Prossigo a série.
Temos, assim, o Zimbabwe refém dos “guardiões da revolução e da independência” (como dizem os veteranos de guerra da ZANU-PF) e de uma sistemática criminalização da oposição, considerada pelo regime no poder responsável pela violência no país.
Como explicar o silêncio, a cumplicidade da quase totalidade dos membros da União Africana perante o que se passa no Zimbabwe?
Coloco-vos três hipóteses: a do companheirismo africano, a do camaradismo político e a do parceirismo da mão estrangeira. Vou tentar meter-me dentro de cada uma delas e dos seus defensores públicos e privados.
Comecemos pela primeira.
Como explicar o silêncio, a cumplicidade da quase totalidade dos membros da União Africana perante o que se passa no Zimbabwe?
Coloco-vos três hipóteses: a do companheirismo africano, a do camaradismo político e a do parceirismo da mão estrangeira. Vou tentar meter-me dentro de cada uma delas e dos seus defensores públicos e privados.
Comecemos pela primeira.
Não somos Africanos? Não fomos colonizados? Não são ainda recentes as nossas independências? Não temos provas sistemáticas de como o Ocidente nos olha ainda com desprezo, nos continua a roubar as riquezas e a pagar o mínimo por elas? Não são brancos os farmeiros que estavam e estão no Zimbabwe, filhos pródigos da Grã-Bretanha, herdeiros físicos do colonialismo, explorando a nossa terra, a terra do nossos antepassados, a terra do nosso sangue? Não foram os irmãos da ZANU, dirigidos pelo irmão Mugabe, quem trouxe a independência e a liberdade ao Zimbabwe? Que direito temos nós de culpar os nossos irmãos africanos do Zimbabwe das pequenas falhas de percurso que têem tido, falhas provocadas e agigantadas pelo Ocidente, Ocidente que tem imposto sanções severas, privando o Zimbabwe do funcionamento normal da sua economia e sujeitando o seu povo à pobreza? O nosso irmão Robert Mugabe é um herói, não é? Estamos de acordo com essas palavras do irmão Omar Bongo do Gabão, ele que tem uma grande e prudente sabedoria adquirida em 41 anos de poder justo. Por isso recebemos bem o irmão Mugabe na cimeira do Egipto. E se os irmãos da ZANU estão hoje um pouco melhor do que estavam antes da independência, qual a razão por que não deveriam estar assim, mais ricos? Não sofreram? Não merecem ter o fruto da sua luta? Deveriam continuar pobres como antes? Os Africanos não merecem enriquecer? Come on brothers!
Temos as nossas tradições, a nossa maneira Africana de ser, não é? Ali no Zimbabwe, como nos nossos países, os nossos irmãos estão confrontados com o dilema de terem de fazer eleições à europeia para poderem ter ajuda das instituições financeiras euro-americanas, BMs, FMIs, etc. Ora, nós não estávamos (nem nos acostumamos) habituados a esse tipo de teatro, tínhamos a nossa democracia, entendíamo-nos bem. Por isso, irmãos, apenas temos de ajudar os irmãos do Zimbabwe a entenderem-se, a partilhar o futuro, a dirigirem com equanimidade o Estado, há sempre lugar para todos, há sempre um prato para alguém na nossa solidariedade. Os nossos nossos irmãos do MDC ainda não comeram, têm fome, nada custa dar-lhes um prato. Afinal, o problema está nas eleições que nos impõem. Portanto, façamos eleições e depois façamos acordos, vamos pôr de pé o governo da unidade nacional, a bem dos nossos povos. Afinal, irmãos, pouco custa darmos o nosso selo a esse jogo das eleições: continuaremos a estar em cima se soubermos distribuir alguns pequenos pratos em baixo no momento certo. E não devemos nunca esquecer que os feiticeiros estão em Londres e em Washington. Come on brothers!
Temos as nossas tradições, a nossa maneira Africana de ser, não é? Ali no Zimbabwe, como nos nossos países, os nossos irmãos estão confrontados com o dilema de terem de fazer eleições à europeia para poderem ter ajuda das instituições financeiras euro-americanas, BMs, FMIs, etc. Ora, nós não estávamos (nem nos acostumamos) habituados a esse tipo de teatro, tínhamos a nossa democracia, entendíamo-nos bem. Por isso, irmãos, apenas temos de ajudar os irmãos do Zimbabwe a entenderem-se, a partilhar o futuro, a dirigirem com equanimidade o Estado, há sempre lugar para todos, há sempre um prato para alguém na nossa solidariedade. Os nossos nossos irmãos do MDC ainda não comeram, têm fome, nada custa dar-lhes um prato. Afinal, o problema está nas eleições que nos impõem. Portanto, façamos eleições e depois façamos acordos, vamos pôr de pé o governo da unidade nacional, a bem dos nossos povos. Afinal, irmãos, pouco custa darmos o nosso selo a esse jogo das eleições: continuaremos a estar em cima se soubermos distribuir alguns pequenos pratos em baixo no momento certo. E não devemos nunca esquecer que os feiticeiros estão em Londres e em Washington. Come on brothers!
1. ª adenda às 16:36: leia que, segundo a versão online do The Washington Post, Robert Mugabe disse no dia 30 de Março e saiba o que foi o CIBD, aqui. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.
2.ª adenda às 18:40: no fim da sua habitual crónica de domingo no semanário "Domingo", Sérgio Vieira, membro sénior da Frelimo, escreveu o seguinte em relação ao Zimbabwe: "Alguns criticam o nosso silêncio como Estado diante da orgia de desmandos. Há um silêncio, sim, há orgia de desmandos, sim, mas que fazer? Abraço à prudência e cautela, à influência possível nas acções discretas." (p. 5).
