21 agosto 2011

Série Tete em fotografia (8) - Igreja de Boroma

Prosseguindo esta série fotográfica sobre Tete, da autoria do jurista e ambientalista Carlos Serra Jr. A cerca de 20 quilómetros da cidade de Tete está a Igreja de São José de Boroma, construída em 1885 e em processo de triste deterioração. Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato.
Adenda: a igreja de S. José de Boroma foi proclamada "monumento nacional histórico" pela portaria n.° 5981, de 31 de Março de 1945 - Cabral, António, Dicionário de nomes geográficos de Moçambique - sua origem. Lourenço Marques: Empresa Moderna, 1975, p. 22.

23 comentários:

Muna disse...

Se não é papel do Estado salvaguardar este património nacional da igreja de Boroma, porquê o classifica?

Os patrimónios são classificados por vários motivos, um deles é o papel turístico, histórico e cultural.

Qualquer património cultural classificado deixa de ser de "uns" e passa a ser de "todos".

("entende-se por classificação o acto final do procedimento administrativo mediante o qual se determina que certo bem possui um inestimável valor cultural") UNESCO

E agora???

Zicomo

Salvador Langa disse...

Monumento histórico nacional por portaria colonial. Isso significa que há igualmente uma responsabilidade portuguesa?

Anónimo disse...

Como bem foi referido, foi classificado Património cultural pelo Estado Colonial ... não pelo Estado Moçambicano!

Responsabilidade portuguesa ... quase cheira a apelo ao Neocolonialismo.

Entende-se que Portugal tivesse classificado, pois é símbolo da sua presença em terras da antiga Companhia da Zambézia, sob controlo da Coroa portuguesa.

Contrariamente à zona de Sofala e Manica (Companhia de Moçambique) e Niassa (Companhia do Niassa) ambas temporariamente concessionada e com administração Inglesa, a Zambézia (da Alta-Zambézia = Tete) até ao Índico, esteve sempre sob administração da Coroa Portuguesa (os prazos, etc., etc).

Talvez por isso, seja marcante a presença portuguesa, quer no património arquitectónico (veja-se a igreja de Quelimane, quinhentista, que esteve anos e anos ao abandono, quer na mestiçagem nestas províncias.

É importante saber que Boroma tinha escola de artes e ofícios e posto de saúde, ou seja, alimentava o espírito com a religião, sem descurar que o corpo precisa de alimento físico, logo, de habilidades para o trabalho produtivo. ... e o Estado colonial, precisava também de mão de obra com alguma qualificação: um casamento!

Oxalá que as Igrejas e seitas de hoje tivessem a mesma postura!
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Xiluva/SARA disse...

Responsabilidade nossa, isto já não é Portugal...

Anónimo disse...

Pois então não nos preocupemos mais com a Ilha de Moçambique e outros locais...É ou não é?

Anónimo disse...

Nao ë preciso ir tao longe para perceber a degradacao do patrimonio cultural nacional. Mas para mim, isto é um misto da nossa maneira de estar(e aqui acho que os padres moçambicanos também são parte da populacao e por isso sem uma grande cultura de restauração, se nao, pelo menos ja teriam pedido a (isto é a cultura do nacional deixa andarismo). Se formos à Namacha encontramos esta situação, bem perto do nosso nariz. Acho que se os padres nacionais pedissem apoio aos seus congeneres de outros quadrantes, certamente teriam o apoio necessário, pelo menos para certos casos.
Mas também as nossas autoridades so estao preocupadas em vender coisas. Se a Ilha de MOçambique tem recebido apoio é porque alguns chefinhos recebem rios de dinheiro para que se permita à UNESCO trabalhar. Até nisso somos especialistas, nao apenas na venda da madeira e outros recursos naturais. Desculpem a minha crueza, mas acho que NÓS somos os verdadeiros responsaveis pelo que esta a acontecer (talvez porque na verdade aquilo nos foi deserdado, já nao é nosso e talvez nunca foi) e quando digo nós, me refiro ao à Igreja Católica em Moçambique, às autoridades e a todos os cidadãos... (Se fosse noutros paises os proprios naturais ja se teriam preocupado em ajudar). mas aqui estamos aqui e aqui... há outras prioridades...
Ja agora professor, porque nao, usando deste forum, pensarmos em criar um fundo e procurarmos restauradores para trabalhar no assunto e restaurar o nosso património? Acho que este é também o papel da sociedade civil, em vez de estarmos somente apontar os problemas: Eu alinho, embora assine como anonimo.

