22 agosto 2011

Série Tete em fotografia (9) - Igreja de Boroma

Prosseguindo esta série fotográfica sobre Tete, da autoria do jurista e ambientalista Carlos Serra Jr. A cerca de 20 quilómetros da cidade de Tete está a Igreja de São José de Boroma, construída em 1885 e em processo de triste deterioração. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.
Adenda 1: a igreja de S. José de Boroma foi proclamada "monumento nacional histórico" pela portaria n.° 5981, de 31 de Março de 1945 - Cabral, António, Dicionário de nomes geográficos de Moçambique - sua origem. Lourenço Marques: Empresa Moderna, 1975, p. 22.
Adenda 2: avanço a hipótese de que há uma tripla responsabilidade concernente à Igreja de S. José de Boroma: (1) da Igreja Católica (Vaticano em geral e Igreja Católica moçambicana em particular), (2) de Portugal, por força da portaria de 1945 e (3) totalmente de Moçambique, por força  do decreto-lei n.º 5/76, de 5 de Fevereiro (que regulamenta a nacionalização dos prédios) e da Lei 10/88 de 22 de Dezembro (Lei do Património Cultural, aqui). Eis um momento para reflectirmos sobre a multidimensionalidade histórico-patrimonial da Igreja de Boroma.

6 comentários:

Salvador Langa disse...

Mãos unidas podem dar melhores resultados.

ricardo disse...

De qualquer modo, o verdadeiro DONO do patrimonio devera ser claramente identificado. E para isso, irei sondar um especialista em direito internacional.

Resolvida essa questao. Podemos classificar os mecenas (se houver). Que note-se, nao tem de ser necessariamente Governos desses paises. Cidadaos anonimos podem muito bem doar (como ja o fazem) ao Vaticano, os fundos necessarios para a reabilitacao do monumento.

Xiluva/SARA disse...

Não me canso de sentir pena vendo a igreja assim!!!!!!

Anónimo disse...

Sugestão: Leve-se este debate ao patrocinadores do colóquio seguinte.

> Museus: Políticas museológicas e património religioso em debate num colóquio em Fátima

> Lisboa, 22 ago (Lusa) - Um colóquio sobre políticas museológicas e património religioso vai decorrer a 24 e 25 de outubro em Fátima com o objetivo de analisar a importância das coleções de arte sacra para o desenvolvimento das comunidades e do turismo.

> Organizado pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), o colóquio vai decorrer no auditório do Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima, e também pretende abordar a temática do património religioso por várias instituições, com a apresentação de experiências e de projetos museológicos.

> A sessão de abertura realiza-se às 10:00 de dia 24 de outubro, com a presença de responsáveis do Instituto Missionário da Consolata, do Santuário de Fátima e da APOM.
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http://aeiou.expresso.pt/museus-politicas-museologicas-e-patrimonio-religioso-em-debate-num-coloquio-em-fatima=f669306#ixzz1Vm93FVXd

ricardo disse...

Consultado um especialista em direito internacional, ele deu-me o seguinte testemunho sobre este assunto:

"...Caro Ricardo,

Creio que a responsabilidade primária e talvez exclusiva seja da Conferência episcopal de Moçambique, pelas seguintes razões: Existe um acordo ou decisão do Governo, em face da pressão e insistência da Santa S­é ao abrigo do qual foram restituidos quase todos os bens que tinha sido nacionalizados logo apos a independencia. Sendo nesse ambito que os varios edificios, incluindo aqueles não adstrictos a locais de culto religioso foram restituidos. A titulo de exemplo os Maristas onde hoje funciona a Universidade São Tomás!

O Estado moçambicano pode e deveria comparticipar em virtude da sua declaração como património cultural. Quanto a Portugal, não sei se a Portaria mencionada é ainda aplicavel, visto que entretanto Tete deixou de ser parte da nação portuguesa! Contudo, poderia ter interesse na sua preservação.

Um abraço..."

