I
Criminalidade e uso excessiva de força pela polícia instalaram um clima de terror entre os moradores do bairro T3, município da Matola (vide minha entradas anteriores sobre o bairro).
A situação é tão grave, que se vive no bairro uma espécie de recolher obrigatório, com os comerciantes informais encerrando os seus estabelecimentos muito antes das 21 horas.
No que concerne à violação de mulheres, os estrangeiros ali residentes são o bode expiatório e acredita-se que introduziram uma magia capaz de fazer com que um homem possa violar uma mulher à distância.
Ali vivem Nigerianos, Etíopes, Ruandeses, Somalianos e Congoleses.
Os jornalistas Carla Lopes e Jaime Ubisse descreveram exemplarmente o mecanismo de imputação causal : “E, na procura de respostas fáceis, os residentes encontram nesta pequena comunidade de estrangeiros o elo mais fácil da cadeia.”
(“Savana” de hoje (25/08/06, p.4)
II
Eis uma forma de contar uma história certamente falsa (magia estrangeira) para sublinhar um problema real (intranquilidade social).
Numa situação clássica de imputação causal por transferência, o estrangeiro (o estranho, o distante, o desconhecido) surge como o vírus, a metástase perigosa, o agente patogénico que gera a anomia social.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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