Anónimo disse...

Prosseguindo com o comentario anterior, acho que os fundos para garantir a restauração deste património serão enormes. Mas, como dizem os chineses... uma grande caminhada começa com o primeiro passo! Por isso, porque nao começarmos?
Chorar nao nos vai levar a nenhum lado!

Anónimo disse...

Não é, caro homónimo!
Devemo-nos peocupar com o que ENTENDEREMOS ser importante para NÓS.

Se entendermos que a Ilha, o seu passado é importante para NÓS, devemos, dentro das nossas prioridades - PORQUE OS RECURSOS NÃO SÃO ELÁSTICOS - dar-lhe o tratamento que ENTENDERMOS adequado,NÓS!

Anónimo disse...

'129. Para poderem estimar e conservar os preciosos monumentos da Igreja e para estarem aptos a orientar como convém os artistas na realização das suas obras, devem os clérigos, durante o curso filosófico e teológico, estudar a história e evolução da arte sacra, bem como os sãos princípios em que deve fundar-se.'
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html

Anónimo disse...

http://www.fmnf.pt/Upload/Cms/Archive/CartadeVeneza1964.pdf

Muna disse...

Ao vigorar ainda hoje a classificação deste património da igreja Católica de Boroma, significa, na minha opinião, que a lei foi trespassada. Caso contrário, teria sido revogada ou desclassificada. Há muitos casos disso, códigos penais, etc...

Até aqui não vejo nada de anormal.

Existe uma Lei Moçambicana específica ao Património(que desconheço, infelizmente), talvez tivéssemos acesso à ela para tentar perceber, entre outras coisas, se o processo de classificação deste património foi por iniciativa individual, associativa ou institucional. Seja como for, quando um património é classificado tem "estatuto especial".

Por outro lado, para evitar situações do género, a UNESCO através do ICOMOS determina a gestão do património nos seguintes interesses:

1. Público;

2. Regional;

3. Municipal;

4. Cultural da humanidade

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De qualquer forma Boroma não é um município. A fazer jus pelo trespasse, logo, conclui-se que o aludido património de Boroma é, no mínimo, de classificação pública. Sendo assim, há responsabilidades do Estado. Aliás, esta foi a garantia dada, em Évora, pelo Ministro do Pelouro, Armando Artur, quando o abordei sobre a igreja de Nossa Senhora do Baluarte na Ilha de Moçambique.

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Já a Lei Quadro (PORTUGUESA) sublinha:

1. A classificação de um bem não altera o seu regime de propriedade, apenas poderá acarretar ALGUNS deveres adicionais para os possuidores no capítulo da manutenção, conservação e funções do bem;

2. A classificação abre aos proprietários o acesso a regimes de apoio, incentivos, financiamentos e contratos especiais;

3. A capacidade de classificar implica igualmente a capacidade de desclassificar.

A Lei Quadro, conforme acabo de saber por um amigo, é semelhante a tal Lei Moçambicana que desconheço.

Zicomo

PS: Que eu saiba, Portugal apoia anualmente o Estado Moçambicano - para a salvaguarda do património nacional - em milhões de euros, quer no orçamento geral do Estado, quer em programas de apoio, basta ver nos sites do IGESPAR, da GULBENKIAN ou do IPAD, está tudo lá. Apoia incluindo em bolsas de estudos e em financiamentos às universidades Moçambicanas afins. A forma como esse dinheiro é gerido é coisa que me foge, aliás, os jornalistas Mouzinho de Albuquerque e Pedro Nacuo têm vários artigos publicados sobre o património.

PS2: Finalmente, uma frase de que tanto gosto de Jorge Cunha de Lima:“A cultura não lida apenas com as artes e universidades, mas com todos os valores da sociedade humana, que a um governo democrático incumbe respeitar e vitalizar.”
Mais palavras para quê????

