Eis seis hipóteses de trabalho para investigar um problema típico das lógicas mestiças da vida: a burocracia.
Ela começa por ser um produto das disciplinas estaduais. Todo o Estado quer conhecer, gerir e conformar os seus cidadãos. Daí a função imperativa do papel e, generalizadamente hoje nos Estados do capitalismo de ponta, da disquete e do flash drive.
Mas a burocracia é, também, um exercício relacional de poder. Quem está atrás de um balcão tem o «poder» de decidir da vida do outro.
A burocracia é, igualmente, uma exemplar manifestação da autoridade dos Saberes, da pureza das Escrituras e, portanto, da essência do Sagrado. Formulário e regras, permeados pela liturgia do Carimbo, são aqui, monitoradas pela casta real dos amanuenses.
A burocracia é, ainda, uma actividade lúdica e sexual. Ela fluidifica os nossos inúmeros capitais de prazer vertical e os plurais mundos das desforras polissémicas.
Mas não só: rizomática, a burocracia consegue ser, além do mais, uma manifestação das pacientes ruralidades desta africana terra. Por que correr se chego onde quero chegar (à vida) indo como quero ir, devagar?
Em países como o nosso, caros cidadãos, a burocracia tem, finalmente, uma robusta componente de protesto social e de redistribuição da riqueza social. Quanto mais faço esperar, mais consigo que me paguem o salário que o formal me deve mas que só o informal pode pagar. Esta é a lógica compensadora do Estado dumba-nengue.
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