16 dezembro 2009

De novo a qualidade do ensino em Moçambique



Regresso ao tema em epígrafe (recorde aqui e aqui) com o texto consultável aqui, gentilmente enviado pelo Manuel Lobo.

11 comentários:

Anónimo disse...

É um relatório interessante e amplo, com várias constatações e propostas que talvez sejam pertinentes e adequadas. Merece ser lido com tempo e atenção para se fazerem comentários bem substanciados,o que não se coaduna com a velocidade que o Professor imprime ao blogue. Assim, um pouco apressadamente, arrisco dizer que se debruçou muito pouco, e muito superficialmente, sobre o ensino bilingue já em curso e, nomeadamente, sobre a sua qualidade. Só um exemplo: a questão das ajudas de ensino/aprendizagem. E apenas numa perspectiva: o número de livros necessários. Gostaria de ter visto o mesmo exercício que foi feito para o ensino monolingue. É que garantir a qualidade das centenas de títulos que requer - atendendo às muitas línguas em presença e a como está concebido - é um, e apenas um, dos enormes desafios a vencer para que o ensino bilingue mereça o tremendo investimento que nele tem sido feito e a enorme cobertura que para ele se prevê, com potenciais impactos negativos no sistema monolingue. Estamos à altura de enfrentar esse desafio?
Muito obrigada a Manuel Lobo por nos ter disponibilizado o texto.
Fátima Ribeiro

Reflectindo disse...

Um relatório que promete. Vou lê-lo com atencão.

Unknown disse...

Graças a si, Manuel Lobo e Ismael C. Nhêze, pelomenos até certo ponto está satisfeita a preocupação do Prof. Serra de se limitar as opiniões em abono da verdade através da investigação científica.

Profª.Fátima Ribeiro,

Modestamente, penso que deveriamos analisar o texto que é nos apresentado e outros estudos em função do ponto de partida da nossa preocupação (sociedade).

O que nos confirma falta de qualidade no ensino básico? É que os graduados deste nível não sabem lêr nem escrever, muito menos contar, e operações de artimética simplis.

Portanto, aqui não está em causa a questão dos investimentos. porque não obstante os rácios de infra-estruturas e outros meios para o ensino e aprendizagem ainda deixarem a desejar, é consensual que há muito investimento no nosso sistema de ensino e príncipalmente no ensino básico.

Vamos ler o texto, espero bons subsídios em volta.

Anónimo disse...

Prezado Sr. Chacate Joaquim

O ensino bilingue está a ser experimentado há vários anos, e, embora não muito representativos no conjunto geral da população escolar do ensino básico, são muitos milhares os alunos que já o frequentam. Os primeiros, nesta altura, terão já (imagino) sido integrados no tronco comum do ensino geral e completado o segundo ciclo do ensino primário, pelo que se saberá de alguma forma, por exemplo, se valeu a pena terem passado por aquele sistema.
O que eu acho é que o trabalho de Manuel Lobo e Ismael Nhêze, que aprofunda bastante, e bem, o ensino geral monolingue, nos dá uma ideia muitíssimo superficial do ensino básico bilingue já existente, ficando muito pouco fundamentada a proposta – uma das que mais se destacam em todo o estudo - de o implementar (nos moldes em que está concebido, deduzo) para melhorar a qualidade do nosso ensino.
Conheço alguns estudos profundos já feitos para análise do ensino bilingue, nomeadamente com a participação do Dr. Feliciano Chimbutana há alguns anos atrás, e esperava obter no presente trabalho elementos actualizados, principalmente no que respeita à questão das ajudas de ensino/aprendizagem e ao desempenho dos alunos em termos de leitura, escrita e aritmética. Foi por isso que fiz uma leitura rápida e dirigida do documento.
Vamos, sim, ler o estudo e tirar dele o muito que também tem, de facto, para nos dar e ensinar.
Fátima Ribeiro

ricardo disse...

Fiz uma leitura transversal ao texto, mas já me apercebi de um aspecto capital.

Todo o sucesso do sistema gira em torno de vários intervenientes, como sejam, o Estado, os educandos, educadores e enacarregados de educação.

Em suma, responsabilidade dividida.

Admito que, de maneira limitada, a proposta que aqui é apresentada poderia dar resultados num grupo populacional que cumprisse com aqueles quesitos. Ora, percentualmente, gostaria de saber QUEM é está naquele grupo e qual é a sua taxa de sucesso. Felizmente, para mim, vi lá o Instituto Nília, que conheço bem. Mas ainda me lembro da elevada taxa de reprovações que esta escola teve no ano passado aquando dos exames de de Física, Matemática da 1ª época. Seria interessante saber agora se a tendência se inverteu e porquê.

Quando um consultor escreve que o "sistema DEVE" para isto e aqueloutro, é já uma advertência séria de que o que está sendo proposto está a anos luz da sua possível implementação.