E eu acrescentaria, Portugal poderia ter interesse na sua preservacao se a importancia de BOROMA fosse a mesma da Ilha de Mocambique, por exemplo. Mas isso e uma decisao soberana, que nos, ex-colonizados, nao estamos no direito de exigi-la agora. Pois se assim fosse, muitos outros dossiers teriam de ser reabertos tambem, como e o caso da expropriacao dos retornados do ex-Ultramar, de quem o malogrado Carlos Adriao Rodrigues se referia aqui:

"...Havia uma empresa açucareira, a Maragra, que estava completamente falida, que tinha compromissos externos titulados por letras internacionais, a última das quais se ia vencer e era avalizada pelo Banco de Fomento (delegação em Moçambique e sede em Lisboa). Se a Maragra não pagasse, teria de ser o Banco de Fomento a pagar e teria de mobilizar as divisas em Lisboa, embora ficasse com um crédito em divisas sobre a Maragra. Mas esta estava falida e sem qualquer liquidez pelo que não tinha o contra valor em escudos moçambicanos para entregar ao BM, para este lhe disponibilizar as divisas necessárias ao pagamento. Mas a verdade é que apareceu no BM com os escudos moçambicanos necessários, a solicitar a emissão do cheque em dólares. Fomos apurar onde tinha a empresa arranjado o dinheiro e depressa descobrimos que lhe tinha sido emprestado pela delegação de outro banco português que não o de Fomento. Mas porque teria tal banco feito um empréstimo cujo montante sabia nunca mais ir receber. Averiguámos mais fundo e descobrimos. Por essa altura os portugueses que ainda estavam em Moçambique tinham em grande número, decidido depositar as suas poupanças no Consulado português. Este, posto ao corrente das dificuldades do Banco de Fomento, depositou esse dinheiro na delegação do banco português para este o emprestar à Maragra para esta poder entregar o contra-valor das divisas que ia solicitar ao BM. Ainda discutimos se devíamos fazer a operação, mas acabámos por decidir que sim. Afinal o pagamento era de equipamento valioso que estava na Maragra e que fosse qual fosse a solução para a Maragra, continuava a ser útil. Mas convocámos os directores das delegações do Banco de Fomento e do que fez o empréstimo e chamámos-lhe a atenção para que comportamentos daqueles não eram admitidos e que se repetissem algo de igual ou semelhante proporíamos ao governo que lhes encerrasse a loja. O Alberto Cassimo foi delicado mas duro na admoestação e o BM reforçou a fama que já estava adquirindo de se pautar por comportamentos éticos mas rigorosos.
Só o que nunca percebi foi porquê o governo português levou tanto tempo a decidir-se a pagar aos depositantes do consulado. Afinal foi com o dinheiro deles que o Banco de Fomento e o Banco de Portugal se livraram de dispender aquelas divisas, pelo que não tinha qualquer razão de ser o argumento de que tendo os depósitos sido feitos em escudos moçambicanos não tinham que o devolver em escudos portugueses. Deviam tê-lo devolvido com juros, porque dele se aproveitaram e tiraram vantagem..."

J Schwalbach disse...

Sempre tive grandes dificuldades em perceber como um monumento da importância de BOROMA pode ter chegado ao lastimoso estado de conservação como o podemos ver agora (as lágrimas caem do rosto e o peito aperta muito de dor). Sou suspeito porque sou de Tete e vivi Boroma durante a minha infancia com muita devotada emoção. Dormir nos seus grandes quartos (para mim enormes; seriam?) e percorrer os seus longos e penumbrados corredores para ver depois o correr do vigoroso Zambeze banhado pelos primeiros raios de sol, são imagem que jamais se apagarão de mim. Mas, Boroma é muito mais que isto. É História de Moçambique e de moçambicanos. É nossa História e, portando, a devemos preservar. Não é fácil, recolheço, mas temos todos(um pouco todos) de encontrar formas de o fazer. Outros Bormas há, infelizmente, por este nosso grande Moçambique. Agora citarei apenas a majestosa construção do hospital de Ilha de Moçambique que foi talvez a primeira construída em África com a concepção pavilhonar para que se evitassem assim as tranmissões das doenças. É igualmente uma monumento que, como Boroma, ultrapassa o nosso País e mesmo África para transbordarem e constituir-se assim refências mundiais.