A foto acima foi tirada há poucos dias por Matateu Ubisse numa das salas de aula da Escola Secundária do Ribáuè, província de Nampula, tendo-me sido enviada por IC. Num país cheio de madeira como o nosso, temos carteiras feitas de blocos; temos dinheiro para comprar utensílios e veículos de guerra, mas não para comprar carteiras para os nossos alunos. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.
Adenda às 07:07: sugiro leiam o comentário nesta postagem de um leitor, aqui.
Adenda 2 às 07:19: caso a Prof.ª Fátima Ribeiro passe por aqui, pode fazer um comentário?
Adenda 3 às 12:43: agradeço à Fátima Ribeiro a correção que fez, pois escrevi Zambézia em lugar de Nampula. Erro já emendado.
5 comentários:
É de facto confrangedora a descoordenação existente mas em vez de reparo deve merecer aplauso atendendo ao facto de que só de há cerca de 37 anos é que o Povo é dono do seu destino e mesmo assim vivendo debaixo de fortes condicionantes motivados por 16 anos de ataques armados.
Atendendo ao facto de que em 1976 Moçambique não tinha quadros porque os portugueses ocupavam todas as tarefas intelectuais e de natureza organizativa e administrativa a todos os níveis desde medicina, arquitectura, construção civil e obras públicas gestão e contabilidade, engenharia, tudo era gerido pelos portugueses.
Conseguir coordenar o sector das madeiras com o sector educativo é uma tarefa de muitas décadas e que muitas vezes falha até nos países desenvolvidos. É frequente em cidades como Lisboa, por exemplo, haver uma descoordenação total e abrem valas para passarem os canos da água. Tapam e depois abrem valas porque vem a companhia dos esgotos e tapam e abrem novos buracos porque vêm os telefones que também querem passar os seus fios subterrâneos e depois eternamente vem o gás e vêm as TVs cada uma com os seus próprios buracos e toda a gente se ri porque as ruas estão sempre esburacadas e isto acontece em Lisboa que é uma cidade que em si mesma é geradora de progresso a nível mundial com por exemplo pela forma como se passam as portagens sem haver necessidade de se parar para se pagar e os estrangeiros que visitam Portugal ficam perplexos com esta genialidade. A própria América tem vindo a adquirir tecnologia portuguesa mais o sistema bancário e os cartões Multibanco que são criação portuguesa, etc. e mesmo assim a descoordenação persiste sem fim à vista e em muitos outros sectores de muitas outras actividades quer públicas quer privadas. Não se compreende que Portugal importe peixe e até cortiça quando tem tanto mar e que exporta esse material porque também há razões económicas obscuras que às vezes é difícil explicar.
Por isso em vez de se chorar olhando para os bancos da escola de Ribaué feitos de blocos eu sorrio de satisfação por ver como os moçambicanos estão empenhados de forma engenhosa em ultrapassar as dificuldades. Lá virá o tempo em que a planificação dará os seus fruto
Cumprimentos
Professor, eu também, embora critique a distribuição do orçamento nacional, não tenho nada contra essas carteiras, como vai ver pelas vantagens que lhes aponto:
1. Podem ser feitas no próprio local, com material local (tijolo-burro) e mão-de-obra também local, até pela própria comunidade escolar.
2. São carteiras que se podem fixar ao chão, o que resolveria o velho, generalizado e grave problema do roubo sistemático que se verifica nas escolas estatais.
3. Parece-me que o aluno se senta numa delas e usa a parte superior das costas da que se encontra à sua frente para escrever. É isso? Se sim, não me parecem nada cómodas, mas talvez sejam melhor solução do que ter os alunos sentados no chão e a escrever também no chão, como tem acontecido.
Mas a propósito de “soluções populares”, vou mandar-lhe uma fotografia de uma outra alternativa que ainda na década de 70 a minha escola, igualmente em Ribáue, achou para resolver o problema não só das carteiras mas também das salas de aula: salas de construção tradicional melhorada e carteiras feitas de troncos e bambu. Assim dei eu aulas à turma da 7ª classe que se vê na foto em 1979, entre outras. Tudo feito por nós próprios, professores e alunos da escola, com material recolhido e adquirido no distrito. Esta parece-me ser uma boa solução para no meio rural acabarmos com salas debaixo das árvores e alunos sentados no chão.
Agora,Professor, uma chamada de atenção para um erro que cometeu por distracção. Escreveu "Zambézia" em vez de "Nampula".
Um abraço.
Obrigado pelas contribuições.
São bonitas as iniciativas mas deixam de ser um paradoxo num pais de recursos em madeira tão vastos.
E na senda de iniciativas, vi na região de Matsinho em Gondola, nos 80, uma escola ser construída com buraquinhos em lugar de janelas, alegadamente porque se roubavam a janelas. E outra concebida sem casas de banho porque"eles não têm nas suas casas" . Ambas as escolas estavam a ser construídas com financiamento europeu por duas ONG s. Europeias.
Julgo não ter deixado claro que as carteiras a que acima me refiro são "soluções" possíveis, sustentáveis e provisórias, para situações em que tardam ou não se conseguem concretizar outras soluções mais eficazes, mais duradouras, e até mais bonitas e ergonómicas.
Bem ridículas, no mínimo, as outras situações que aponta, Nachingweya, concordo consigo!
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