Porque, notoriamente, a proposta em questão é inspirada no modelo Nórdico, onde como já bem nos descreveu Reflectindo, é funcional naquela realidade devido a todos os intervenientes a que os autores se referem e alguns aspectos muitissimo importantes no que tange à acção social escolar.

Nomeadamente, em relação à crianças com necessidades especiais, que os autores simplesmente ignoraram.

Penso que o erro que está ser cometido é generalizar soluções para todos os grupos populacionais, por isso, creio que o sistema deve ser aplicado APENAS, onde existir condições objectivas para tal. Mesmo porque, se o sistema de chumbos ainda estivesse em vigor noutras partes do mesmo, melhores estatísticas poderiam sustentar ou rejeitar as conclusões do trabalho em apreço.

De momento, estou a analisar a qualidade das estatísticas de que os autores se serviram para sustentar sua argumentação.

Prometo regressar em breve.

Anónimo disse...

Estimado Prof. e Estimado bloguistas.
Este lindo trabalho foi recomendado por MEPT e realizado por 2 Profissionais de Educação que já estão mencionados aqui. O MEPT merece uma menção e agradecimentos como detentores do trabalho. Um abraço

ricardo disse...

E porque não uma estátua de bronze e uma guarda de honra?!

Certa vez, tive a oportunidade de me cruzar em Lisboa com um velhote a caminho dos 80.

Conversamos longamente, e fiquei muito impressionado com a sua bagagem cultural e pensamento arguto, um espanto em Lisboa, onde normalmente as pessoas são muito sisudas.

Anos depois, vi a sua foto na RTP Internacional. Noticiavam que se chamava Agostinho da Silva e que acabara de falecer.

E dentre muitas coisas que fiquei a saber dele, era ser o maior filósofo Português do sec. XX, dono de um curriculum invejável, que nunca transpareceu e nem fez questão que lho reconhecessem.

Foi uma lição de vida. Nunca mais fui a mesma pessoa.

ricardo disse...

I- QUALIDADE DO ENSINO PRIMÁRIO EM MOÇAMBIQUE (Comentário)

Após um estudo exaustivo do trabalho em questão, conclui tratar-se um passo importante para a resolução do problema.

Todavia, há muitos pontos que merecem o meu comentário, porque desvalorizam as argumentações.

1. O trabalho estatísticos de fundo é inspirado em estatísticas do MEC, de duvidosa autenticidade, porquanto divergem das do INE, as quais, serão em minha opinião, mais completas. O trabalho de campo realizado peca por se ter centrado numa população urbana e do sul do país. Não fazendo sentido, referir-se à situação nas zonas centro e norte, baseado no que o MEC diz.

2. Chamou-me atenção o facto dos autores terem recorrentemente chamado atenção para a disparidade de Género - "...o deficit de Género na zona centro e norte, sobretudo nas zonas rurais(...) - justamente, onde nunca foram trabalhar. Mas não é preciso ser um génio para se concluir que, em média, é aos 13-14 anos que a Rapariga africana tem a sua primeira mentruação. E isso, é um sinal vital de que já está preparada para o casamento, o que inclui um rito de iniciação nas tarefas domésticas (cozinhar, lavar, cartar água, etc.). Pois afinal, numa família camponesa, ou tradicionalista islamizada, o que é mais importante para a sua filha? Um braço para trabalhar, ou um diploma? Um dote generoso, ou uma mulher dona do seu nariz? Estranho por isso, que as autoridades tradicionais, não sejam tidas nem havidas neste processo de implementação do novo sistema de Ensino. E os autores, não especificaram isto.

3- O problema do ensino bilingue bem pode ser minimizado se um actor importante for chamado a participar: as agremiações religiosas, as quais,possuem uma experiência secular de ensino religioso bilingue em Moçambique, o que poderia ser aproveitado para colmatar o hiato actual.

(Cont...)

ricardo disse...

II-QUALIDADE DO ENSINO PRIMÁRIO EM MOÇAMBIQUE

4 - Outrossim, porque como os autores reconhecem " resistência de certos pais, que acham que os seus filhos não irão falar bem Português", é uma preocupação ligítima, por isso, a questão bilingue deveria ser sempre OPCIONAL.

5- "A implementação do curriculum nem sempre é feita segundo o programa previsto e as instruções traçadas pelo PCEB, por razões diversas (...)". Ou seja, os autores reconhecem que se está a fazer omoletes sem ovos, porque a infra-estrutura que deve sustentar o sistema, está longe de estar preparada. Logo, convertendo, a adopção plena do sistema, um privilégio ELITISTA, só ao alcance das melhores escolas privadas e da zona sul de Moçambique. Então, porque não se propõem a sua interrupção? Porquê a insistência numa coisa que vai dar errado?