Muna disse...

Os padres estão divididos em congregações e estas consagrações ou Ordem se quiser tudo fazem para reabilitar o património das igrejas. Mas não é fácil.

A Catedral de Nampula, por exemplo, não tinha murro e lá colocou-se o murro. A de Tete faltava guarnição, lá está a guarnição e limpeza diária. Tudo isso é dinheiro para uma igreja que funciona, em Moçambique e no Mundo em geral, como um Estado dentro de um Estado, não é fácil. Em última instâncias as pessoas recorrem à igreja e não aos órgãos do Estado.

O dinheiro dos dízimos não chega, SEQUER, para pagar as contas de água e luz e resta, apenas, pedir à Roma para depois alimentar às populações. A igreja católica não usa meios para atingir fins. Não usa a isca do dinheiro para reabilitar fosse o que fosse. Nem admite "aventureiros".

Continuo dizendo, cedo ou tarde, quando tudo falhar, irão recorrer-se a estes patrimónios para salvar o país a penúria. Estarei vivo e aqui para ver.

Zicomo

izumoussufo disse...

Parece que há uma associação PROTETE...

ricardo disse...

"...A Igreja Nao usa meios para atingir fins..." Entao, qual e o papel do Banco do Vaticano?!

Sera este?:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_para_as_Obras_de_Religião

Ou este?:
http://www.ionline.pt/conteudo/67593-os-escandalos-do-banco-do-vaticano-igreja-nao-vive-so-ave-marias

Ou talvez este?: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100921_bancovaticano_ba.shtml

Que pobres que eles sao...

Anónimo disse...

O Patrimonio será muito da Igreja, mas quem tira vantagem dele somos nós como nação! Por isso mãos à obra!

Muna disse...

Não entro em polémicas.

Já o disse.

Se o quisesse de facto levantaria, desde logo, o esforço da Igreja Católica na manutenção da paz em Moçambique, aliás, foi ela, a Igreja Católica, que a trouxe, não é verdade?

Mesmo em lugares de domínio de outras congregações religiosas, lá está a Igreja Católica na busca da paz. Mas isso não faz da Igreja Católica a melhor. Não é isso que se pretende aqui.

Casos isolados não devem perfazer um todo.

Quem o faz não é a igreja, é o prevaricador. Estes estão em todas as ceitas. Devem ser penalizados como prevaricadores e não como igreja.

Continuo empenhado em debater a questão do Património Nacional e não "exumar" factos que não representam a Igreja Católica como um todo. Já disse Cristo, "que atire a primeira pedra quem não tiver pecado".

"A Igreja Católica é um espaço onde a cidadania e os valores que lhe são subjacentes, têm cada vez mais relevância e acuidade na educação da comunidade cristã". Mouzinho de Albuquerque, in Jornal Notícias, 24/02/2011.

"A vocação e veneração à caridade constituem o âmago de toda a autêntica evangelização". Idem

Para terminar, estou acessível ao debate sobre o património. Isto sim, preocupa-me. Preocupa-me que o Estado Moçambicano (salvo erro) ainda não tenha dado nome de nenhuma escola em homenagem ao Mestre Malangatana.

Aquele homem fez internacional por custa do seu próprio suor, do seu talento sem igual, não precisou de vestir a farda de militante que foi para ser o que é.

Choro de tristeza quando vejo cair edifícios históricos que estão espalhados pelo país e lembro-me das respostas que tive em Évora "AQUILO REPRESENTA A ÉPOCA DO COLONIALISMO, NÃO É NOSSO. QUERIA TER GRAVADO A CONVERSA, MAS NÃO SOU TÃO ESTÚPIDO ASSIM".

Isto sim, magoa-me. Quem me conhece sabe o que digo.

Zicomo

ricardo disse...

Proposição: "... A igreja católica não usa meios para atingir fins. Não usa a isca do dinheiro para reabilitar fosse o que fosse. Nem admite "aventureiros"..."

Hipótese 1: O Vaticano nunca aceitou doações anónimas de crentes ou não crentes.

