"O melhor que alguns nomes do poder me deram foi: três prisões, três desempregos - um deles durante mais de cinco anos -, fome e morte lenta."
Heliodoro Baptista morreu esta noite no Hospital Provincial da Beira. Jornalista, crítico, irreverente, um dos maiores poetas de língua portuguesa no mundo, poemas traduzidos em várias línguas, meu colega nos anos 70 no "Notícias da Beira". Confira aqui, aqui e aqui. Leia uma entrevista que ele deu em 2003 a Rogério Manjate aqui. Neste blogue há várias postagens sobre ele, a última das quais aqui. Um abraço de fraternidade para os filhos e para a Celeste.
Paz à sua alma.
Paz à sua alma.
Um poema seu:
Como um cão
Como um cão curvo-me
e procuro ler nas marcas
que a noite não pôde
recolher o tempo.
Anima-me a superfície fabulária
onde o olhar do dia revolve
o que foi alvoroço vida
ou sinal ténue.
Detenho-me na pegada junto à cama
e a mão precavida incha a memo'ria
nenhuma sensação acende
o que já está perdido.
(Perdidos os meus passos? A minha voz?
é assim tão terrível o amor ao homem?
a justiça foi calcinada em que ritual?)
Pouso então devagarinho
o ouvido na parede húmida
e eis que uma sombra volta-se
num largo aceno de simpatia.
Na paz indizível sopra
a fina aragem desanoitecida
a leve impressão
de um cochichar
uma porta entreaberta
onde pulsa uma esperança.
(Ontem já foi passado e o minuto que vem já é futuro).
Inhaminga-87
Como um cão
Como um cão curvo-me
e procuro ler nas marcas
que a noite não pôde
recolher o tempo.
Anima-me a superfície fabulária
onde o olhar do dia revolve
o que foi alvoroço vida
ou sinal ténue.
Detenho-me na pegada junto à cama
e a mão precavida incha a memo'ria
nenhuma sensação acende
o que já está perdido.
(Perdidos os meus passos? A minha voz?
é assim tão terrível o amor ao homem?
a justiça foi calcinada em que ritual?)
Pouso então devagarinho
o ouvido na parede húmida
e eis que uma sombra volta-se
num largo aceno de simpatia.
Na paz indizível sopra
a fina aragem desanoitecida
a leve impressão
de um cochichar
uma porta entreaberta
onde pulsa uma esperança.
(Ontem já foi passado e o minuto que vem já é futuro).
Inhaminga-87
Adenda 1: Heliodoro foi vítima de uma paragem cardíaca. Intuo que agora, morto Helio (como lhe chamávamos), irão surgir aqueles que, odiando-o em vida, lhe tecerão homenagens ditirâmbicas.
Adenda 2 às 11:17 de 03/05/09: o "domingo" de hoje reporta em caixa (p. 16) o falecimento e escreve que Heliodoro era "Conhecido pelas suas posições extremadas". Infelizmente o jornalista que escreveu a notícia não nos disse o que entendia por "posições extremadas", não nos disse que situações extremadas podem ter contribuído para tudo aquilo que, anos a fio, humilhou e eventualmente encurtou a vida de Heliodoro Baptista.
12 comentários:
Professor,
Gostaria de o ter conhecido.
Os mais profundos sentimentos 'a familia.
"A morte 'e tao necessaria para o crescimento do homem assim como a vida em si"- Mahatma Gandhi
Abdul Karim
Grande poeta, sem dúvida. Que repouse em paz.
M.
...Tou triste, chocado,perdemos o maior poeta contestatário moçambicano, consciente voz, nunca a voz do dono!
Pagou com seu auto-exílio dentro do próprio país ,o nunca ter pactuado com a mentira, com a polítilização oportunista das letras no tempo do marxismo...
..cahora bassa o seu poema épico,lindo!
Condolências à familia e que as musas o recebam com honras de principe das letras...
Saudades bro!!!!
Tóxico
Conheci o Hiliodoro quando fui director provincial de Educação de Sofala entre os anos 1990 e 1993. Lamento não ter escutado tudo o que me disse! Mas também reconheço que nem podia!
Mas acho que o ouvi em muitas ocasiões. Neste momento triste, quero dizer que lamento profundamentente a sua morte porque era um HOMEM! E isso é o que falta hoje em dia! Perdemos um Homem! uma pessoa empenhada e preocupada com a vida de todos.
Espero que tenha o descanso que em vida nunca teve!
Meus pêsames à família!
Manuel Lobo
Notícias que nunca queremos receber.
Não faz muitos dias que voce me fez recordar o nome dele.
Se tiver a oportunidade, agradeceria-lhe muito que pudesse repassar os pêssames à família.
Zé Paulo
Far-lhos-ei chegar.
Caro professor, será que os média, as Universidades, o governo,a associação dos escritores , etc homenagearão o Heliodoro como ele merece?
...ou assistiremos sim , aos países lusofonos a fazê-lo por nós??
O Heliodoro merecia a bandeira a meia haste!!
... mas apenas o poeta-mor Craveirinha pareçe existir nas mentes lerdas deste país...
A sua obra ,a sua postura como homem vertical,bem que mereciam mais...
Tóxico
Conheci Helio durante muitos anos, segui o seu trabalho como poeta e, até, contista, fui seu camarada enquanto jornalista, julgo saber bem do seu imenso valor. Vamos a ver o que irão fazer, vamos a ver mesmo.
Meus sentidos pesames aos familiares e amigos de tão grande personagem.
Jornalista, contista e poeta excelente foi colocado na margem da vida pelos que mandam devido ao seu caracter irreverente de nuna vergar quando se tratasse de defender os seus ideiais. Infelizmente restam no nosso pais poucos homens assim, particularmente na area de jornalismo onde os jovens que surgem vivem correndo pelas migalhas que vão caindo do grande banquete ao inves de defenderem a sua honra e ideiais.
Que surjam homens que peguem a sua pena!
Cada um de nos que escreve aqui a comentar a morte deste homem devia sentir-se na obrigacao de pegar a sua pena. NADA DE ESPERAR O MARTIRIO DOS OUTROS (PARTICULARMENTE DOS JOVENS JORNALISTAS). A coragem devia vir de cada um de nos.
Conheci Heliodoro ainda criança pessoalmente deixei de o ver desde os 10 anos. Ainda mandei muitos livros daqui de portugal para moçambique.
Que pena. Já não pude retomar o contacto com ele.
Um abraço Heli onde quer que estejas.
Ana Paula
eu sou filho do helio.tambem chamo-me heliodoro estou a lutar pela memoria dele.A memoria de um heroi, a qual foi sempre foi escrita de uma forma indirecta e nao directa.tenho muitas provas que vou publica.tou a espera de patrocinio.A qual e dificil
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