16 agosto 2006

Lógica política


Aproximamo-nos de novas eleições e não fica mal falarmos da lógica política.
De lógica política , não de pessoas em particular, não de excepções (que as há), não de “moral política”.
Vários generosos comentadores políticos da praça passam a vida a queixar-se da imaturidade dos políticos da terra e das falsas promessas que alguns fazem às massas (claro, os políticos também se intra-acusam nesses campos).
Porém, este é um país onde, em minha opinião, o que menos falta aos políticos é justamente a maturidade. Estou certo de que são absolutamente universais porque naturalmente políticos e rigorosamente maquiavélicos.
Porque naturalmente políticos, porque rigorosamente maquiavélicos, sabem muito bem o que querem, seja os que gerem o Estado, seja os que querem fazê-lo, seja os desejam continuar a centralizar, seja os que desejam descentralizar.
Como se pode, afinal, ser político sem se prometer o novo mundo, o futuro melhor, o presente melhor, sem se dizer não quando o outro diz sim, sem uma gestão de maniqueísmos chãos, sem uma monitoragem do corpo e da fala, sem uma engenharia do espectáculo e do comício, sem uma agricultura da promessa e da sedução, sem se oferecer caixões, bolas de futebol, peixe, cigarros, capulanas, camisetes, bebidas tradicionais, empregos, mordomias, prebendialismos, sinecuras, fatias do Estado patrimonializado ? Ou, então, sem prometer que não se prometerá?
Como se pode ser político sem persuadir, convencer, iludir, entorpecer, teatralizar, espectaculizar, convencer, no pressuposto político de que as massas são naturalmente esponjosas, ávidas de crença, mata-borrão para a tinta do sonho?
Como se pode praticar política se não se tentar camuflar a prática política com um processualismo técnico e ético?
Como se pode praticar política se, face ao desacordo quanto à imparcialidade de gestão do processo eleitoral, não tentam uns que as pessoas votem e outros que elas o não façam ?
Ensaiem a agrimensura da propaganda eleitoral (com todos os partidos e candidatos sem partido a participar, uns formalmente, outros informalmente) em curso e verificareis a naturalidade e a modernidade políticas deste país. Na panóplia dos tácticas, não falta, mesmo, o recurso às cerimónias religiosas e às forças do invisível (refiro-me especialmente aos espíritos).
Naturalidade e modernidade que passam, inclusive, pela táctica de Janus: anos atrás, durante o comício de um dos dois grandes partidos do país, algures num distrito, um dos seus militantes seniores estava sentado na mesa de honra com uma camisete ostentando o rosto do presidente do partido rival. É assim que se aposta nos dois campos com um cavalo de Tróia bem à vista.
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Cartoon de Sérgio Tique, para alegrar o coração.

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