A vinda de farmeiros brasileiros tem suscitado muito interesse na imprensa local, vinda registada numa postagem deste diário aqui. Regresso brevemente ao tema, através do cabeçalho, creio que possuidor de algum humor, de um trabalho inserto no Financial Times, a saber: "O Brasil finalmente encontrou algo diferente do minério de ferro, da soja e do petróleo para exportar: farmeiros. No próximo mês um grupo de farmeiros brasileiros estará em Moçambique como primeiro passo do chamado negócio Pró-Savana assinado no final do ano passado." Aqui. Para traduzir, aqui.
Brasileiros? Ou Zimbabweanos, Sul-africanos, Nigerianos, Chineses, Vietnamitas, Mauricianos, etc.
Acho que é tempo de pensar em criar não apenas campos experimentais de produtos agrícolas, não apenas cursos para agrónomos e regentes agrícolas, não campos agrícolas para neles sermos apenas mão-de-obra, mas campos de produção e reprodução de produtores moçambicanos, com forte investimento em instalações e insumos, produtores que, depois, financeira e fortemente apoiados, por fases, sejam espalhados pelo país, produzindo e replicando experiências maquinizadas, adicionadas à pecuária extensiva.
Precisamos de um Ministério da Agricultura forte de sucro gástrico e capaz de pensar samorianamente, dentro e para dentro do país.
Adenda às 8:21: mais algumas ideias. Temos de saber desenvolver o campo não com as multinacionais, mas com os nossos farmeiros, especialmente com os farmeiros médios, libertos das rotinas e dos medos da imputação feiticista. Sim, imputação feiticista: a nossa história mostra que muita gente teme produzir mais do que outrem, pois produzir mais do que outrem equivale, nas percepções populares, a sugar o sangue e a vida desse outrem, viver à custa dele, viver à custa da comunidade através do feitiço. O capitalismo agrário é progressista e por isso devemos incentivá-lo, é aí que reside o nosso Mato Grosso, é na nossa alma, nos nossos agrónomos, nos nossos cientistas, nos nossos farmeiros. Mas o que aqui escrevo é apenas um conjunto pobre de ideias, é indispensável pesquisar de forma séria e aprofundada, testar as ideias intersectorialmente, com grande peso do sector da Educação (programas escolares podem favorecer ou dificultar as vias de desenvolvimento agrícola e pecuário). Muitos pensam que as ideias, só por serem suas, são boas. Este é um dos maiores vectores do nosso subdesenvolvimento, a confusão - aos mais variados níveis - entre ideias e realidade, entre boa vontade e conhecimento de terreno, entre demagogia e ausência de estudo, entre crónicas e seminários e pesquisa. Bem, pode ser que regresse com mais algumas ideias.
Brasileiros? Ou Zimbabweanos, Sul-africanos, Nigerianos, Chineses, Vietnamitas, Mauricianos, etc.
Acho que é tempo de pensar em criar não apenas campos experimentais de produtos agrícolas, não apenas cursos para agrónomos e regentes agrícolas, não campos agrícolas para neles sermos apenas mão-de-obra, mas campos de produção e reprodução de produtores moçambicanos, com forte investimento em instalações e insumos, produtores que, depois, financeira e fortemente apoiados, por fases, sejam espalhados pelo país, produzindo e replicando experiências maquinizadas, adicionadas à pecuária extensiva.
Precisamos de um Ministério da Agricultura forte de sucro gástrico e capaz de pensar samorianamente, dentro e para dentro do país.
Adenda às 8:21: mais algumas ideias. Temos de saber desenvolver o campo não com as multinacionais, mas com os nossos farmeiros, especialmente com os farmeiros médios, libertos das rotinas e dos medos da imputação feiticista. Sim, imputação feiticista: a nossa história mostra que muita gente teme produzir mais do que outrem, pois produzir mais do que outrem equivale, nas percepções populares, a sugar o sangue e a vida desse outrem, viver à custa dele, viver à custa da comunidade através do feitiço. O capitalismo agrário é progressista e por isso devemos incentivá-lo, é aí que reside o nosso Mato Grosso, é na nossa alma, nos nossos agrónomos, nos nossos cientistas, nos nossos farmeiros. Mas o que aqui escrevo é apenas um conjunto pobre de ideias, é indispensável pesquisar de forma séria e aprofundada, testar as ideias intersectorialmente, com grande peso do sector da Educação (programas escolares podem favorecer ou dificultar as vias de desenvolvimento agrícola e pecuário). Muitos pensam que as ideias, só por serem suas, são boas. Este é um dos maiores vectores do nosso subdesenvolvimento, a confusão - aos mais variados níveis - entre ideias e realidade, entre boa vontade e conhecimento de terreno, entre demagogia e ausência de estudo, entre crónicas e seminários e pesquisa. Bem, pode ser que regresse com mais algumas ideias.
5 comentários:
Prof.,
Evidencia existe que mostra que o problema na esta na potenciando finaceira, intelectual e nem material do cidadao local. Mais evidencia empirica creio ser necessaria. A serie sino-mocambicana e interessante, pouco a pouco comeco a concordar com alguns aspectos nele reportados. Precisa de confirmar o obvio, prof.?
confirmacao.
Read more: http://oficinadesociologia.blogspot.com/#ixzz1WIV8SGFF
Ora aqui está Professor, nosso "Mato Grosso" é mesmo ignorado, a sopa de fora tem melhor embrulho para alguns.