6- Não vi nenhuma tentativa - assim como já não havia visto nem uma linha sobre crianças com necessidades especiais - nada que demonstrasse que a Autarcização, é um factor a ter em conta no que tange ao finaciamento do ensino primário obrigatório. Também, não senti, para além do aumento do peso estatal, algum sugestão no sentido de criar condições para financiamento das escolas públicas por instituições privadas ou beneméritas, autonomamente, e sem a intervenção dos burocratas do MEC. Ou seja, os autores, clamam autonomia do ponto de vista do OGE, mas gestão centralizada de nível local. Ora isso, é um artifício jurídico para tudo ficar na mesma.

(Cont...)

ricardo disse...

III-QUALIDADE DO ENSINO PRIMÁRIO EM MOÇAMBIQUE

Finalmente, omissões importantes na contextualização do problema.

7- O PIB é um factor importante no cálculo das despesas da Educação. Mas, no caso do trabalho, deveria estar estratificado por províncias e se possível, distritos.

8- O mesmo em relação à população real que exerce uma actividade económica (os pais que sustentam filhos, os filhos que ajudam os pais, etc.), a partir dos 16 anos de idade, assim como a percetagem dos empregados e desempregados nesta faixa etária. Em teoria, o OUTPUT, após a conclusão do ciclo primário obrigatório.

9- Também, a estratificação da faixa etária em intervalos dos (18-64 anos) que estejam a frequentar o ensino primário obrigatório. Não se referem a isto.

10-Tambem queremos saber por grupos populacionais, raciais e por províncias, qual é a percentagem de pais que desejam que seus filhos atingam determinado nível de estudos e porquê(primário, profissionalizante, académico)? Os autores não problematizam esta questão.

11- O que são "20% do OGE(...)" que propõem? Como esta cifra é mensurável em função da percentagem do PIB destinado à Educação? E qual é a sua sustentação económica?

12- A formação contínua do Cidadão ( e não só dos docentes) cadê? Qual é a estratificação da população dos 16-64 anos e com nível primário obrigatório ou equivalente que faz cursos de formação para melhorar suas habilidades funcionais. E porque razão? Os autores irrelevaram esta questão.

13- Quando se está a falar da necessidade de contratar mais professores, afinal qual é a percentagem deste grupo profissional na população activa de Moçambique? Será isto irrelevante? É um bom investimento, até que ponto? A mim custa-me sentir que se está a formar alguém que não irá rentabilizar o investimento feito. E isto reflecte-se depois na qualidade dos educadores e seus educandos.

Em suma, um extenso rol de questões. Muitas outras ficaram por colocar, porquanto o trabalho foi limitado ao ensino primário.

Quer-me parecer que a fasquia foi notoriamente baixada dos 10 valores de média, para os 8. Um estrategema que alguns políticos acharam ser apelativo para impressionar os doadores. Mas não chega.

Cresce em mim a ideia que já havia colocado ao Reflectindo e que se baseia nas premissas de que a Educação tem custos que não poderão acompanhar o crescimento demográfico da população, nomeadamente, infra-estruturas, material didáctico e afins. Por isso, é dever do Cidadão, compartilhá-los. E mesmo que os Estado tivesse esse poder, limitações físicas e em recursos humanos iriam comprometer esse obejectivo. Finalmente, a Educação nunca será para todos. Do mesmo modo que há pobres e ricos, também haverá os que mais sabem do que os outros.

Teorizar contra isto, pura demagogia.

Tenho Dito.

Unknown disse...

ricardo

posso não ser a pessoa autorizada para me referir ao facto de o problema de analisar a educação ser a sua complexidade, o que nos obriga a analisar de forma seguimentada. veja que o broblema do ensino pode começar no ensino básico mas pode haver problemas estruturais aos níveis de cima que quebrão todo um sistema em termos qualitativos.

"O problema do ensino bilingue bem pode ser minimizado se um actor importante for chamado a participar: as agremiações religiosas, as quais,possuem uma experiência secular de ensino religioso bilingue em Moçambique, o que poderia ser aproveitado para colmatar o hiato actual." como? para melhor participação sugiro a revisão da alínea d) do artigo 1 da Lei 6/92 de 6 de Maio, sem prejuiso das alíneas anteriores. ainda poderá ver o "Estatuto axiológico de educação do Professor Severino Nguenha" creio que aqui centra-se aproblemática da sua sugestão.

Não sei se o regulamento de comentários da casa me permite, mas é em relação à legítima preocupação da Prof. Fátima Ribeiro, isso é que se chama acompanhar a evolução da coisa, aliás, as equipas de Monioria e Avaliação deveriam trazer os relatórios ao público, por exemplo eu particularmente participei em muitos debates sobre o bilinguismo acitar os orienados pelo professor Armindo Ngunga no entano esse que contou com a participação do Dr. Chimbune, seria inetessante ver, talvez daí pode se dar mais subsídios sobre o estágio actual do processo.

obrigado