Nono número da série. Ontem, na adenda 14 do Diário de campanha (8), dei conta de uma notícia lacónica sobre "observadores eleitorais que escaparam a confrontos na Beira", aqui. Hoje, graças a um leitor deste diário, o AT, pude acessar o testemunho de um desses observadores, Elisabete Azevedo, publicado na sua página do Facebook, tal como segue:
Elisabete Azevedo partilhou uma ligação.
"Nós estamos bem.
Escrevo este post com pesar e faço-o violando a minha própria regra. Tinha determinado que não iria escrever no Facebook durante a minha participação na equipa técnica de observação eleitoral às eleições municipais em Moçambique. Hoje, os acontecimentos que presenciei e vivi fizeram com que tenha recebido variadas mensagens de preocupação e, por isso, entendi que devia escrever este post a agradecer as mensagens e a dizer que tanto eu como o meu colega de equipa Luís Jimbo estamos bem.
Hoje, pelas 16h, enquanto observávamos o comício de encerramento da campanha do MDM, na Beira, iniciaram-se tiros, perturbação e a polícia disparou gás lacrimogéneo. Nós próprios fomos apanhados pelo gás. A população corria em pânico. Não tenho dados oficiais, mas creio que poderá ter havido mortos provocados pelo desespero de centenas de pessoas em fuga.
Nós escondemo-nos debaixo do camião que fazia de palco e fugimos mais tarde a pé.
Com os olhos vermelhos e a chorar do gás e no meio da confusão, ainda fui socorrida por quem estava pior que eu… Um grupo de senhoras velhas usava água para aliviar os olhos. Tinham apenas um pequeno alguidar, mas mesmo assim insistiram em lavar-me e, quando partíamos, decidiram que, da pouca água que tinham, devíamos levar uma garrafa.
Nós não falávamos. Mantivemo-nos sempre em silêncio, rodeados pelos gritos dos outros que fugiam e pelo som dos tiros. Só me lembro da mais velha me dizer “tens de lavar os olhos” e com o seu próprio lenço lavou-me o rosto. Confesso que aqui as minhas lagrimas reais misturavam-se com as lágrimas do gás."
Escrevo este post com pesar e faço-o violando a minha própria regra. Tinha determinado que não iria escrever no Facebook durante a minha participação na equipa técnica de observação eleitoral às eleições municipais em Moçambique. Hoje, os acontecimentos que presenciei e vivi fizeram com que tenha recebido variadas mensagens de preocupação e, por isso, entendi que devia escrever este post a agradecer as mensagens e a dizer que tanto eu como o meu colega de equipa Luís Jimbo estamos bem.
Hoje, pelas 16h, enquanto observávamos o comício de encerramento da campanha do MDM, na Beira, iniciaram-se tiros, perturbação e a polícia disparou gás lacrimogéneo. Nós próprios fomos apanhados pelo gás. A população corria em pânico. Não tenho dados oficiais, mas creio que poderá ter havido mortos provocados pelo desespero de centenas de pessoas em fuga.
Nós escondemo-nos debaixo do camião que fazia de palco e fugimos mais tarde a pé.
Com os olhos vermelhos e a chorar do gás e no meio da confusão, ainda fui socorrida por quem estava pior que eu… Um grupo de senhoras velhas usava água para aliviar os olhos. Tinham apenas um pequeno alguidar, mas mesmo assim insistiram em lavar-me e, quando partíamos, decidiram que, da pouca água que tinham, devíamos levar uma garrafa.
Nós não falávamos. Mantivemo-nos sempre em silêncio, rodeados pelos gritos dos outros que fugiam e pelo som dos tiros. Só me lembro da mais velha me dizer “tens de lavar os olhos” e com o seu próprio lenço lavou-me o rosto. Confesso que aqui as minhas lagrimas reais misturavam-se com as lágrimas do gás."
(continua)
Adenda às 05:08: analisando o que a imprensa digital e as redes sociais mostram dos programas e das promessas dos candidatos a edis das nossas cidades, rapidamente se verifica que estamos perante candidatos-aspirina. Recorde o que isso significa aqui.
Adenda 2 às 07:31: generaliza-se em certos jornais digitais e nos blogues parasitas do copia/cola/mexerica a expressão "última hora", designadamente para reportar acontecimentos de tensão social. É como se a urgência tivesse tomado conta de muitos e o normal tivesse sofrido um eclipse. Artilharia do símbolo, diria Roland Barthes.
Adenda 3 às 15:23: no Boletim sobre o Processo Político em Moçambique (43), com data de hoje, editado por Joseph Hanlon (amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato):
Adenda 4 às 15:30: sobre como acordou hoje o Bairro da Munhava na cidade da Beira, aqui.
Adenda 5 às 16:37: confira este trabalho aqui.
Adenda 2 às 07:31: generaliza-se em certos jornais digitais e nos blogues parasitas do copia/cola/mexerica a expressão "última hora", designadamente para reportar acontecimentos de tensão social. É como se a urgência tivesse tomado conta de muitos e o normal tivesse sofrido um eclipse. Artilharia do símbolo, diria Roland Barthes.
Adenda 3 às 15:23: no Boletim sobre o Processo Político em Moçambique (43), com data de hoje, editado por Joseph Hanlon (amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato):
Adenda 5 às 16:37: confira este trabalho aqui.
3 comentários:
No tocante à sra Elisabete, só dizer que a solidariedade não tem raça. No tocante ao que se passou na Beira, uma pouca vergonha, mas também só mostra que o partido no poder está inquieto.
Inquieto é favor. Isto é insanidade pôs 10 Congresso.
PS:vi ontem o sr mazanga da Renamo.esta com olheiras de grande preocupação. Consciência ou medo?
A multidão presente assustou os que sempre se consideram vencedores. "É ou não é?"
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