O meu único medo é que aconteça o que aconteceu com o Zimbábue.
Quando faltar terra ao povo, correrão com os brasileiros.
O que é que a política não faz?
Zicomo
Sr. Professor, nao se criam agricultores por decreto. As condicoes demograficas e outras e que determinam a sua existencia, com maior ou menor pujanca nas diversas zonas deste Mocambique. Por exemplo, eu ja assisti fenomenos diferenciados nas varias latitudes deste pais. Ja vi muita producao agricola (muita mesmo) a ser exportada por bicletas para o Malawi, que a consome e ainda reexporta-a para o faminto Zimbabwe. Ja vi um campones, sem grande patrimonio mobiliario ou imobiliario, mas dono de uma avantajada area de trigo em Manica, altamente produtiva (3 colheitas/ano!). A ladea-lo estao milhares de micro-agricultores de Cannabis Sativa, que fazem muito mais dinheiro do que ele, em apenas uma colheita. Um pouco mais a sul, estao ex-agricultores, hoje garimpeiros de Ouro. E vi tambem, plantacoes de Cha no Gurue, cuja producao esta cotada na Bolsa de Mombassa, Quenia...
Este e o meu Mocambique, mocambicano, como diria Angelo de Oliveira.
Mas o que nunca vi mesmo. Sao duas coisas: (i) comercializacao agricola feita pelos proprios camponeses, o que contribuiria imenso para valorizacao dos precos dos produtos agricolas e com isso ir para os insumos,etc. Hoje, tal como na decada 40, o grosso dos camponeses ainda troca producao com artigos de tuta e meia, com caixeiros-viajantes (intermediarios) vindos directamente do Sudeste Asiatico. Raramente aceita cash. E deposita-lo no Banco, ai nem ve-lo; e (ii) corredores ferroviarios para o escoamento da producao agricola ate aos centros de consumo locais e internacionais. E esse, quanto a mim, e o dilema da nossa Agricultura.
Quando eu defendi o entendimento Malawi-Mocambique por causa da navegabilidade do rio Zambeze, estava a responder ao segundo ponto. Se o projecto tivesse ido avante, seria possivel ligar o Porto de Metangula (Niassa) aos de Chinde e Beira, so pela via aquatica. Claro que estou a distanciar-me da demagogia do sr. Mutharika. E o que ha de interessante nisto. O custo medio de transporte/tonelada e 10% do seria por camiao ou comboio, sendo que por via aerea, seria muito mais caro.
Portanto, comercializacao e custos de transporte alto, nao casam. Essa e a primeira incognita da equacao. Entenderam que o impacto ambiental era muito mais danoso, mas ja nao tiveram o mesmo tirocinio quando se tratou de construir uma nova barragem no Zambeze, que diga, ira causar a longo termo, a salinizacao do grande Rio, alem de aspectos sismicos, que ainda ninguem veio contestar.
Mas ha outras...
Não, o moçambicano não é um ser essencialmente preguiçoso.
A guerra dos 16 anos obrigou as pessoas a viverem do PMA e de outros donativos. A circunstância conferiu novo (des)valor ao trabalho, alterou-lhe o conceito, como que ficou possível viver sem trabalho, graças aos bons. Esta possibilidade castrou a pré disposição das pessoas para o trabalho. Terminado o conflito, não houve nenhuma política efectiva de incentivo à produção. Pelo contrário, estendeu-se a mendicidade até para as roupas usadas (calamidades) inviabilizando a reafirmação das fábricas textéis já existentes e a necessária transformação local do algodão dos camponeses. Isto trouxe mais desemprego, mais ócio e mais vícios. Cidades inteiras cuja razão de ser eram os texteis como é o caso de Chimoio, tiveram de começar a gravitar em volta de ONGs, barracas e Estado. A quem não dói ver jovens robustos a viverem de câmbio de moeda nas ruas ganhando melhor assim do que se produzissem?
Ideias para mudança do cenário?
Penso que a reformulação de instituições 'samorianas' como a Mecanagro, a Agricom e outras inviabilizadas pela guerra seria um bom começo. Esta seria, creio, uma forma racional de despender os recursos que alimentam esta coisa dos 7Bs (ainda não percebi como se distribui dinheiro sem se montar um sistema financeiro auditável se a intenção não for embrutecer e promover mais ócio, mais corrupção).
Em paralelo devia proteger-se o produtor nacional dos produtos importados sob um prisma de qualidade a ser estabelecido por institutos de agro processamento que intermediariam os agro negócios entre podutores e retalhistas e doseariam em cada instante as necessidades de importação do mercado. Coisas simples, sem Conselhos de Administração sofisticados.
As cadeias de lojas como Shoprite deveriam estar indexados a contratos de aquisição local de frescos o que seria um desafio para produtores locais. Tudo com contratos, padrões, preços, penalizações e prémios.
A FACIM devia ser para mostrar essas possibilidades.
Uma Agricom, por exemplo, devia poder ser o local onde o camponês pode entregar produtos e receber da Autoridade Tributária certificação de que com o seu suor pagou imposto, contribuiu para a construção da Nação. É cidadão e tem direitos.
PS.:Concordo na aposta ém um perfil de cidadão produtor que tenha suficiente domínio das técnicas sem precisar de ser doutor. O endoutoramento de Moçambique é outra forma de anestesia
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