Foi Eduardo Mondlane quem, melhor do que ninguém, enunciou no país os termos da troca política, da justiça social e, afinal, da democracia real: os cidadãos só participam num projecto político se o Estado for um parceiro redistribuidor. É por essa via que se adquire legitimidade, é por aí que verdadeiramente toma corpo o capital directivo. Na verdade, a Frelimo enfrentou nos anos 64/66, os dois primeiros da luta armada, o seguinte problema, narrado por Mondlane:
“O vazio deixado pela destruição da situação colonial pôs um problema prático que nunca tinha sido considerado pelos chefes: o desaparecimento duma série de serviços inerentes à dominação portuguesa, especialmente serviços comerciais, enquanto o povo continuava a existir e a necessitar deles. A incapacidade da administração colonial deixava também muitas necessidades insatisfeitas, que continuavam a ser fortemente sentidas pelas populações. Assim, desde as primeiras vitórias de guerra, recaíam sobre a FRELIMO muitas e variadas responsabilidades administrativas. Uma população de 800 000 habitantes tinha de ser servida. Primeiro e acima de tudo, havia que satisfazer as suas necessidades materiais, assegurar abastecimentos alimentares, e outros artigos, como vestuário, sabão e fósforos; serviços de saúde e educação, sistemas administrativos e judiciais. [Durante algum tempo, o problema foi agudo. Não estávamos preparados para o trabalho que tínhamos pela frente, e faltava-nos experiência na maioria dos campos em que necessitávamos dela. Nalgumas áreas, as carências eram muito sérias; e onde os camponeses não compreendiam as razões, retiravam o seu apoio à luta e, nalguns casos, partiam mesmo definitivamente.” [Mondlane, Eduardo, Lutar por Moçambique. Lisboa: Sá da Costa, 1977, 3a ed., p.185]
“O vazio deixado pela destruição da situação colonial pôs um problema prático que nunca tinha sido considerado pelos chefes: o desaparecimento duma série de serviços inerentes à dominação portuguesa, especialmente serviços comerciais, enquanto o povo continuava a existir e a necessitar deles. A incapacidade da administração colonial deixava também muitas necessidades insatisfeitas, que continuavam a ser fortemente sentidas pelas populações. Assim, desde as primeiras vitórias de guerra, recaíam sobre a FRELIMO muitas e variadas responsabilidades administrativas. Uma população de 800 000 habitantes tinha de ser servida. Primeiro e acima de tudo, havia que satisfazer as suas necessidades materiais, assegurar abastecimentos alimentares, e outros artigos, como vestuário, sabão e fósforos; serviços de saúde e educação, sistemas administrativos e judiciais. [Durante algum tempo, o problema foi agudo. Não estávamos preparados para o trabalho que tínhamos pela frente, e faltava-nos experiência na maioria dos campos em que necessitávamos dela. Nalgumas áreas, as carências eram muito sérias; e onde os camponeses não compreendiam as razões, retiravam o seu apoio à luta e, nalguns casos, partiam mesmo definitivamente.” [Mondlane, Eduardo, Lutar por Moçambique. Lisboa: Sá da Costa, 1977, 3a ed., p.185]
3 comentários:
O discurso de Samora Machel a 8 de Março de 1977 é justamente a transposição do dilema da Zona Libertada reflectida por Mondlane para o Estado Independente, configurando a genese da conhecida mas mal reconhecida Geração 8 de Março.
Conhecida porque irrefutavelmente garante da normalidade funcional do Estado desde a aurora da autodeterminação nacional mas mal reconhecida porque apesar do sangue, suor e amor despendidos muitos dos seus membros se encontram ostracizados e alguns nem sequer casa possuem.
Sem uma AK47- muitas vezes vitimas dela- estes são os libertadores do Estado na sua função de gestão do solo pátrio independente. Preenchendo a vaga do funcionario colonial credibilizam a liberdade e autenticam anonimamente a heroicidade dos libertadores da Patria.
No entanto, o Sistema reconhece como prestador de serviço excepcional à nação àqueles que empunharam armas letais- não importando o lado- mas não a estes que se constituiram na solução do dilema da libertação por substituição de capacidades de gestão. É assim que, por exemplo, a soldados formais e informais se concede bónus de tempo para contagem para a aposentação mas nada disso a estes bravos jovens de 77, alguns dos quais até foram desonrosamente expulsos do Estado através de processos disciplinares inconsistentes e pouco transparentes.
A Associação da Geração 8 de Março? Foi apenas um cavalo de batalha para as intenções pré 10º Congresso da Frelimo de alguns situacionistas; Goradas as intenções face golpes congressistas bem superiores, a associação passou de embrião a aborto. Ou nado-morto já que tem escritura!
A dúvida dos beneficios da liberdade que assaltou o campones quando ficou sem onde comprar sal e fosforo por fuga ou morte do colono que garantia a comercialização talvez nos esteja a explicar quão sustentável pode ser a emergência do MDM num momento em que a Frelimo libertadora não está a gerir com senso bom a distribuição dos recursos de poder. Cada erro da Frelimo é um grão para grão a grão o Galo encher o papo... a não ser que uma bala perdida resolva um problema político. Não seria a primeira vez.
Os tempos são diferentes hoje, a luta armada acabou há muito tempo, hoje ninguém dos libertadores dirá que há problemas, apenas diz que há sucessos. Se aventurar dizer que há problemas, logo lhe saltarão em cima os camaradas dizendo que ele é um vendido da oposição.
Bom dia! Nas minhas locuções, tenho para mim tentado dizer que esta reflexão sera bem aproveitada quando a sociedade(o povo) nutri-la como o sentimento que o acompanha no dia a dia, pois, não obstante as balas que se perdem, é preciso ter uma atitude que passa pela acção e não pela omissão, é preciso saber esquivar a bala perdida em vez de evitá-la porque é um erro de cálculo tentar evitá-la e podem levar à emboscadas: as balas quer de chumbo, de borracha ou de madeira..., sempre serão perdidas enquanto as armas por onde são projectadas existirem.
Portanto, a minha preocupação é descobrir a fórmula de despertar a sociedade(o povo) no sentido de não deixar os seus destinos e a sua história, incluindo das gerações que a seguirão, serem ofuscados por minorias "freaks" (aberrações), que a todo o custo sacrificam a razão e fim último da política e do Estado: a felicidade humana!
Mais não disse.
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