos luta contra o mugabismo - preparam o casamento político, sendo crível que Mugabe será de novo presidente e Tsvangirai o primeiro-ministro (menos crível que se torne vice-presidente). E aqui está o dilema do Ocidente: ter de reconhecer o governo de Mugabe graças à muleta de Tsvangirai (feliz por entrar no jogo), ter de abandonar as sanções para respeitar o mugabismo maquilhado de tsvangiraísmo. Puro efeito tesoura. Um cavalo de tróia perversamente oriundo da pura história dos acasos e das bifurcações inesperadas da física de Prigogine (acredite: estamos perante uma bela teoria das estruturas dissipativas). Pois é: a história apenas se repete duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. Isto foi escrito pelo sempre jovem Marx há mais de 100 anos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Boa análise professor Carlos.


Nesta caso estamos perante uma tragi-farsa (uma recriação africana da tragi-comédia).


Subscrevo.

IC

Carlos Serra disse...

Vanmos aguardar os acontecimentos, tanto mais que os americanos já prepararam novo pacote sancional.

Anónimo disse...

Temo que, aos olhos dos Zimbabweanos, as sanções venham a justificar a luta de Mugabe contra a "influência negativa do Ocidente".