23 agosto 2006

Mestre e curandeiro fala de medicina tradicional

O “Notícias” de hoje (23/08/06, p.4) dá a conhecer que Narciso Mahumana é mestrado em Antropologia Médica, curandeiro e presidente da Organização da Promoção da Medicina Tradicional em Moçambique.
Segundo Mahumana, citado pelo jornal, a medicina tradicional é tão moderna e curativa quando a biomedicina. Os seus médicos também investigam. Podemos ensinar que o HIV/SIDA se transmite por um vírus, mas também devemos ensinar que há formas de transmissão e contaminação espirituais e simbólicas. Uma pessoa que perdeu parentes está impura, uma pessoa exposta à guerra e à morte fica impura. A contaminação não é biológica, mas cultural, segundo Mahumana. Existem múltiplos modelos de eficácia. A eficácia não está apenas no hospital, mas também na medicina tradicional. As doenças são também sociais. A medicina tradicional não está a resolver problemas do século passado, está a resolver problemas actuais, por isso é moderna. Ela requer melhor integração social e deve jogar um papel político crescente.

3 comentários:

Egidio Vaz disse...

A coragem de Mahumana é invulgar, pelo menos por enquanto, dentre os demais CIDADÃOS que se prezam "Modernos" deste país. Mas não é insólita, no sentido de que há já um quasi-consenso dentre os cientistas sociais pós-modernos (Boaventura de Sousa Santos, João Arrriscado Nunes, Maria Paula G. Meneses, Carlos Serra, T.C.Silva, dentre outros) que advogam a necessidade de um diálogo intercambiante entre as diversas ecologias de saberes (vide a propósito o mega-projecto desenvolvido e liderado por BSS no link (http://www.ces.uc.pt/emancipa/pt/themes/books.html). Todavia a medicina tradicional (Mahumana em especial) peca pelo facto de usar os mesmos critérios de validação ceintífica aplicados à ciência moderna/convencional, esquecendo-se ed que já não é imperioso, necessariamente porque a ciência moderna não é a única capaz de explicar e encontrar soluções para todos os problemas sociais.Por isso ou por causa disso, ou mesmo pelo facto de reconhecer os limites da sua incapacidade, ela socorre-se à arrogância para excluir as outras formas alternativas à explicação daquilo que ela não consegue explicar. Vide a propósito os conceitos de razão indolente, razão metonímica, razão, razão arrogante e razão proléptica desenvolvidos por Boaventura de Sousa Santos (Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Basta escrever o título e terão o texto online)

Carlos Serra disse...

Mahumana parece-me menos ser um homem corajoso do que um homem de um tempo diferente, de um tempo que ele sabe ler bem. Este e o tempo das alternativas cognitivas, das bifurcacoes permitidas.

Carlos Serra disse...

Talvez hoje ainda eu escreva algo sobre isso.