10 agosto 2006

Coca-colaização de Moçambique

Num destes dias fui até Inhambane de carro.
Atento espectador da vida intensa que enche as nossas estradas, reparei que por todo o lado, mesmo e talvez sobretudo nos mais mais modestos lugarejos, estava estampado o símbolo da Coca-Cola.
É simplesmente fascinante esta coca-colaização da moçambicanidade.
Quanto mais nos coca-colaizamos, mais nos periferizamos nas nossas othekas, nos nossos xicajus, etc. (é irrelevante aqui estas serem bebidas alcoólicas). Claro que continuamos a othekanizar-nos, a xicajustarmo-nos: mas definitivamente reenviados para o localismo das sombras.
Este é o preço que pagamos pela mundialização.
Porque a coca-cola não é, apenas, uma bebida. Ela é o símbolo de um processo imperial, uma busca de homogeneidade cultural, um esforço global para erosar os localismos.
Seria muito interesante assistir um dia em algum dos muitos workshops desta terra, a uma revolução epistemológica que pusesse em agenda a discussão da globalização dos nossos localismos.
Podíamos começar pela África Austral, disputando à África do Sul a hegemonia que exerce nesta África.
Essa seria uma maneira elegante de ultrapassarmos a fronteira das nossas modestas ambições quintaleiras.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Supremo Castigo

Em todos os aeródromos,
em todos os estágios,
no ponto principal de todas as metrópoles, existe
- e quem é que não viu? -
aquele cartaz...
De modo que,
se esta civilização desaparecer
e seus dispersos e bárbaros sobreviventes
tiverem de recomeçar tudo desde o princípio
- até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos
- estes hão de sempre encontrar,
nos mais diversos pontos do mundo inteiro,
aquela mesma palavra.
E pensarão eles que coca-cola era o nome do nosso Deus.

Mário Quintana

Resaly

Carlos Serra disse...

Obrigado pelo belo poema de Quintana, resaly.