Hipótese 2: O Vaticano (Encíclica do Papa Papa Bento XVI) é contra o consumismo desenfreado que levou a humanidade mergulhar na crise económica e social dos tempos modernos.

Demonstração:

Por absurdo, prova-se:

1. O Vaticano aceita doações anónimas, inclusive de não crentes:
http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/obolo_spietro/documents/index_po.htm

2. O Vaticano defende agregados familiares maiores para incentivar o consumo e assim debelar a actual crise mundial:

http://www.catholicnewsagency.com/news/vatican-bank-president-bigger-families-are-solution-to-economic-crisis

Resultando de (1) e (2) o seguinte corolário:

Maiores agregados, mais consumidores em potencial. O que implica que, mais consumidores, mais doações em potencial. Logo, por transitividade, maiores agregados, maiores doações em potencial ao Vaticano.

Conclusão: a proposição: "... igreja católica não usa meios para atingir fins. Não usa a isca do dinheiro para reabilitar fosse o que fosse. Nem admite "aventureiros"..." É FALSA. Logo, a seguinte asserção recíproca é verdadeira. Isto é: independentemente da época em que se viva, o papel missionário do Catolicismo é sempre governado pelas leis de mercado.

C.Q.D.

E e nesse contexto, sem polemicas, nem subterfugios, que o assunto BOROMA deve ser colocado a mesa da Igreja, do Estado mocambicano e porque nao dizer, da tao propalada "sociedade civil".

Carlos Serra disse...

Finalmente intervindo: enquanto monumento histórico, a Igreja De S. José de Boroma tem uma tripla pertença; (1) é património da Igreja Católica (responsabilidade do Vaticano em geral e da Igreja Católica moçambicana em particular), (2) é património do Estado português à luz da portaria de 1945 já aqui citada e (3)é património cultural classificado de Moçambique desde 1988 de acordo com a Lei 10/88 de 22 de Dezembro (Lei do Património cultural). Atenção à continuidade da série amanhã,acompanhada da lei do património e da definição de património cultural. Aqui está um momento para reflectirmos sobre a multidimensionalidade histórica de um monumento.

Anónimo disse...

Porque é património de Portugal? Este é um monumento nacionalizado, como outros em Moçambique e portanto a meu ver não é, nem pode ser património de Portugal! Estarei enganado professor?

Carlos Serra disse...

Aos leitores: a adenda 2 do no. 8 da série hoje publicada contém uma versão melhorada da minha posição.

http://oficinadesociologia.blogspot.com/2011/08/serie-tete-em-fotografia-9-igreja-de.html

Anónimo disse...

A nacionalização de um bem por outro Estado não significa necessariamente que deixe de ser património cultural do Estado que o construiu. Uma coisa é a propriedade, outra é a assunção como património cultural.

Anónimo disse...

Complicado:
1. O proprietário da infraestrutura física, registada na conservatória do registo predial, é o 1º responsável pela sua manutenção ... MAS, parece não ter capacidade financeira.

2. O assumptível em termos culturais ... parece padecer do mesmo mal.

Anónimo disse...

Patrimnio da Igreja De S. José de Boroma tem uma tripla pertença; (1) é património da Igreja Católica (responsabilidade do Vaticano em geral e da Igreja Católica moçambicana em particular concordo sim, mas será que o estado moçambicano não é da sua pertença também? Porque para alêm disso estão lá a funcionar duas escolas desde de técnica Agrária, Primária e Secundária de Boroma,e o Centro de saúde local, eu esteve lá nos últimos dois meses a situação é muito triste ver estado de degradação daquela intra-estrutura parece-me que o pais ainda está em guerra o pior é ver estudantes, Professores, a população local e circunvizinha de baixo de alguns edifício em redor da GRANDE MISSÃO DE BOROMA sem portas, janelas e sobre tudo os tectos que se queixam de uma reparação e lá está a sua sorte á Igreja De são José de Boroma! E não só como também lá se fala da existência das aguas termais de Boroma já é mais um motivo de tomar atenção no que lá se encontra por favor seja quem for o responsável pela esta área vamos levantar o resta!