3.ª adenda às 18:49: leia também este trabalho de Godwin Murunga (professor de História na Universidade Kenyatta, Nairobi, Quénia) no The EastAfrican. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
4. ª adenda às 19:28: Muitas jovens engravidadas em campos de tortura de Mugabe, segundo o The Australian: confira aqui.
5.ª adenda às 19:57: O Zimbabwe enfrenta a sua mais grave ameaça de fome desde 1980, devido às fracas colheitas. Confira aqui. Preparemo-nos em Moçambique para uma possível vaga de refugiados.
13 comentários:
The current behaviour of the military Junta in Zimbabwe is not different from that of the Chile(Chief: General Augusto Pinochet) and Argentina(Chief: General Jorge Rafael Videla) military Juntas, 35 years ago.
Um sério problema lá, sem dúvida.
A "liberdade" pela qual lutou Mugabe - que muitos ainda apreciam pelo seu passado - aí está, nesse panorama geral de repressão e fome num país que ainda recentemente era modelo na produção alimentar. Com as orgias de desmandos a ocorrerem e os comrades africanos aplaudindo ou acenando enquanto vêem a banda a passar, que mais estará opara vir?
Um problema muito delicado que - creio - se agrava dia após dia. Ainda não sei qual o resultado da nova mediação de Thabo Mkebi no Zimbabwe.
Pois é. Segundo nos ensina Carlos Serra, o exercício do poder pelos africanos se resume em !"comer". Esta visão no mínimo paternalista que alguns projectam sobre África não difere da que vigorava há 50, 60 anos atrás.
Pretende-se projectar a imagem de que, diferentemente do que acontece em outras latitudes, a mente africana é incapaz de processar algo grande. Que o sentido de missão, a visão de um mundo melhor que caracteriza os políticos de outras latitudes não pode vingar em África. Aqui é só COMER!
Por outro lado, porque não aceitar, simplesmente, que os africanos achem justas as medidas que Mugabe tomou de tentar eliminar as assimetrias raciais na posse da terra no Zimbabwe? Muitos africanos pensam justamente desta maneira e isso não tem nada a ver com o tal "comer".
Vamangue
Um individuo megalómano destroi um país. Ninguem provido de bom senso esta contra a reforma agrária empreendida pelo Sr. Mugabe, ela é necessária para corregir erros do passado, talvez a forma como foi feita e a quem benefeciou é que levante discordias.
Me constrange a noticia de que o Governo de mOçmabique ou o Partido Frelimo( não sei bem ao certo) congratularam a ZANU e o Sr. R. Mugabe pela vitoria nas eleições. é no minimo surrealista! Estou bastante apreensivo com o que se ira passar no nosso pais , com as nossas eleições.
Morgan Tsvangirai não foi à negociação de sábado com a ZANU (cf "The Herald" do Zimbabwe), comu previa (ler editorial do "Savana"aqui no diário.
Vamangue, tanto elogio à reforma da terra de Mugabe! A intenção e o objectivo por si não justificam o modelo, nem os meios, nem o momento escolhido.
De que serve a reforma da terra de Mugabe? Irão agora os zimbabweanos comer (= alimentar-se de)... terra? Acha que os zimbabweanos irão viver como viviam antes da reforma a curto/médio prazo? Os bigs comrades, sem dúvida, mas e os outros muitos, muitíssimos por cento?
Caro Anónimo, acha mesmo que o Zimbabwe está como está porque, de repente, Mugabe desaprendeu a ciência de gerir um país?
O mesmo Mugabe que, alguns anos atrás, produziu a chamada joia de África? Devia pensar um pouco no sentido de descobrir o que manietou o Zimbabwe. Quando se deixou de elogiar Mugabe como um exemplo de líder africano? Não foi quando se impacientou e decidiu que os Zimbabweanos de todas as raças deveriam se beneficiar do recurso terra? É pena que alguns de nós caiam no jogo da propaganda racista, segundo a qual os negros são incapazes de rentabilizar uma farma.
Vamangue
E Vamangue ignora como e porque Mugabe comecou com esse populismo?
E vais nos dizer que fraude eleitoral, a tortura aos zimbabweanos visa à implementacão da política de reforma de terras. Até Jorge Rebelo reconheceu que Mugabe usou tal reforma para reganhar a popularidade.
Oito anos depois dessa política que na sua essência foi dar terras aos seus próximos, militares, porquê Zimbabwe mergulhou numa crise económica?
A verdade é que a maioria dos líderes africanos, estão interessados em comer. Aqui nao se refere aos povos africanos, atencão com esse jogo que é próprio dos tiranos. OS TIRANOS NÃO REPRESENTAM AOS POVOS AFRICANOS.
Vamingue não vai me dizer que viu como Robert Mugabe comsumou uma fraude eleitoral.
Foi Mugabew que produziu a jóia de África?????????????????????
Essa é mesmo boa!
Fraude? Qual fraude?
...o sonho de Africa economicamente retornar âs mãos dos africanos ainda está a muito anos de se realizar,infelizmente.
A razão deve ser superior aos impetos primários...penso que os governos africanos deviam em vez de concentrarem as atenções nesse sentido fazer outras coisa muito mais importantes quanto a mim:
apostar muito, mas muito a sério na educação,não no tipo de ensino do desenrasca que por cá se vê; apostar em desenvolver os seus países a sério,agricultura,tecnologias,etc
...mesmo que se ofereçam grandes condições a profissionais de países desenvolvidos ,para que eles não venham contratados mas sim para se radicarem...
são apenas algumas ideias,apenas!!!!
pensar que os países africanos se irão erguer sózinhos é loucura surreal, infelizmente...
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